POUSOS
Pássaros têm aparecido
no armazém de manhãs,
no empório de tardes
em melódica,
diária coincidência.
E nas prisões em noites,
onde é mais rude o canto,
eles não voam,
comparecem em ecos.
De todos vistos,
em árvores extremas,
nenhum foi raro.
Asas cinzas sobre Piccadilly Circus
de pombos iguais em indiferença.
Corpos marrons alaranjados
dos sabiás em refúgio no Cambuci.
Gordos corvos negros
nas terras altas da Escócia.
Periquitos esmeraldas
nas montanhas de Minas.
Perdizes ferrugem fugindo
de homens em Palmeira dos Índios.
E mesmo pardais e pássaros-crianças-feridos
pousados sobre o erro das grandes cidades.
Nenhum deles foi raro.
Nem mesmo o canto foi raro.
Neles, a música é uma arma diária.
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