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Poesias-->DISPERSO AMOR -- 17/02/2002 - 00:24 (Flávio José de Almeida) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DISPERSO AMOR



1)

Difícil tarefa alimentar este fogo.

Tarefa, não: missão. Por demais custosa.

Fico admirado comigo diante da chama.

Reluzente, meu rosto é quente.

Sua temperatura acende brilhos,

fulgurantes incêndios...

Noites se desfazem em mim, aquecidas

todas as súplicas, minhas injúrias...

O fogo me queima o peito. Arde.

Ó amor, incinera-me,

torna-me cinzas, traz o vento,

sopra-me (não me alivia),

espalha-me, me leva...



2)

Incansável, incansável...

Bater de coração insondável, coração

de batidas compassadas, coração-rotina.

Tua percussão ecoa no peito.

Teu sentir é desejo. És absoluto

no luto e na festa. Mas alegria

te estremece mais. Assim triste

não me percebes de ti dependente.

Ando exausto, incansável coração.

Sossega. Dá-me quietude. Descansa...



3)

Penso em tudo e o pensar é delírio.

Pensamento voraz, inconcluso.

Não há tormenta que o atormentado

desconheça. Conhece todos os padecimentos.

A mais impossível de todas as coisas.

A mais inviável de todas as forças.

Tudo fica na terra. O plantio

é a esperança de nada, espírito

dos dias, restante de algo perdido.

Penso em tudo e pensar é sofrer.

Pensamento espesso de imagens ásperas.

Dói mais ainda o repensar...



4)

Não há encanto que não seja doce.

Lindamente poético e suave.

Nascente, poente, sol, lua...

Queria fulgurar, mas sou eu.

Eu sou apenas um restinho de luz,

um restinho de luz a ponto de empalidecer.

Há quanto tempo estou aqui?

Estes versos eram para ser encantados.

Neles há doçura. Parte do que sou,

eles revelam-me, sem fulgor.

Assim sou eu: um quase facho de luz,

um quase facho de luz já sem brilho...



5)

Sob árvores, passo a ser sombra.

Percebo meus olhos tardiamente.

Quer me oprimir? Tire-me as paisagens.

Impregnado a elas sou aprendiz.

Um anjo cândido escreveu com nuvens:

O verde um dia será azul!

Posso aprofundar-me.; e o meu orgulho?

Ando fatigado de ser eu mesmo,

com essa cabeça sem face, esse corpo,

pensamentos que me fazem sofrer, dolorosos.

Sendo a sombra fruto de árvores, então sou.



6)

Delícia é uma palavra bonita.

Delícia é uma palavra gostosa.

É crua, furtiva, louca...

Convoca ao rio que sede não sacia.

Sua água é de pouca lucidez.

Nada concede. Nada concebe.

Delícia lembra carne para o desejo.

Piedade é tal qual humilhação.

Quero comer. Fome de divindade.

Que delícia devorar-te, glutão confesso.

Delícia não é uma palavra. É gôzo.



7)

Maior esplendor não há

que este amor delicado,

cuja face nem o coração conhece.

Este amor todo ele feito de vôo,

de infinita bondade, de eterna paciência.

Amor ao qual me entrego sem medo.

Sua embriagues me dá alegria.

Alegre, sou lúcido. Contenho-me assim.

O esplendor é este sol no corpo

que o amor, ardoroso, me dá.



8)

De todos os conflitos,

o maior é não ter uma resposta, uma sequer.

De todas as aflições,

viver carregado de questionamentos, muitos,

é a maior delas.

Certezas não me dão descanso. Ao contrário.

Nunca tenho certeza de nada. A não ser

a insegurança da busca. Que certeza é essa?

Há uma margem de perigo em tudo.

Junto conflitos e aflições num emaranhado só.

Vivo com rigor, por isso vivo a duras penas.

Posso até levitar, mas não quero. Paixão é paixão.

Desejo é diferente da celebração espiritual.

Questiono e me torno conflitante.

No conflito resolvo meus questionamentos.



9)

Grito ao nada. Nada responde.

Sensação de vazio nas lembranças.

No silêncio é vazia a sensação.

Quem me ama sabe pouco de mim.

Tanta beleza sem vir à tona, ocultas

as mais frágeis estrelas de meu céu interior.

Estas perdurarão para sempre, desconhecidas.

Últimas, talvez. Únicas, certamente.

Galáxia de recordações que me bastam.

Emudecido passado, que hoje nada mais

consegue dizer. Faltam-lhe palavras perfeitas.

Poderia tentar com lágrimas. Não!

Lágrimas derreteriam minhas constelações.



10)

Ainda suspiro, sem me distrair.

Será indestrutível este amor?

Sua imagem é para sempre?

A ele bendigo com ofegante aflição.

Sinto-o vivo, transformando-me.

Ora me fortalece. Ora me enfraquece.

Amor sem eira na beira do céu.

Céu completo, pântano de desejos,

Repouso de minha eterna saudade.

Ele me vê prostrado, silencioso,

humilde, contrito, quase humilhado.

Ele é imenso, incomensurável.

Eu o exalto. Eu sou um mínimo grão.



11)

Quero resplandecer a todo momento.

A cada momento hei de te sentir eterna.

Eternidade minha. Perfeição sublime.

Teu corpo me seduz – tenho pólens.

Posso fecundar-te em primaveras.

Sou teu exilado. És minha pátria.

Teu corpo é florido – doces pétalas.

Quero uma tarde chuvosa para tudo.

Nem precisa ser domingo. Hoje mesmo.

Teu corpo me dá poder. Divina inspiração.

Choro de prazer. Agora sei da perfeição.

Eternidade minha em fração de segundos.



12)

Ser frágil, estremeço de prazer.

A engrenagem de nossos corpos...

