Posso até levitar, mas não quero. Paixão é paixão.
Desejo é diferente da celebração espiritual.
Questiono e me torno conflitante.
No conflito resolvo meus questionamentos.
9)
Grito ao nada. Nada responde.
Sensação de vazio nas lembranças.
No silêncio é vazia a sensação.
Quem me ama sabe pouco de mim.
Tanta beleza sem vir à tona, ocultas
as mais frágeis estrelas de meu céu interior.
Estas perdurarão para sempre, desconhecidas.
Últimas, talvez. Únicas, certamente.
Galáxia de recordações que me bastam.
Emudecido passado, que hoje nada mais
consegue dizer. Faltam-lhe palavras perfeitas.
Poderia tentar com lágrimas. Não!
Lágrimas derreteriam minhas constelações.
10)
Ainda suspiro, sem me distrair.
Será indestrutível este amor?
Sua imagem é para sempre?
A ele bendigo com ofegante aflição.
Sinto-o vivo, transformando-me.
Ora me fortalece. Ora me enfraquece.
Amor sem eira na beira do céu.
Céu completo, pântano de desejos,
Repouso de minha eterna saudade.
Ele me vê prostrado, silencioso,
humilde, contrito, quase humilhado.
Ele é imenso, incomensurável.
Eu o exalto. Eu sou um mínimo grão.
11)
Quero resplandecer a todo momento.
A cada momento hei de te sentir eterna.
Eternidade minha. Perfeição sublime.
Teu corpo me seduz – tenho pólens.
Posso fecundar-te em primaveras.
Sou teu exilado. És minha pátria.
Teu corpo é florido – doces pétalas.
Quero uma tarde chuvosa para tudo.
Nem precisa ser domingo. Hoje mesmo.
Teu corpo me dá poder. Divina inspiração.
Choro de prazer. Agora sei da perfeição.
Eternidade minha em fração de segundos.
12)
Ser frágil, estremeço de prazer.
A engrenagem de nossos corpos...
Torrentes insaciáveis. Necessidades mil.
Delicado demais te tocar. Desperta-me
o teu toque tão dedicado. Ai, ai...
O princípio de tudo é pura poesia,
rara poesia, louca e sã.
Compasso corporal. Força, fúria,
delicadeza e dedicação. Voz do amor.
Mistério gozoso. Satisfação impetuosa, jorrando.
13)
Sobre ti me inclino. Louvado seja
teu abrigo aquecido para minha fome e fúria,
meu ereto desejo que te procura,
sua forma latente de sangue concentrado,
tão espantoso e natural,
que só com suspiros para traduzir tudo.
Namoro a noiva e devoro a mulher.
Endoideço. Por um momento, cadê juízo?
14)
Há algo de secreto nesses olhos.
Não consigo captar, mas me intriga.
Sinto ciúmes. Um enigma. Machuca.
Não ouço este silêncio inatingível.
Tão oculto que me desdenha.
Seria inteiro não fosse a insegurança.
Há algo de secreto. Eu sei que há.
Sofrer é tudo que menos mereço.
15)
Quando há muito não ouvia tua voz,
ficava imaginando. Sons se confundiam.
Saudade não se reproduz assim. Feições
de lembranças, nacos de felicidade,
precipícios onde se cai para a vida toda.
Tua voz, inconfundível, não me vinha,
por mais que meus ouvidos a quisessem,
por mais que eu te chamasse...
Sempre fui muito afoito para esperar tanto.
Gosto mais na luz de sua velocidade.
Para mim, tua voz veio iluminada.
Não sei explicar como me clareou.
Este clarão disse tudo que eu queria ouvir.
Tua voz é este brilho. Não ouço. Vejo.
16)
Abriu-se uma clareira em minha vida.
Cercado de silêncio por todos os lados,
vislumbrei um espaçoso rumo por habitar
com meus dois olhos sem fundo.
Minha vida seria uma obra prima
acaso juntos tivéssemos prosseguido.
Recomecemos, me dizes. Não vês o aceno
de duas décadas perdidas? Passado banido.
Fui degredado. Fiquei exilado. Preso a ele.
Estamos tentando juntar as pontas.
Mas aquele tempo foi melhor que agora...
Agora caminhamos cada um com seu peso.
Estamos mais lentos, não percebes?
Falta-nos as ilusões instintivas.
As experiências que não tínhamos e temos.
As experimentações que fracassaram sem nós.
17)
Invadem a memória aqueles encontros,
aqueles que só nós dois lembramos,
que ainda hoje arrepiam nossas almas,
mantém-nos acesos para o amor,
sobressaltaram nossas vidas,
sangraram em mel e calda nossos corações.
