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Contos-->QUEBRA DE MILHO ou PISTOLAGEM -- 05/01/2002 - 22:49 (Euripedes SIlva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
QUEBRA DE MILHO ou PISTOLAGEM
Gyn, 23DEZ01


- Boa noite, senhora. O Sr. João Ferreira mora aqui? Ele esta em casa?
- Boa noite, ele não se encontra em casa. Esta viajando para Minaçu.
- Que dia ele chega?
- Talvez amanhã... deixa eu ver, hoje é quinta feira, é deve ser amanhã. O senhor quer deixar algum recado?
- Não senhora. Precisamos conversar sobre um serviço de ponte e pontilhão para fazenda, lá no município de Jatai. Depois a gente volta para conversar com ele. Até já.
Dona Marcolina tinha vindo atender a porta naquela hora da noite quando a novela das sete estava no final do capitulo daquela noite, já pertinho de começar o jornal nacional. Parou no portão da garagem sem abri-lo, pois não conhecia a pessoa que tocava a campanhia. Notou que era um homem gordo, beirando os quarenta anos de idade, trajando camiseta branca com propaganda política, calças azuis e botina mateira. Era meio careca, tinha o rosto redondo como a gente pernambucana e um dente de ouro. O carro do qual ele desceu era um Santana azul escuro modelo antigo, sujo de poeira de rodovia e dentro dele ficara uma pessoa ao volante e outro no banco de trás. Não viu a cara deles.
Seu marido era empreiteiro de obras rodoviárias de pequeno porte, e fazia muito serviço

para prefeituras do interior. Ainda agora estava terminando uma ponte na zona rural de Minaçu e poderia perfeitamente pegar outro serviço, como acontecia sempre. Quando o carro se afastou viu a placa, mais para se certificar de ser ou não carro chapa/branca. Não era. A placa era comum e pareceu-lhe ser de Araguaina. Alguns pensamentos ruins lhe veio a mente sobre quando morou nesta cidade a mais de quatro anos e o seu marido chegou a ser suspeito de ter ajudado na morte de um pistoleiro vagabundo que vivia matando pessoas inocentes para um tal de João Garageiro.
João Ferreira, seu marido tinha muitos interesses naquela progressista cidade do norte, fazendo uma serviçama danada para a prefeitura. O prefeito era um fazendeiro honesto e tinha resolvido arrumar as estradas do município, fazendo pontes onde não tinha, bueiros, mata-burros, em fim organizando as estradas vicinais do seu município, para que os moradores da zona rural tivessem uma vida mais amena quando precisassem vir na cidade. Pensava o prefeito, que quem sustenta o município e a gente da zona rural que manda para a sede toda a sua produção seja de leite, de arroz, feijão, bois, ou qualquer outra coisa, logo estes trabalhadores mereciam um tratamento melhor um pouquinho.
O marido de Marcolina, por ser um mestre na arte de fazer pontes de madeira e de cimento tinha os maiores contratos e ficou até meio rico naquela administração. Fazia o serviço e entregava, recebendo sem ter de pagar propina para ninguém. Não sabia direito porque tinham se mudado daquela cidade, mas não questionou muito o seu marido, pois ele estava muito nervoso naquela ocasião. Ficou olhando o carro daquela pessoas descer vagarosamente a rua e virar na esquina. Os homens pareciam normais e certamente seria a contratação de algum serviço de estrada, pensou ela.
Sabe, Tonico, já estou ficando com raiva deste cabra safado. Esta dando trabalho de mais para nos.
- Pois é,. a gente veio com pouco dinheiro. O patrão disse que era para chegar aqui, resolver o serviço e voltar. Não precisava nem ficar em hotel.
- Mas você viu eu falando com ele ontem por telefone. Disse que era para esperar o homem e fazer o serviço. Não é para voltar com a coisa pelo caminho.
- Daqui lá em Jatai, e bastante longe, para ficar indo e voltando todo dia. Ele mandou mais dinheiro para cobrir as despesas?
- Olha, Zé Matogrosso, não ele não mandou nada, disse que é para acertar as despesas com o dinheiro que já nos deu, e levar nota fiscal, que lá nos repõe o que gastar.
- Este negócio de gastar por conta, eu não gosto de fazer. De repente a gente precisa sair depressa daqui e nem pode voltar em Jatai. Acho que é melhor o Hélio, pagar as despesas, pois ele é mesmo o dono do carro, quem recebeu mais, alem disto é amigo do mandante. O que você acha, Tonico?
- Não tem problemas. O dinheiro que tenho comigo, dá bem para pagar as diárias do hotel. Depois eu recebo. Vou telefonar para ele novamente. Ali tem um telefone público e parece estar meio isolado.