Torrentes insaciáveis. Necessidades mil.

Delicado demais te tocar. Desperta-me

o teu toque tão dedicado. Ai, ai...

O princípio de tudo é pura poesia,

rara poesia, louca e sã.

Compasso corporal. Força, fúria,

delicadeza e dedicação. Voz do amor.

Mistério gozoso. Satisfação impetuosa, jorrando.



13)

Sobre ti me inclino. Louvado seja

teu abrigo aquecido para minha fome e fúria,

meu ereto desejo que te procura,

sua forma latente de sangue concentrado,

tão espantoso e natural,

que só com suspiros para traduzir tudo.

Namoro a noiva e devoro a mulher.

Endoideço. Por um momento, cadê juízo?



14)

Há algo de secreto nesses olhos.

Não consigo captar, mas me intriga.

Sinto ciúmes. Um enigma. Machuca.

Não ouço este silêncio inatingível.

Tão oculto que me desdenha.

Seria inteiro não fosse a insegurança.

Há algo de secreto. Eu sei que há.

Sofrer é tudo que menos mereço.



15)

Quando há muito não ouvia tua voz,

ficava imaginando. Sons se confundiam.

Saudade não se reproduz assim. Feições

de lembranças, nacos de felicidade,

precipícios onde se cai para a vida toda.

Tua voz, inconfundível, não me vinha,

por mais que meus ouvidos a quisessem,

por mais que eu te chamasse...

Sempre fui muito afoito para esperar tanto.

Gosto mais na luz de sua velocidade.

Para mim, tua voz veio iluminada.

Não sei explicar como me clareou.

Este clarão disse tudo que eu queria ouvir.

Tua voz é este brilho. Não ouço. Vejo.



16)

Abriu-se uma clareira em minha vida.

Cercado de silêncio por todos os lados,

vislumbrei um espaçoso rumo por habitar

com meus dois olhos sem fundo.

Minha vida seria uma obra prima

acaso juntos tivéssemos prosseguido.

Recomecemos, me dizes. Não vês o aceno

de duas décadas perdidas? Passado banido.

Fui degredado. Fiquei exilado. Preso a ele.

Estamos tentando juntar as pontas.

Mas aquele tempo foi melhor que agora...

Agora caminhamos cada um com seu peso.

Estamos mais lentos, não percebes?

Falta-nos as ilusões instintivas.

As experiências que não tínhamos e temos.

As experimentações que fracassaram sem nós.



17)

Invadem a memória aqueles encontros,

aqueles que só nós dois lembramos,

que ainda hoje arrepiam nossas almas,

mantém-nos acesos para o amor,

sobressaltaram nossas vidas,

sangraram em mel e calda nossos corações.

Habitamos neles. Com eles crescemos.

A primeira vez que te vi quis te ver outras.

Entre amedrontados e envergonhados

teus olhos notaram os meus:

envergonhados e amedrontados.

Desde então te amo.

E não há um só encontro nosso

que não tenha se eternizado em mim,

minha vida toda. Revejo-os.

Como na primeira vez que te vi

e vi teus meigos olhos.



18)

Para onde o amor me leva,

é para lá que eu vou...

Desarmado de princípios e propósitos.

Feito de carne, vertigens e êxtase.

Ser eterno em segundos de prazer.

O amor me toma pela mão

e me guia sobre trevas e píncaros.

Tudo me faz agüentar, mas dormir

não me deixa, por quais motivos não sei.

Ou sei e acho demasiadamente gostoso,

intraduzível, soberano e sem-fim.

Nessas horas o triunfante sou eu.

Eu todo suspiros, feliz em brasas.

Já com saudades da próxima vez.

Com vontade imensa de só ficar acordado.

Tenho fome, tenho fome e a fome

é maior que o sono.



19)

Não são apenas palavras,

que estas podem ser escritas ou ditas

com a mesma intensidade da flor

brotando no lodo da pedra.

São atos sem omissões.

Uma culpa minha, máxima e assumida.

Meu corpo sem o teu é só abandono.

Só abandono. Abandono só.

Transpirando suores queixosos

de suprema falta de comunhão.



20)

O que sabia de mim não sei mais.

Divido-me em antes e agora. E depois?

Venho descobrindo novidades.

Cada encontro um sabor, um cheiro.

As pedras que chutei, retornaram.

Se tocá-las, é bem capaz

de se transformarem em flores,

em pluma, orvalho ou algo similar.

Que magnitude em mim.

A paz do jamais experimentado.

Paz incompreensível, consciente de si,

força vital, um quase dom.

Se quisesse, faria milagres, o impossível até...

A serviço do amor, tudo posso.

Alcanço a plenitude, posso tudo.



21)

Cada encontro um favo de mel.

Eu, zangão, entre a flor e a abelha

que ela é, sabe ser, delicada e a fim.

Sem ela e o ar nada há.

Respiramo-nos, confortáveis.

Penso nela diuturnamente. O oxigênio

é ela, só que visível e palpável.

Ar nos pulmões. Ar no cérebro.

O coração bombeia. Ela é o sangue também.

Nosso amor é doce. Energia e vigor.

Colméia de desejos nosso amor.



22)

Apaixonado, inesgotável para prazeres,

quero teu corpo como a um altar,

ponho-te no trono, faço-te caverna

de benfazejas loucuras desconhecidas

e juntos descobrimos o novo sempre.

Te amo com dor. Dói e queres mais

e eu mais, mais ainda.

Insondável amor. Insanável vontade.

Brutal sensibilidade. Ganância angelical.

Te querer com fúria. Te comer com fome.

Estamos em nós. Somos nossos.

Corpos ansiosos. Almas realizadas.



23)

Depois do amor ela quase morre de sede.

Fica ansiosa por água. Bebe.