Habitamos neles. Com eles crescemos.
A primeira vez que te vi quis te ver outras.
Entre amedrontados e envergonhados
teus olhos notaram os meus:
envergonhados e amedrontados.
Desde então te amo.
E não há um só encontro nosso
que não tenha se eternizado em mim,
minha vida toda. Revejo-os.
Como na primeira vez que te vi
e vi teus meigos olhos.
18)
Para onde o amor me leva,
é para lá que eu vou...
Desarmado de princípios e propósitos.
Feito de carne, vertigens e êxtase.
Ser eterno em segundos de prazer.
O amor me toma pela mão
e me guia sobre trevas e píncaros.
Tudo me faz agüentar, mas dormir
não me deixa, por quais motivos não sei.
Ou sei e acho demasiadamente gostoso,
intraduzível, soberano e sem-fim.
Nessas horas o triunfante sou eu.
Eu todo suspiros, feliz em brasas.
Já com saudades da próxima vez.
Com vontade imensa de só ficar acordado.
Tenho fome, tenho fome e a fome
é maior que o sono.
19)
Não são apenas palavras,
que estas podem ser escritas ou ditas
com a mesma intensidade da flor
brotando no lodo da pedra.
São atos sem omissões.
Uma culpa minha, máxima e assumida.
Meu corpo sem o teu é só abandono.
Só abandono. Abandono só.
Transpirando suores queixosos
de suprema falta de comunhão.
20)
O que sabia de mim não sei mais.
Divido-me em antes e agora. E depois?
Venho descobrindo novidades.
Cada encontro um sabor, um cheiro.
As pedras que chutei, retornaram.
Se tocá-las, é bem capaz
de se transformarem em flores,
em pluma, orvalho ou algo similar.
Que magnitude em mim.
A paz do jamais experimentado.
Paz incompreensível, consciente de si,
força vital, um quase dom.
Se quisesse, faria milagres, o impossível até...
A serviço do amor, tudo posso.
Alcanço a plenitude, posso tudo.
21)
Cada encontro um favo de mel.
Eu, zangão, entre a flor e a abelha
que ela é, sabe ser, delicada e a fim.
Sem ela e o ar nada há.
Respiramo-nos, confortáveis.
Penso nela diuturnamente. O oxigênio
é ela, só que visível e palpável.
Ar nos pulmões. Ar no cérebro.
O coração bombeia. Ela é o sangue também.
Nosso amor é doce. Energia e vigor.
Colméia de desejos nosso amor.
22)
Apaixonado, inesgotável para prazeres,
quero teu corpo como a um altar,
ponho-te no trono, faço-te caverna
de benfazejas loucuras desconhecidas
e juntos descobrimos o novo sempre.
Te amo com dor. Dói e queres mais
e eu mais, mais ainda.
Insondável amor. Insanável vontade.
Brutal sensibilidade. Ganância angelical.
Te querer com fúria. Te comer com fome.
Estamos em nós. Somos nossos.
Corpos ansiosos. Almas realizadas.
23)
Depois do amor ela quase morre de sede.
Fica ansiosa por água. Bebe.
Lava-se por dentro, toda frescor, mulher líquida.
E molhadinha continua.
Ela, um manancial tão sedento. Fresquinha.
Quase evapora-se durante o prazer.
Vai às nuvens. Seu gôzo é chuva que ela só sente. Que só ela sente.
Mas que me inunda, me encharca,
tromba d’água, temporal que nunca estia.
Ela goza e uma aura circunda seu corpo.
Vem a sede. Ela, de boca seca, pede água, água,
água pelo amor de Deus e de mim...
Saciada, muito ainda tem por saciar.
Para alcançar o gôzo atravessa um deserto.
Nessa travessia ofereço-lhe um cáctus.
Nesse cáctus sem espinhos há uma flor.
Depois que goza, a água que ela bebe
rega esta flor que no auge ela colhe.
24)
Palavras existem para serem silenciadas
na hora do bem bom, da graça intraduzível,
quando o que menos importa são coisas ditas,
linguagem desnecessária ante o ato que tudo diz.
Sentir é mais importante.
Viver assim é muito doido.
É muito fundo poder ir além da vida.
Anjos sussurram.
Não palavras, que o dizer deles é alado
e frases com asas ninguém na terra entende.
Tudo é celestial demais nessas horas. Vôo louco.
Grunhidos, sons de línguas molhando os lábios...
O melhor deste silêncio são teus sentidos gemidos.
As vezes uma lágrima muda,
furor de dentes na carne.
