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Artigos-->Chico brasileiro -- 28/06/2004 - 10:22 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há uma sensação comum nas audições, audiências, leituras e interpretações que a obra de Francisco Buarque de Holanda propicia: a coerência no comprometimento com a construção de um mundo digno e a qualidade elevada de sua produção artística.



Aos apelos dos meios de comunicação sobre seu aniversário, dia 19 de junho, Chico respondeu: Não sou cabotino a ponto de fazer uma auto-homenagem. Ainda bem que a gente envelhece aos pouquinhos". Nos tributos que lhe são dados, terá destaque a mostra audiovisual da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, a partir de julho, com fotos de família, imagens de seus trabalhos para teatro e cinema, músicas e uma recriação do escritório de seu pai, Sérgio, historiador que é marco na produção cultural brasileira. Também ganha caixa com 12 CDs e 2 DVDs. No dia 10 de julho, o norte-americano Paul Auster lerá trechos de "Budapeste" na Festa Literária Internacional de Parati.



Filho de Sérgio e Maria Amélia, Chico mudou aos nove anos para Roma. Na Itália, estudava em escola americana, falava em italiano e, em casa, o português. Escreveu suas primeiras marchinhas de carnaval. De volta ao Brasil, aos 23 anos ganhou projeção com "A Banda", uma das vencedoras do II Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record.



Os sambas de Noel Rosa, Ismael Silva e Ataulfo Alves eram os seus preferidos, junto com canções interpretadas por Elvis Presley e The Platters. Afirmou que seu sonho era "cantar como João Gilberto, fazer música como Tom Jobim e letra como Vinicius de Moraes". Sua estréia aconteceu em 1964, com "Canção dos olhos", no Colégio Santa Cruz. No ano seguinte lançou seu primeiro disco, com "Pedro pedreiro" e "Sonho de um Carnaval". No mesmo ano, musicou o poema "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Mello Neto. Seu último disco é "Cambaio", trilha realizada com Edu Lobo para a peça de Adriana e João Falcão, que tem o mesmo nome.



Nem todas as passagens de sua vida são marca do sucesso. Mas várias têm o sinal da permanência: "Sabiá", parceria com Tom Jobim, foi vaiada num festival de música em 1968; depois, foi reconhecida como hino dos exilados pela ditadura imposta em 1964. Durante o regime militar, voltou para Roma. O italiano Luca Bacchini, que escreveu "Francesco-Francisco — Chico Buarque de Hollanda e a Itália", diz que ele, com o parceiro e amigo Toquinho, cantava "marchinhas de Carnaval, para agradar o público". Menciona a passagem do artista pelo time Mentana, da terceira divisão do futebol italiano.



Na época, várias de suas composições tinham a execução proibida. Para driblar os censores, passou a assinar Julinho de Adelaide ou Leonel Paiva ("Acorda, amor" e "Milagre brasileiro", por exemplo). Mas a ditadura descobriu o verdadeiro compositor e passou a exigir o envio do número do documento de identidade de todos os autores para analisar as obras.



Em 1966, publicou o livro de canções "A banda", com as partituras, as letras e o conto Ulisses manuscritos. Em 1974, publicou a novela "Fazenda Modelo"; em 91, "Estorvo"; em 95, "Benjamim" e, em 2003, "Budapeste". "Estorvo" e "Benjamin" foram adaptadas para o cinema, assim como a peça "Ópera do malandro", sua recriação da "Ópera dos 3 vinténs", de Bertolt Brecht. No teatro, estreou como autor em 1968 com "Roda Viva", nome de uma de suas canções que venceram festival. Fascistas do Comando de Caça aos Comunistas invadiram o teatro Galpão, onde era encenada em São Paulo, depredaram as instalações e espancaram atores e técnicos. Pouco antes, Chico havia participado da Passeata dos Cem Mil, contra a ditadura, no Rio de Janeiro. "Calabar", escrita com Ruy Guerra, foi censurada, assim como o disco que trazia a trilha sonora. Ainda no cinema, além de composição de trilhas sonoras, e participação em roteiros, atuou como ator, em "Quando o Carnaval chegar", de Cacá Diegues (1972); "O mandarim", de Júlio Bressane (1995); "Ed Mort", de Alain Fresnot (1996).



Não é possível abordar os 60 anos de vida de Chico sem falar de sua atuação política no país onde nasceu, vive e atua. Em 84, lançou "Vai Passar", apontando esperanças que surgiam com o chegar do fim inevitável da ditadura militar. Em 1970, havia lançado "Apesar de Você", liberada e em seguida proibida de ser executada nas emissoras de radiodifusão. Trabalhos seus ainda podem estar engavetados na censura. Duas canções, "Vigília" e "Primeiro encontro", foram divulgadas este ano e ele achou "possível" que sejam de sua autoria. Enviava à censura letras para enganar os funcionários do órgão, inclusive com estrofes a mais. Uma censora contou que, ao receberem as letras, ela e outros agentes da repressão tentavam adivinhar algum jogo de palavras sorrateiro. Sua música primeira vetada foi "Tamandaré", em 1966, considerada "ofensiva ao patrono da Marinha". Até a versão da italiana "Gesubambino", de Dalla e Pallotino ("Minha história"), foi proibida por ser incompatível com o respeito que se deve às convicções religiosas existentes no país .



"Cordão" foi considerada um protesto contra a ordem vigente - um de seus versos ("Pois quem tiver nada pra perder vai formar comigo um imenso cordão") é uma alusão ao de texto "Nada tendes a perder, a não ser os próprios grilhões. Proletários de todo o mundo, uni-vos!", do "Manifesto do Partido Comunista", de Marx e Engels.



Mas é injusto reduzir a obra de Chico aos entreveros com a polícia política. Nela estão registrados, além do lirismo ("e da sífilis, é claro", como registra no "Fado Tropical", parceria com Ruy Guerra), momentos importantes da vida social, política e econômica do país. Canções como "A televisão", "Cara a cara", "Pelas tabelas", "O que será?", "Sonhos sonhos são", "Assentamento" e incontáveis outras fazem parte da construção da alma brasileira. Em 1995, desabafou: "Ficam me perguntando: Por que você não faz aquelas músicas de antes? . Não faço porque eu já fiz, quero fazer coisas diferentes".



Às vésperas de ser apresentado pessoalmente a Chico Buarque, em 1999, Luís Fernando Veríssimo escreveu uma crônica em que pode ser considerado portador de uma gratidão de toda a gente de bem: "vou poder dizer Muito prazer , com algum vagar, ao Chico Buarque. Um muito prazer não-protocolar, abrangente e retroativo, significando que foi um imenso prazer não apenas conhecê-lo mas ser seu contemporâneo, eu e todo o Brasil. Vou agradecer por todos estes anos, pelas músicas e a poesia, pelas peças e os livros, e pelo exemplo".

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