Lava-se por dentro, toda frescor, mulher líquida.

E molhadinha continua.

Ela, um manancial tão sedento. Fresquinha.

Quase evapora-se durante o prazer.

Vai às nuvens. Seu gôzo é chuva que ela só sente. Que só ela sente.

Mas que me inunda, me encharca,

tromba d’água, temporal que nunca estia.

Ela goza e uma aura circunda seu corpo.

Vem a sede. Ela, de boca seca, pede água, água,

água pelo amor de Deus e de mim...

Saciada, muito ainda tem por saciar.

Para alcançar o gôzo atravessa um deserto.

Nessa travessia ofereço-lhe um cáctus.

Nesse cáctus sem espinhos há uma flor.

Depois que goza, a água que ela bebe

rega esta flor que no auge ela colhe.



24)

Palavras existem para serem silenciadas

na hora do bem bom, da graça intraduzível,

quando o que menos importa são coisas ditas,

linguagem desnecessária ante o ato que tudo diz.

Sentir é mais importante.

Viver assim é muito doido.

É muito fundo poder ir além da vida.

Anjos sussurram.

Não palavras, que o dizer deles é alado

e frases com asas ninguém na terra entende.

Tudo é celestial demais nessas horas. Vôo louco.

Grunhidos, sons de línguas molhando os lábios...

O melhor deste silêncio são teus sentidos gemidos.

As vezes uma lágrima muda,

furor de dentes na carne.



25)

Um homem feliz, longe de perturbações.

Alheio a tudo, caminha entre os demais,

todos comuns, olhos sem brilho, a esmo.

A praça tem mais sol, é delirante.

A cidade basta ao seu caminhar e ritmo.

O coração doendo de aguda alegria...

O peito dolorido só de lembrar.

Respira e dói sua gostosa sublimação.

Andar lépido, camisa de vento,

asas que o prazer tornou invisível.

O prazer anestesia. O prazer redime o homem.

O céu é aqui e lá...



26)

Agora sei: existi não existindo.

Resisti a mim enquanto eu.

Homem de sonhos esquecidos.

Solitário em suas tempestades.

Sem esperar nada, avêsso aos dias,

não admitindo saudade.

Com sua doce presença, serena e suave

o anjo moreno resgatou-me.

Abriu-se o tempo. Findou o silêncio.

A existência para mim é esperança.

Minha alegria transforma o mundo.

Ela é minha felicidade. Sou feliz!



27)

Estás em tudo.

Integrada no todo.

Segues distraída.

Meu olhar te despe.

O horizonte está em ti.

O início és tu.

Tens memória de nós.

De nosso tempo.

Te lembras perfeitamente.

Tão nítida.

Te percebo aqui.

Silêncio e som.

Fonte da vida toda.

Meu amor por ti é tudo.



28)

Tua ausência por tão longo tempo

me tornou esquecido. Onde andei?

Fui somente um fragmento.

Tua volta me fêz encontrar-me.

Agigantou-se meu coração.

Imensamente sou.

Eu comigo.

Agora tenho perguntas

para todas as respostas.



29)

Não há ternura maior

que teu doce olhar sobre mim.

Fico todo iluminado quando me vês.

Olhos encantadores. Beleza rara. Calmos.

Têm linguagem sem palavras...

Me vêem, apaziguado e febril.

Minha iluminação se expande.

Teu doce olhar sobre mim é só encanto.

Essa ternura mais suave

que a mais leve das manhãs.

A última estrela.

O primeiro raio de sol.



30)

Dentro dos teus olhos

o menino de ontem

passeia pela praça,

prolongado pelas tardes.

Sem cautela, solto,

pele de veludo,

cabeça de lirismo,

poesia entre os dedos.

Vês, na distância,

o menino-desatino,

o menino-sem-destino,

o teu singelo menino,

simples, simples.

Guarda-me em teus olhos,

assim como sempre.

O menino de ontem.

O teu homem de agora.



31)

A saudade era tanta

que o tempo não ficou vazio.

Algo invisível jamais deixou de nos unir.

Confidências sussurradas. Beijos molhados.

Abraços imensos. Olhares perfeitos. Cheiro bom.

Tuas mãos nas minhas, completando-se.

Repartimo-nos em nós.

Multiplicamo-nos conosco

Não inventei a saudade.

A saudade não foi criação minha.

Companheira, dona de recordações.

Acompanhou-me, leal comigo.

Fêz do tempo do amor presença constante.

O amor presente preencheu-me.



32)

Não falamos palavras vazias.

Frases de nossas bocas permaneceram,

ecoando em nós, confidentes.

Nos unem, qual elos de certeza.

Hibernadas, nossas vozes se ouviram,

circularam em nosso sangue,

vida mantida no tempo de espera.

Há sentimentos para sempre.

Intraduzíveis. Indizíveis.

Palavras indestrutíveis do silêncio.

Silêncio que ouvimos e que nos ouve.



33)

É assim que te amo: plantador

de árvores gigantes, cujas sombras

só gerações futuras desfrutarão.

Cuido de ti pacientemente...

Fico tranqüilo, regando-te,

frondosa mulher em mim fincada.

Há em meu peito um jardim secreto.

Aí te plantei para ser mais humano.

És minha vida e me sinto mais ameno.

Árvore eterna do meu eu arvorado.



34)

Começaste em mim antes que soubesses

do meu tímido existir em abstração.

Te vi de manhã. (A manhã inaugura sóis.)

Já te trazia por meu querer.

(Queria alguém como tu.)

Uma pessoa que me apaziguasse.

Musa que me desse alento e cantos.

Os dias antes de ti

te anunciavam para mim.

Te descobri minha. Me descobriste teu.

Obsessão de vida. Amanhecer de meus dias.

Quando chegaste eu já te esperava

fazia um tempo.