25)
Um homem feliz, longe de perturbações.
Alheio a tudo, caminha entre os demais,
todos comuns, olhos sem brilho, a esmo.
A praça tem mais sol, é delirante.
A cidade basta ao seu caminhar e ritmo.
O coração doendo de aguda alegria...
O peito dolorido só de lembrar.
Respira e dói sua gostosa sublimação.
Andar lépido, camisa de vento,
asas que o prazer tornou invisível.
O prazer anestesia. O prazer redime o homem.
O céu é aqui e lá...
26)
Agora sei: existi não existindo.
Resisti a mim enquanto eu.
Homem de sonhos esquecidos.
Solitário em suas tempestades.
Sem esperar nada, avêsso aos dias,
não admitindo saudade.
Com sua doce presença, serena e suave
o anjo moreno resgatou-me.
Abriu-se o tempo. Findou o silêncio.
A existência para mim é esperança.
Minha alegria transforma o mundo.
Ela é minha felicidade. Sou feliz!
27)
Estás em tudo.
Integrada no todo.
Segues distraída.
Meu olhar te despe.
O horizonte está em ti.
O início és tu.
Tens memória de nós.
De nosso tempo.
Te lembras perfeitamente.
Tão nítida.
Te percebo aqui.
Silêncio e som.
Fonte da vida toda.
Meu amor por ti é tudo.
28)
Tua ausência por tão longo tempo
me tornou esquecido. Onde andei?
Fui somente um fragmento.
Tua volta me fêz encontrar-me.
Agigantou-se meu coração.
Imensamente sou.
Eu comigo.
Agora tenho perguntas
para todas as respostas.
29)
Não há ternura maior
que teu doce olhar sobre mim.
Fico todo iluminado quando me vês.
Olhos encantadores. Beleza rara. Calmos.
Têm linguagem sem palavras...
Me vêem, apaziguado e febril.
Minha iluminação se expande.
Teu doce olhar sobre mim é só encanto.
Essa ternura mais suave
que a mais leve das manhãs.
A última estrela.
O primeiro raio de sol.
30)
Dentro dos teus olhos
o menino de ontem
passeia pela praça,
prolongado pelas tardes.
Sem cautela, solto,
pele de veludo,
cabeça de lirismo,
poesia entre os dedos.
Vês, na distância,
o menino-desatino,
o menino-sem-destino,
o teu singelo menino,
simples, simples.
Guarda-me em teus olhos,
assim como sempre.
O menino de ontem.
O teu homem de agora.
31)
A saudade era tanta
que o tempo não ficou vazio.
Algo invisível jamais deixou de nos unir.
Confidências sussurradas. Beijos molhados.
Abraços imensos. Olhares perfeitos. Cheiro bom.
Tuas mãos nas minhas, completando-se.
Repartimo-nos em nós.
Multiplicamo-nos conosco
Não inventei a saudade.
A saudade não foi criação minha.
Companheira, dona de recordações.
Acompanhou-me, leal comigo.
Fêz do tempo do amor presença constante.
O amor presente preencheu-me.
32)
Não falamos palavras vazias.
Frases de nossas bocas permaneceram,
ecoando em nós, confidentes.
Nos unem, qual elos de certeza.
Hibernadas, nossas vozes se ouviram,
circularam em nosso sangue,
vida mantida no tempo de espera.
Há sentimentos para sempre.
Intraduzíveis. Indizíveis.
Palavras indestrutíveis do silêncio.
Silêncio que ouvimos e que nos ouve.
33)
É assim que te amo: plantador
de árvores gigantes, cujas sombras
só gerações futuras desfrutarão.
Cuido de ti pacientemente...
Fico tranqüilo, regando-te,
frondosa mulher em mim fincada.
Há em meu peito um jardim secreto.
Aí te plantei para ser mais humano.
És minha vida e me sinto mais ameno.
Árvore eterna do meu eu arvorado.
34)
Começaste em mim antes que soubesses
do meu tímido existir em abstração.
Te vi de manhã. (A manhã inaugura sóis.)
Já te trazia por meu querer.
(Queria alguém como tu.)
Uma pessoa que me apaziguasse.
Musa que me desse alento e cantos.
Os dias antes de ti
te anunciavam para mim.
Te descobri minha. Me descobriste teu.
Obsessão de vida. Amanhecer de meus dias.
Quando chegaste eu já te esperava
fazia um tempo.
Findaram-se as noites. Suave manhã
se desdobrando em outras manhãs
e trazendo novos cantos.
35)
Somos um do outro
dentro e fora – antes e agora.