- Alo? Cadê o patrão? E´ o Tonico.
- Fala Tonico, já resolveu o assunto? Aquele desgraçado já foi mandado para falar com o criador?
- Não. O homem ainda não voltou. Deve chegar amanhã. A gente espera ou volta outro dia para fazer ele?
- Eu quero este assunto resolvido de vez. Vocês esperam ai até ele aparecer..
- Já fomos duas vezes na casa dele. A mulher parece desconfiada. Não é melhor ver onde ele está trabalhando e montar uma tocaia, numa estrada rural mais isola....
- Deixa de ser frouxo rapaz. Vocês são três estranhos ai em Goiânia. Depois aquele safado faz obras para muita gente. Qualquer um pode procurar ele. Fiquem por ai. Se acontecer alguma coisa, vocês sabem que eu tenho costas quentes aqui e posso resolver qualquer coisa apenas com um telefonema. E depois tem mais, já paguei pelo serviço. Quero ver o resultado.
- Só que não estava no “orçamento” ficar aqui tantos dias. O hotel esta rolando e tanto o Zé Matogrosso, quanto o Hélio estão reclamando que a parte que tocou a eles neste negocio é muito pouco e... parou de falar por um minuto, olhando para um ambulante que oferecia alguma coisa ao Hélio que estava ao volante do carro. Este despachou o vendedor rispidamente...
- .....
- Você já fez outros serviços para mim e nunca o deixei na mão. Já disse que pode acertar o preço das diárias e pegar a nota do que gastar que eu pago depois. Fique aí o tempo necessário e faça o combinado. Até logo.
O telefone ficou mudo. Aquela atitude dele era conhecida quando o homem não queria discutir alguma coisa que julgava já resolvida e devia ser seguido a risca o que tivesse determinado.
No dia seguinte as mesmas pessoas, e mais ou menos no mesmo horário apareceram com a mesma pergunta na porta de dona Marcolina. Assim vieram três dias seguidos. No terceiro dia, era Sábado e o carro para na porta da casa de dona Marcolina. Ela olha pelo vitral semi-aberto e vê que são as mesmas pessoas que tem procurado seu marido dias seguidos, sai da janela e avisa para o marido que se encontra deitado no sofá da sala vendo o Jornal Nacional da TV sobre as visitas que o tem procurado para falar sobre construção de pontes no município de Jataí. Ele se levanta, calça os chinelos e vai atender o portão. Esta vestido apenas com uma bermuda e uma camiseta.
- Boa noite.
- Boa noite, vamos chegar. Os senhores estão querendo falar comigo?
- Sim. Mas a gente esta com um pouco de pressa. Vamos conversar rapidamente aqui mesmo. O Sr. faz serviços de construção de pontes em estradas rurais. Precisamos de construir duas pontes na fazenda do patrão no município de Rio Verde. Coisa pequena, cada uma não deve ter mais do que vinte metros.
- Sim. Tenho uma pequena empresa que faz estes serviços. Já fiz algumas obras para a prefeitura de Jatai, como aquela ponte de cimente que fica na estrada de Bom Jardim. Ela tem mais ou menos dezoito metros e foi feita com dois pilares em cada barranco do córrego Lajeado.
- Aquele pontilhão sobre o córrego Caracol, perto do morro do macaco, na fazenda dos Andrades, foi o senhor que fez?
- È ... Fomos nós... já faz mais ou menos dois anos.
Do carro havia descido o outro passageiro e ficado de pé ao lado daquele que falava com o empreiteiro. Ele não tinha falado nada, nem ao menos boa noite para João Ferreira. O interlocutor visitante, olhou á matreira para ele e este fez um aceno como se aprovasse a conversa,
- Mas se os senhores querem falar sobre algum serviço é melhor entrar para a garagem. Vamos sentar aqui e conversar mais tranqüilo, enquanto eu peço para minha mulher providenciar um café para nos. Chame o seu companheiro do volante...
- Não... sô João. Nossa conversa já demorou demais. O nosso assunto é outro.... disse o segundo visitante e que não havia dito nada até então... sacou da cintura, um revolver. Ato continuo o outro que era bem falante o imitou e ambos começaram a dar tiros no empreiteiro.
João Ferreira achava que os perigos de uma emboscada com assassinato contra si fossem apenas nas proximidades de Minaçu. Tentou correr para o interior de sua casa, indo para o lado do carro ali estacionado pensando em se abrigar dos tiros. Não teve tempo suficiente e pelo menos uns oito tiros o atingiram na frente e pelas costas.