Findaram-se as noites. Suave manhã

se desdobrando em outras manhãs

e trazendo novos cantos.



35)

Somos um do outro

dentro e fora – antes e agora.

Um do outro fomos – e seremos.

Te pertenço e não sou meu.

Sou teu, dando-me por inteiro.

Entregue a ti e em paz comigo.

Amando-te e respeitando-te

em expansão infinita.

A vida torna-se maior.

Torna-se melhor a vida.



36)

Te descobri e agora te redescubro.

A permanência do ontem influi

nessa redescoberta. Muito ficou.

Tudo em nós foi duradouro.

E agora não tem mais fim.

Nos reencontramos, enfim...



37)

Diante de ti não sei me expressar bem.

Palavras fugidias me faltam.

Olho-te para te dizer tudo.

(Mas também meu olhar é às vezes mudo.)

Sei fazer poemas. Versos livres

que continuam te pertencendo...

A dona do poeta o compreende e o aceita.

(Palavras escritas compensam as não ditas.)

E ficam, inauditas...



38)

Desejo de vida.

Quando eras apenas memória,

lembranças me sustentaram.

Percorri os caminhos de outrora

abraçado à solidão de meus dias.

A vida, um esboço. Rascunho de amor.

Havia névoa logo à frente. Saudade

era a tradução do tempo.

Saudade de viver o desejado.



39)

O tempo nos preservou.

Fêz de nosso amor sua reserva de esperança.

Tão exato, o tempo. Atualiza-se

com a dimensão de sentimentos imensos.

O tempo contínuo. Ininterrupto.

Indiferente aos contratempos.

Veloz para os passatempos.

Perdurou em nós, em forma de amor.

Amor além do tempo. Esperança reservada

para o tempo presente.



40)

Impossível me foi fugir de tua ausência.

Penetravas meu mais indevassável escudo.

Eu: tão forte, tão frágil. Louco por ti.

Não consegui esconder este sol de amor ardente.

Sementes afloraram. Meu amor-alimento.

Quanto mais distante, mais presente estavas.

Pensamentos em segredo. Delírios azuis.

Assim permaneci até te rever.

Foi quando o céu juntou-se ao chão.

Tua ausência se aproximou. O amor fecundou-se.

Nos alimentamos de flores

e não temos mais fome. Juntos estamos.



41)

A mais amada não calcula o tanto,

não imagina o quanto, não sabe de nada.

Ela não tem idéia. Não é capaz de ter noção

de minha multiplicidade por ela. De meu

gorjeio de homem-pássaro, ultrapassando

seus ares de menina ainda acordando a mulher.

Não posso definir-me por sua conta.

Penso ser e sou mais que o pensado.

A mais amada é o centro de tudo.

Fêz-se luz de minha eternidade. Essência

pura de espiritual matéria.

Minha amada é o meu sol.



42)

Beijo mordo sugo acaricio apalpo abraço

a extensão morena do teu corpo macio.

Beijo a extensão morena do teu corpo macio.

Mordo a extensão morena do teu corpo macio.

Sugo a extensão morena do teu corpo macio.

Acaricio a extensão morena do teu corpo macio.

Apalpo a extensão morena do teu corpo macio.

Abraço a extensão morena do teu corpo macio.

Adoro, venero tua sublime flor.

Ofereço-te a haste.

O mais é gôzo. E tudo é amor

nas planícies onduladas da extensão morena

do teu corpo macio.



43)

Sempre assim.

Nosso primeiro encontro foi tão lindo

que o mais recente a ele se compara.

Cada dia melhor. Cada vez maior.

Nosso amor vai atravessar o século.

Dois universos fundidos em um.

Cada dia maior. Cada vez melhor.

Sonhos integrados à difícil realidade.

União de almas e corpos. Passado e futuro.

Tão bom quanto foi, é e será.



44)

Enquanto me procuravas feito louca pelas ruas,

andavas de lá-pra-cá na minha cabeça.

Não tive descanso. Mantive a lucidez

mesmo habitando uma esfera em torno de ti.

Por ti criei cores, tive idéias, suspirei sem-fim...

Através de ti olhei o mundo em volta...

Continuas zanzando em meu cérebro.

Sabes perfeitamente o sangüíneo caminho

que te leva ao meu coração.

Procura a quietude. Dorme comigo.

Acorda em mim o sossego. Minha cabeça

te segue e não te cansas de me procurar.

Só nos encontramos dentro de nós...



45)

conhecer teu corpo suave

tornou-me um geógrafo



teu corpo moreno conhecer

trouxe-me diálogo à pele



ondulado corpo que conheço

pasto de delícias frescor e suor



corpo ondulado moreno e suave

magia serena de meu amor maior



46)

eu te amo

às vezes é doce a dor

de ser feliz



eu te amo

às vezes a fonte bebe

de sua própria sede



eu te amo

às vezes a ternura é sangue

em nossas veias de emoção



eu te amo

um momento em ti

é toda eternidade em mim



47)

como um sino silencioso na torre

como o horizonte que permite o além

como a essência que nutre desejos

como a certeza de algo já confirmado

como a lágrima doce da alegria

como a manhã dormindo seu sono

como um olhar só de carinho

como cheiro impregnado

em todos os sentidos

eu te reencontrei

para novamente encontrar-me

como presença indefinida no tempo

como palavra de um poema sem chuva

como espaço vazio agora preenchido

eu te reencontrei e em ti tenho vivido



48)

muito tempo armazenei

amor memória esperança desejos



te inventei em muitas noites

em lençóis de solidão calada



te alimentei de buscas e sofri

mantendo os desejos a esperança



o amor que armazenei muito tempo

no coração de minha memória



49)