Um do outro fomos – e seremos.
Te pertenço e não sou meu.
Sou teu, dando-me por inteiro.
Entregue a ti e em paz comigo.
Amando-te e respeitando-te
em expansão infinita.
A vida torna-se maior.
Torna-se melhor a vida.
36)
Te descobri e agora te redescubro.
A permanência do ontem influi
nessa redescoberta. Muito ficou.
Tudo em nós foi duradouro.
E agora não tem mais fim.
Nos reencontramos, enfim...
37)
Diante de ti não sei me expressar bem.
Palavras fugidias me faltam.
Olho-te para te dizer tudo.
(Mas também meu olhar é às vezes mudo.)
Sei fazer poemas. Versos livres
que continuam te pertencendo...
A dona do poeta o compreende e o aceita.
(Palavras escritas compensam as não ditas.)
E ficam, inauditas...
38)
Desejo de vida.
Quando eras apenas memória,
lembranças me sustentaram.
Percorri os caminhos de outrora
abraçado à solidão de meus dias.
A vida, um esboço. Rascunho de amor.
Havia névoa logo à frente. Saudade
era a tradução do tempo.
Saudade de viver o desejado.
39)
O tempo nos preservou.
Fêz de nosso amor sua reserva de esperança.
Tão exato, o tempo. Atualiza-se
com a dimensão de sentimentos imensos.
O tempo contínuo. Ininterrupto.
Indiferente aos contratempos.
Veloz para os passatempos.
Perdurou em nós, em forma de amor.
Amor além do tempo. Esperança reservada
para o tempo presente.
40)
Impossível me foi fugir de tua ausência.
Penetravas meu mais indevassável escudo.
Eu: tão forte, tão frágil. Louco por ti.
Não consegui esconder este sol de amor ardente.
Sementes afloraram. Meu amor-alimento.
Quanto mais distante, mais presente estavas.
Pensamentos em segredo. Delírios azuis.
Assim permaneci até te rever.
Foi quando o céu juntou-se ao chão.
Tua ausência se aproximou. O amor fecundou-se.
Nos alimentamos de flores
e não temos mais fome. Juntos estamos.
41)
A mais amada não calcula o tanto,
não imagina o quanto, não sabe de nada.
Ela não tem idéia. Não é capaz de ter noção
de minha multiplicidade por ela. De meu
gorjeio de homem-pássaro, ultrapassando
seus ares de menina ainda acordando a mulher.
Não posso definir-me por sua conta.
Penso ser e sou mais que o pensado.
A mais amada é o centro de tudo.
Fêz-se luz de minha eternidade. Essência
pura de espiritual matéria.
Minha amada é o meu sol.
42)
Beijo mordo sugo acaricio apalpo abraço
a extensão morena do teu corpo macio.
Beijo a extensão morena do teu corpo macio.
Mordo a extensão morena do teu corpo macio.
Sugo a extensão morena do teu corpo macio.
Acaricio a extensão morena do teu corpo macio.
Apalpo a extensão morena do teu corpo macio.
Abraço a extensão morena do teu corpo macio.
Adoro, venero tua sublime flor.
Ofereço-te a haste.
O mais é gôzo. E tudo é amor
nas planícies onduladas da extensão morena
do teu corpo macio.
43)
Sempre assim.
Nosso primeiro encontro foi tão lindo
que o mais recente a ele se compara.
Cada dia melhor. Cada vez maior.
Nosso amor vai atravessar o século.
Dois universos fundidos em um.
Cada dia maior. Cada vez melhor.
Sonhos integrados à difícil realidade.
União de almas e corpos. Passado e futuro.
Tão bom quanto foi, é e será.
44)
Enquanto me procuravas feito louca pelas ruas,
andavas de lá-pra-cá na minha cabeça.
Não tive descanso. Mantive a lucidez
mesmo habitando uma esfera em torno de ti.
Por ti criei cores, tive idéias, suspirei sem-fim...
Através de ti olhei o mundo em volta...
Continuas zanzando em meu cérebro.
Sabes perfeitamente o sangüíneo caminho
que te leva ao meu coração.
Procura a quietude. Dorme comigo.
Acorda em mim o sossego. Minha cabeça
te segue e não te cansas de me procurar.
Só nos encontramos dentro de nós...