enquanto ceifei saudades

lembrei carinhos pelas metades

teus dedos cheios de promessas

tua voz permanecendo em sussurros

reproduzi teu semblante na mente

desatinei volúpias imaginárias

sofri calado e calado renunciei a tudo

muitas águas passadas

e muitas a passar

houve o tempo das sementes

do plantio em chão difícil

a paciência da espera

a colheita agora vem aos poucos

é nosso alimento nessa hora

as tardes ainda são azuis

tudo volta ao ponto de partida

este antigo amor é que nos renova



50)

amar e querer-te bem



dona de mim senhora do meu prazer



caminho de novo a tua estrada



não me encontro mais sozinho



estás comigo não sou mais ausência



todas as sombras clarearam



tudo posso em ti meu amor



51)

quando meu coração já não suportava mais a sutileza do solitário sofrimento quando meu coração já não se sentia mais seduzido pela solidão de sua estranha calma quando meu coração já não amanhecia mais todos os dias e não havia aqueles domingos ela – sempre ela – ressurgiu surgindo com seu sorriso lindo seu olhar infindo seu corpo vindo e meu coração foi indo não mais caindo meu coração pedindo expandindo se sobressaindo



52)

no mapa do meu peito

ela demarcou uma área

há muito inabitada



onde hoje reina comigo

absoluta tranquila segura de si

deitando raízes de prazer



53)

Meu amor de tanto tempo

me transmitiu silêncios, absolutas verdades:

um sonho não se resume a meio caminho andado,

quando há infinitudes no caminhar para sempre.

Desejos são mais que suspiros: concretizam-se

na ardência de corpos que se descobriram

ainda no frescor de peles orvalhadas,

inocentemente despertas para o prazer.

Esperar é saber que não há fim no eternizado...

(Pronuncio em pensamento teu nome minha vida toda).

Todos os soluços me lapidaram. Todos.

Aprendi com meu amor que o tempo

não é feito de mármore.

O tempo (menos forte que nosso sentimento)

é exclusivo para quem busca seu tempo.

Tudo é tão sublime entre nós que o ontem permanece futuro...

Ando atormentado comigo,

prazerosamente admirado

com os ensinamentos por ela transmitidos,

a mais absoluta verdade em forma de silêncio,

tudo tão fundo e belo, tudo tão alto e claro.

Meu amor de tanto tempo é um amor eterno

e novo.



54)

Tudo que foi em nós guarda um sabor

de fome, de olhos, de mãos, de toques,

de carícias, de cheiros, de luz, de chuvas, sobretudo de sóis.

A vida ficou esplêndida a partir de nós...

Somos um arquivo de acontecimentos memoráveis...

Mais dia, menos dia, rasgaremos as tardes

e devoraremos as noites.

Minha alma já sonhou com frutos menos doces

- cultivei um pomar e agora ela vem colher,

adocicando cada um destes frutos,

(a)provando-os,

com suas mãos sutis, com sua boca carnuda.

Ela gosta do caldo que destilei, ela gosta muito.

Por ela todos estes frutos são os melhores

e mais saborosos,

para ela todos estes frutos foram cultivados,

ela dá sabor a tudo que foi em nós

gôsto de saudade,

essa frutífera árvore

que também possibilita sombra.



55)

Viajo em torno de ti.

Em roda de ti dou mil e umas voltas.

Encontro coisas que não sei nomear.

Sou de muitos jeitos e sou todo mistério,

porque em tua circunferência há o indesvendável,

não há limite para minhas andanças, divagações,

devaneios, buscas desenfreadas, correria louca...

Em torno de ti fico tonto de tanto girar, gravitar,

levitar, orbitar, endoidecer, pulsar, espairecer...

Perco a pouca lucidez que tenho,

a minúscula noção de perigo que me resta,

as ínfimas necessidades do dia a dia...

Vivo à revelia de mim, revelado em ti...

Tudo que bate volta à forma mais pura.

És meu universo, meu mundo além do corpo,

o qual habito integrado a ele, uno,

ilimitado, vário, múltiplo,

mas como parte plena de sua atmosfera,

respirando-te, meu ar, meu ar, meu ar,

meu ar de existência sem demarcações...



56)

Há muita luz em meus dias agora.

As segundas se vestem de branco

e ficam transparentes.

As terças ficam impassíveis

diante de tanta claridade.

As quartas, essas são invisíveis,

trespassadas de raios.

As quintas todas parecem tardes

ensolaradas de abril.

Sextas pintam paredes

de uma alvura incomensurável.

Os sábados luzentes atropelam os domingos

que por sua vez se parecem com os demais

dias da semana.

Minha palidez de poeta descansa. Então escrevo:

há muita luz em meus dias agora.

Meus dias agora transbordam,

entornados em tua luz.

Nosso amor torna tudo tão nítido...



57)

Fosse eu inventor de palavras,

todas as coisas teriam denominações novas.

O amor, por exemplo, haveria de ser representado por um termo

que o expressasse por inteiro,

como razão universal de tudo,

com todas suas alegrias, inquietações, ânimo,

segurança, harmonia, paz e tristezas.

Não será a palavra amor

uma palavra já inventada

para significar felicidade e sofrimento,

vida e eternidade, isso e muito mais?

Talvez, então, para mim todas as coisas

possam ser amadas, em vez de serem

simplesmente chamadas.

Teu nome quer dizer que te amo.

Te amo e por isso me chamo.



58)

Tamanha alegria me embaraça

ante os mais simples viventes.

Olham em meus olhos e estes brilham mais.

Meu nariz empinado me projeta...

Fico constrangido com meus passos lépidos.

Minhas mãos debulham carícias.

Sou inteiramente fragmentado de visível

e notável felicidade.

Tão alegre assim, frágil e forte.

Ó amor, quão grandioso é teu poder,

tua capacidade infinita de dar ternura

a um homem.