45)
conhecer teu corpo suave
tornou-me um geógrafo
teu corpo moreno conhecer
trouxe-me diálogo à pele
ondulado corpo que conheço
pasto de delícias frescor e suor
corpo ondulado moreno e suave
magia serena de meu amor maior
46)
eu te amo
às vezes é doce a dor
de ser feliz
eu te amo
às vezes a fonte bebe
de sua própria sede
eu te amo
às vezes a ternura é sangue
em nossas veias de emoção
eu te amo
um momento em ti
é toda eternidade em mim
47)
como um sino silencioso na torre
como o horizonte que permite o além
como a essência que nutre desejos
como a certeza de algo já confirmado
como a lágrima doce da alegria
como a manhã dormindo seu sono
como um olhar só de carinho
como cheiro impregnado
em todos os sentidos
eu te reencontrei
para novamente encontrar-me
como presença indefinida no tempo
como palavra de um poema sem chuva
como espaço vazio agora preenchido
eu te reencontrei e em ti tenho vivido
48)
muito tempo armazenei
amor memória esperança desejos
te inventei em muitas noites
em lençóis de solidão calada
te alimentei de buscas e sofri
mantendo os desejos a esperança
o amor que armazenei muito tempo
no coração de minha memória
49)
enquanto ceifei saudades
lembrei carinhos pelas metades
teus dedos cheios de promessas
tua voz permanecendo em sussurros
reproduzi teu semblante na mente
desatinei volúpias imaginárias
sofri calado e calado renunciei a tudo
muitas águas passadas
e muitas a passar
houve o tempo das sementes
do plantio em chão difícil
a paciência da espera
a colheita agora vem aos poucos
é nosso alimento nessa hora
as tardes ainda são azuis
tudo volta ao ponto de partida
este antigo amor é que nos renova
50)
amar e querer-te bem
dona de mim senhora do meu prazer
caminho de novo a tua estrada
não me encontro mais sozinho
estás comigo não sou mais ausência
todas as sombras clarearam
tudo posso em ti meu amor
51)
quando meu coração já não suportava mais a sutileza do solitário sofrimento quando meu coração já não se sentia mais seduzido pela solidão de sua estranha calma quando meu coração já não amanhecia mais todos os dias e não havia aqueles domingos ela – sempre ela – ressurgiu surgindo com seu sorriso lindo seu olhar infindo seu corpo vindo e meu coração foi indo não mais caindo meu coração pedindo expandindo se sobressaindo
52)
no mapa do meu peito
ela demarcou uma área
há muito inabitada
onde hoje reina comigo
absoluta tranquila segura de si
deitando raízes de prazer
53)
Meu amor de tanto tempo
me transmitiu silêncios, absolutas verdades:
um sonho não se resume a meio caminho andado,
quando há infinitudes no caminhar para sempre.
Desejos são mais que suspiros: concretizam-se
na ardência de corpos que se descobriram
ainda no frescor de peles orvalhadas,
inocentemente despertas para o prazer.
Esperar é saber que não há fim no eternizado...
(Pronuncio em pensamento teu nome minha vida toda).
Todos os soluços me lapidaram. Todos.
Aprendi com meu amor que o tempo
não é feito de mármore.
O tempo (menos forte que nosso sentimento)
é exclusivo para quem busca seu tempo.
Tudo é tão sublime entre nós que o ontem permanece futuro...
Ando atormentado comigo,
prazerosamente admirado
com os ensinamentos por ela transmitidos,
a mais absoluta verdade em forma de silêncio,
tudo tão fundo e belo, tudo tão alto e claro.
Meu amor de tanto tempo é um amor eterno
e novo.
54)
Tudo que foi em nós guarda um sabor
de fome, de olhos, de mãos, de toques,
de carícias, de cheiros, de luz, de chuvas, sobretudo de sóis.
A vida ficou esplêndida a partir de nós...
Somos um arquivo de acontecimentos memoráveis...
Mais dia, menos dia, rasgaremos as tardes
e devoraremos as noites.
Minha alma já sonhou com frutos menos doces
- cultivei um pomar e agora ela vem colher,
adocicando cada um destes frutos,
(a)provando-os,
com suas mãos sutis, com sua boca carnuda.
Ela gosta do caldo que destilei, ela gosta muito.
Por ela todos estes frutos são os melhores
e mais saborosos,
para ela todos estes frutos foram cultivados,
ela dá sabor a tudo que foi em nós
gôsto de saudade,
essa frutífera árvore
que também possibilita sombra.
55)
Viajo em torno de ti.
Em roda de ti dou mil e umas voltas.
Encontro coisas que não sei nomear.
Sou de muitos jeitos e sou todo mistério,
porque em tua circunferência há o indesvendável,
não há limite para minhas andanças, divagações,
devaneios, buscas desenfreadas, correria louca...
Em torno de ti fico tonto de tanto girar, gravitar,