Todos me invejam, mirando-se nessa plenitude.

Sou imensamente eu. Estou demais comigo.

Sinto-me eterno. E terno.



59)

Não foi nosso amor uma promessa

feita no deserto.

Regamos flores, pois sempre houve água farta

e chão fértil.

Esperança, um outro nome nosso, nosso maná.

Nos alimentamos do tempo da espera

e a paciência foi nossa companheira mais simples e mais sincera.

Habitamos, cada um em seu canto,

grandes cômodos.

Nestes cômodos abrigamos as memórias vivas.

Fizemos do tempo e da distância elos e laços

de uma união que jamais se desatou

e se fêz forte.

As coisas intocadas permaneceram conosco.

Estavam pendentes. Não estão mais.

As flores estão vivas. A água é cristalina e fresca.

Ofereço-te buquês de alegria.

Tens sede de felicidade.



60)

A tarde se inclina e a noite cai.

Tão linda essa palavra: crepúsculo.

O lusco-fusco revela a primeira estrela.

E a primeira estrela que vejo

deseja o ardor de meu ardente desejo.

Nessa hora a solidão se veste de negro

e se faz confundir-se com a escuridão.

Parecem gêmeas, mas se diferem.

Uma é compaixão pura. A outra gera

desassossego e faz silêncio.

Ambas me espreitam.

Meu amor cresce intermediando a tarde

e a noite.



61)

Busco consolo, fico enternecido,

acordo exausto.

O calendário na parede

mostra o tempo parado.

Nunca fui chegado a datas. Que dia é hoje?

Amanhã terá sabor de depois de amanhã?

Desde que conheço o amor

me dou por satisfeito.

Tudo me basta e tanto mais quero, insaciável.

Aprecio quintais, hortas de poesia.

Concedo-me à divindade,

qual anjo que jamais alçou vôo. Cultivo coisas.

Cada coisa cultivada alimenta um segredo.

Desde que conheço o amor

me dou por insatisfeito.

Confesso tudo. Inconfessáveis são os sonhos. Segredos, não.

Acordo exausto. Ó noite feita de sobressaltos.

Ó vontade de acordar com ela,

mansamente feroz, teso.

Muito mais que o amor da satisfação

e insatisfação, dela me vem este que é só doçura e consolo.

E muito mais que isso: prazer.



62)

minha casa

tem muitas

janelas



ainda assim

olho o mundo

pelas frestas



63)

amor

amor é água

amor é água com sede

amor é água com sede até secar

amor é água com sede até secar e morrer

amor é água com sede até secar

e morrer e brotar



64)

no

oco

de

mim

cai

em

si



no

oco

de

si

caio

em

mim



65)

manhãs pálidas

não enamoram o sol

tardes quentes

seu mormaço penetra as noites



66)

claridade do dia

tanta luz me cega

não quero sair do quarto escuro

o escuro sim me conhece

meu amor não suporta tanta luz

meu amor não comporta luminosidades

meu amor compete com o sol



67)

contigo consigo

fazer um carinho e sonhar

torna-se doce meu olhar



também é quando desperta

o instinto animalesco

de meu coração dantesco



68)

quando a tarde pára

sinto que somos nós

para sempre

o mesmo velho sol

este amor queimando

o peito é o tempo

a tarde é o coração

ardendo em solidão



69)

seu cheiro é o mesmo

ela me diz

exalo saudade

só isso



70)

nunca houve um adeus

por certo um tchau

às vezes um até logo

outras um até breve

até qualquer hora



nunca haverá um adeus



71)

nosso amor

ave em vôo

sem jamais pousar



72)

ancorado em ti

o azul me pesa

o silêncio é voraz

sou um incêndio

estou varado de luz



73)

afaga o rosto afaga o corpo

teu cheiro é suave é tudo suave

nossas mãos são nuvens

somos duas raízes suspensas

sem fundo e sem fim



74)

gosto de tua pele

mais que isso

gosto de meus lábios

na morenice de tua pele

pode saber que tenho fome



75)

somos dois raios

talvez

conseguíssemos

habitar

o

sol



76)

cada instante de toda minha vida

foi pensado e pesado pesado e pensado

hoje me sinto mais leve

hoje me sinto mais solto

não fico pensando mais não

a vida é só um instante

um instante de cada vez



77)

grito -

minha voz é azul

meu silêncio tem a cor

que melhor te convém

meu bem

tuas palavras são azuis também



78)

o

encanto

da

vida

é

fazer

da

vida

um

encanto

estou

encantado

com

ela

ela

é

todo

encantamento



79)

ao longo do tempo

parti-me em mil

pedaços

cada reencontro

junto uma parte

de mim

assim multiplicado

sou muitos

para ser inteiro



80)

meu amor

é um rio submerso

oculto

quer saciar tua antiga sede



81)

te olho e vejo uma árvore

e às vezes vejo um pássaro

sou eu pousado em ti



82)

meu coração

já foi uma pedra

ou continua sendo pedra

meu coração?

mas a paixão quando bate

torna a pedra macia



83)

formo contigo um par

és o poro por onde respiro

sou através de ti toda dor

e o prazer da intensidade



84)

era um ser sem prumo

deste-me um rumo

era um ser sem casa

abriste-me tua asa

era um ser sem ritmo

tornaste-me teu cara íntimo

agora não sei viver sozinho

sem ti não tenho caminho

quero estar sempre contigo

estás inhanbada comigo



85)

me proporcionas

tanta claridade

a luminosidade é tanta

que chego a ficar transparente

presença de amor ausente

ausência de amor presente



86)

ela me resgata sempre

dá um tempo

e volta e meia me busca

sou o acaso dela

que sabe onde me encontro

pois quando ela quer ela quer e pronto

traçou o destino sermos um

um sem o outro: ambos sem destino

não há metade nessa integração

somos inteiramente unos

nessa complementação



87)

noites de teu sono escasso

enquanto eu dormia

e não tinha descanso

pesadelo meu

te imaginar acordada

nas noites que poderiam ser nossas



88)

presta atenção em mim

vê que no fundo no fundo

meu silêncio é trilha sonora

meu amor é antes e agora

e depois é a melhor rima para nós dois



89)

não há uma ordem de coisas

acontecimentos revertidos em saudades

pensamentos / lembranças / memórias

uma bonita história de amor

uma infinita passagem de vida

uma duradoura paixão delicada

tudo tem origem e nada tem fim

porque tu te eternizas em mim



90)

roubei-te um beijo

desde então vivo com febre

delírio de amor interminável



91)

esta página

tem margens

impossível falar de meu amor

dentro dela



92)

te almoço te merendo te janto

(gosto de deixar as coisas em pratos limpos)



93)

ando meio lírico ultimamente

o coração incinerado

gravo versos em pedras

meus assuntos são alegres

intraduzíveis sentimentos

tanta leveza invejando as nuvens

ando pelo campo e me misturo à paisagem



94)

se passou da conta é emoção

ela está toda melada toda molhada por dentro

desde o tempo do colégio

eu não queria aprender nada

só queria saber dela

pensava nela como deusa de todas as matérias

o amor deu conhecimentos etéreos

a este doutor em sensação

ainda aprendiz da paixão

eu penso nela

e estou sangrando e nada estanca

essa hemorragia interna



95)

desejo secretamente

uns olhos

um corpo

e umas carícias

pego fogo

ardo queimo

imaginação gozosa

suspiro transpiro me viro



96)

quando me encontrou pela primeira vez

chegou de mansinho e foi tudo mansidão

esplendor de amplidão na imensidão tão



97)

lindo e infindo:

nós dois

sentados naquele velho banco

até a matriz

era mais feliz

quando nosso amor

dava o ar da graça

na praça

tudo permanece intacto

lembranças físicas

sentimentos que não se extinguem

por todo esse tempo

venho contando pedrinhas do calçamento

faltam algumas

mas no mais é tudo como antes



nosso amor passeia de mãos dadas

com o passado



98)

depois de toda essa convivência

cheguei à conclusão

de que ando parecido contigo

mas és tão linda –

é muita pretensão o que digo



99)

como fazes parte

do que escrevo

faço questão

de estar dentro

do que lês



100)

nossos corpos

se comportam

(quando se fundem

se confundem)



101)

o tanto que te amo

me traz a interrogação

em busca de uma conclusão:

meu coração é cabeça

ou minha cabeça é coração?



102)

sinto muito

mas só muito amor

é tudo o que sinto



103)

terminou comigo

muitas vezes



não queria mais me ver

e quem acabava voltando

era eu

doido para vê-la



104)

no nosso caso

toda lucidez é louca

toda loucura é pouca



105)

não passou

o passado

ficou no tempo

(e em nós)

parado



106)

até quando a estrela guia

se desorienta

a saudade se apresenta

o amor aumenta

e o mais a gente inventa



107)

nosso

amor

não

tem

defeito

mas

também

não

tem

conserto



108)

aqui estamos:

fomos nos corrigir

acertamos



109)

nossa

transa

é

um

transe



110)

a vida toda

sequinho

por ela

quando cheguei

tava toda úmida

por mim



111)

me conheces

d e m a s i a d a m e n t e

menos minha lágrima



112)

oh! cidade

tuas velhas ruas

dizem às esquinas:

“um dia esses dois

caminharão juntos

por nós”



113)

podes caminhar

ainda que não ao sol

sou tua sombra

fiel



114)

carambola



o súbito extravasa

em meu corpo

em brasa

(pausa)

chupamos uva em tua casa



115)

leio cinco livros por dia

livros inéditos jamais escritos

nossa história de amor em fascículos

o melhor já aconteceu

ou ainda está por vir

nos próximos capítulos?



116)

só sei que sonhei

não me lembro bem da paisagem

se era um trigal amadurecido

ou uma imensa plantação de girassóis

acordei entre pães e flores

pães fresquinhos e amarelas flores reluzentes

estávamos ao teu lado

eu e meus desejos ardentes



117)

desperdiçamos emoções

quantas deixamos pelo caminho

ficaram para trás

esquecidas nunca perdidas

emoções se renovam

são as mesmas e despertam

com o cheiro o tato o gosto o ato

não se extinguem nossos vulcões

deles jorram novas emoções



118)

te encontrei

como a melhor de minhas metáforas

talvez por isso

minha poesia seja tão simples

doce raiz

de inspirada simplicidade



119)

gosto do escuro

no escuro o amor nos ilumina

a luz transborda de nós

de nossos corpos saem faíscas

espocam fagulhas e centelhas

amarelas e vermelhas

além do mais

fico de olhos fechados

para só ver o que sinto



120)

a namorada do poeta

até então não sabia

que o melhor verso

a maior poesia

estava no êxtase

de sua primazia



121)

meu mundo

teu

corpo

um

atlas



122)

o prazer

tem pulsações

de mil e umas erupções

quando são únicos

nossos corações



123)

se pudesse dizer

com certeza

diria:

aquela tristeza bruta

agora é pura alegria



124)

o pássaro parou no ar

atiraram-lhe uma pedra

a pedra ganhou asas

levou o pássaro embora

confundem pedra e pássaro agora



125)

depois de muitos anos

novamente ouvi-a dizer:

eu te amo

a frase estava presa

refém do passado

mas comovida e emocionada

tantos anos depois confesso:

não estava preparado

ouví-la dizer que me ama

me fez sentir novamente amado



126)

ninguém nunca te disse

de minha gulodice?

não haviam te falado

que sou um esfomeado?

não minto:

– sou faminto!

como-te a partir do nome

– que fome!

como-te como quiseres

– repasto meu para mil talheres!

e quanto mais te adoro

mais te devoro!

quero te comer comer comer

e te dar prazer muito prazer!



127)

AS QUATRO ESTAÇÕES DE NOSSO AMOR



Nossos encontros sempre traduziram muitos desejos:

calor de sonhos em nossos corações ensolarados...

Cultivamos em nosso peito as flores de um amanhã iluminado,

pleno de certezas, emoção comovida, respiração ofegante,

planos de vida, brilho de olhos que ouvem,

quando o silêncio falava por si para dizer tudo.

Nosso amor estava na primavera...



Tua voz é mais que um som. Pulsa dentro de mim

como a estrela guia na noite silenciosa de meu corpo frágil.

Nele tudo é desejo quando fica essa sensação de ausência...

Meu corpo sabe perceber, pode pressentir a distância

que não deseja, quando só te quer por perto, aqui dentro,

onde só há um caminho para seguirmos juntos.

Nosso amor será capaz de transpor o outono...



Te busco a cada instante em sensações que me doem:

medo de perder, coragem de dizer, vontade de só sentir

aquilo que não me faça sentir tão só, distante de mim,

como o menino de anos atrás que já te perseguia

sem ao menos saber que existias. Ou seja, era teu

antes que pudesses imaginar que também eras minha.

Nosso amor agasalhou-se em nosso inverno...



Que não seja por descuido nosso deixarmos se perderem

tantos sonhos sonhados, momentos vividos e extasiados.

Se nuvens sombrias insistirem em encobrir nosso sol,

as certezas serão maiores que as dúvidas,

e em nós tudo será como antes,

como sempre desejamos, com uma doçura carinhosa e segura.

Nosso amor há de se fortalecer em seu mais pleno verão...



128)

Só de te imaginar longe já me sinto sem brilho.

Quando estás perto sou feito de luz,

minhas cores se espalham,

meu corpo se faz sol,

meus olhos transbordam raios matinais,

minhas mãos tocam o azul do ser - e eu sou.

Sinto-me inteiro ao teu lado, pleno, múltiplo,

tantos quero ser que nem me comporto

em mim.

Juntos somos a expansão de nós mesmos...

Triunfantes em nossos sonhos,

realizados em nossos encontros.

Tua partida me faz querer tua volta.

Quero o teu retorno para ontem

- o amanhã está tão longe...

Partir significa despertar a saudade?

Distância é o mesmo que ansiedade?

Sem ti, tudo em mim é silêncio.

Silêncio absoluto do estar sozinho,

desamparado, desprotegido,

respirando a ofegante falta que sinto de ti,

de teu carinho e de tua carícia,

de tua presença que me ilumina,

me enche de cores e me faz brilhar.

Seja breve.

Não posso ir contigo -

mas me leve!



129)

escreve em maiúscula escreve

escreve A M O R essa palavra forte

essa palavra atormentada pelo mundo

resignada plangente serenada

perdurando em corações entrelaçados

metáforamor poéticamor

escreve a m o r escreve

essa palavra MAIÚSCULAMOR



130)

a poesia tinha dado um tempo

agora que ela voltou dou meu tempo a ela

transbordante ela jorra

faz de meu coração um jarro



131)

doçura



somos

dois

gomos



132)

qual pássaro senhor de suas penas

vivo incubado em espaço delimitado

- esse mundinho minúsculo -

asas cercadas domínio diminuto

não há vôo – e pior - desaprendi voar

o horizonte nem é ali – é aqui

a um pássaro preso resta este canto



133)

peito meu

essa leveza toda só tem uma explicação

talvez ela tirado a blindagem de meu coração



134)

como

nossos

corações

têm

boa

memória

estão

com

a

incumbência

de

re/viver

nossa

inesquecível

história



135)

é possível um pássaro voar na contramão

ou este espaço todo é uma imensa via

de mão dupla?



136)

o matador



nem sei

quanta saudade já matei

mas estou certo

que há sempre outra por perto

saudade é infinita

nasce não morre e já ressuscita



137)

a quase perfeição: amor

a vida toda é tua miséria

nada te fere mais que o silêncio

e este te requer sem ação

amor de sempre pela metade

e ainda que pelas bordas, não se esgotou,

se fortaleceu em sua frágil plenitude

é tanto delírio tanta alucinação

amor: estou entregue

nada me consome mais que tua procura



138)

alma de quietude

se basta num instante de muitos séculos

talvez me conheças melhor agora

não que eu tenha te revelado a essência

a essência és tu e eu me nutro dessa serenidade

a mansidão de meu peito

há de superar tanta espera

nos encontramos dentro de nós mesmos

aqui ninguém nos descobre

e quando nos descobrirem

nos descobrirão únicos

para sempre unidos



139)

estive por muitos anos ausente de mim

em algum infinito

nalgum horizonte

dentro dos olhos dela

perdido entre as imagens

que ela viu quando as fitava comigo



teus olhos são as memórias vivas do que fui

a história presente do que resta de mim

e ainda sou



140)

jamais tentei te esquecer

jamais

sempre te lembrei comigo

te revivo como imagem liberta do espelho

tua face flutua sobre meus sonhos

todos os dias te vi e te confessei meu silêncio

é impossível não dar teu nome à minha vida

minha vida te chama e é teu nome que ecoa



141)

tudo é muito suave agora

suave e leve quase pluma

o vento é sopro de aragem

nossas vozes doce música

tudo em nós levita

nossa órbita é aquém

bem aqui

chegou a primavera

diferente de todas as outras

somos nós em nossa luminosidade

a fonte viva todas as cores
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