Sua esposa veio correndo, assustada com o barulho do tiroteio, e ainda levou um tiro de raspão na cabeça, caindo por cima do marido. Os bandidos voltaram correndo para o carro e este saiu cantando os pneus indo em direção da rua principal do bairro. Os vizinhos ao ouvirem aquele movimento inusitado para o local e horário, saíram na rua. Tentaram socorrer o amigo, mas não havia mais tempo, este estava morto. A mulher tinha se levantado, e apenas estava meio tonta, mesmo assim foi levada para o pronto socorro.
A policia foi chamada. Meia hora depois uma viatura estava no local onde tinha acontecido o crime. Logo depois, chegou uma viatura da delegacia de homicídios com dois policiais para fazer o levantamento do local. A policia técnica estava junto. A conversa com os vizinhos não resultou em muito proveito. Apenas um garoto de doze anos tinha visto o carro estacionado na porta do Sr. João, mas não tinha prestado atenção neste ou nos seus ocupantes. Dona Marcolina foi ouvida e contou que aquele carro tinha estado duas vezes seguidas em sua porta. Eram três homens morenos que o ocupavam, com caras de gente do norte do pais e a placa do carro era particular e de Araguarina. Seu marido tinha problemas com um garageiro de Minaçu, pois havia ajudado a policia a desvendar duas mortes envolvendo roubo de camionetas tendo um tal de João Garageiro como suspeito. Por esta razão eles tinha se mudado para Goiânia.
O perito, conseguiu recolher cinco capsulas deflagradas de arma calibre trezentos e oitenta caídas na calçada. Uma delas estava amassada. No carro da vitima havia diversos vestígios de tiros, e dois projéteis foram encontrados embaixo dele. Na entrada da garagem, havia uma fina camada de areia úmida por onde o carro dos bandidos passara e deixara bem explicito a marca do pneu mostrando que este estava com um pequeno defeito. Este detalhe foi fotografado. Ao conversar com dona Marcolina, querendo saber qual a posição que os assassinos de seu marido estiveram no portão ela indicou que um deles estava escorado no batente e descansava uma das mãos no metalom da grade. Foi examinado esta peça com um possante selead brean e levantado uma impressão digital e outra palmar. Na rua em posição compatível com o lado do motorista do veiculo suspeito foi encontrado no chão uma ponta de cigarro contendo a marca e foi recolhido. Não foi encontrado mais vestígios.
O corpo foi removido para o IML e lá o delegado MARCUS TRAVEJANE acompanhou a autopsia ao lado do medico perito DR. Ricardo BARCELOS. O corpo apresentava oito orifícios de entrada, sendo dois pela frente e o restante pelas costas. Os dois da frente tinha acertado no peito e trasfixado. Os demais atingiram a nuca, costas e um na perna esquerda. Dois projeteis 38 foram retirados do peito e um 380 da cabeça. A trajetória dos disparos era compatível com atirador e vitima de pé e a curta distancia. Um dos tiros dado nas costas, indicada que atingiu a vitima quando esta já estava inclinada caindo. O tiro da perna foi dado com ele já deitado no chão. O delegado saiu da sala da perícia, matutando o que poderia ser feito para desvendar o crime. Até aquele momento não tinha muitos elementos para se chegar aos autores.
Chegando na delegacia, ele chamou seus dois agentes para discutirem a dinâmica do evento. A um canto da mesa, sentou-se REINALDO e na outra ponta JOCA. O chefe falou sobre o que tinha levantado com os peritos. No local do crime tinha estado com ele o segundo agente. Os fatos conhecidos eram: A vitima se chamava João Ferreira, tendo a sua qualificação, era empreiteiro de obras rurais e estava morando em Goiânia, tentando se esconder de um problema com alguém poderoso da cidade de Minaçu. Esta pessoa se chamava também João e era dono de garagem de carros. Os pistoleiros eram três, ambos com caras típicas de gente do norte do pais. Estavam em um carro Santana antigo, cor azul, placa não identificada mas de Araguaina. Estiveram três vezes no mesmo local e em dias diferentes. Foi usado duas armas sendo um revolver calibre trinta e oito e uma semi automática calibre 380. Fora recolhido alguns projéteis e capsulas deflagradas.
- Tudo indica que trata-se de um crime por encomenda, falou Joca.
- Não resta dúvidas sobre isto, ponderou Reinaldo. Acho que devemos fazer um levantamento sobre a vida da vitima, começando por eventuais passagens pela policia e ver quem eram seus inimigos lá em Minaçu.
- Vocês vão verificar ainda hoje, quais as pensões e hotéis de baixa categoria que funcionam nas imediações de onde aconteceu o atentado. Encontrando, verificar se três indivíduos com as características dos suspeitos se hospedaram por ali, inclusive procurando amarrar os fatos com o carro.
Naquela manhã os agentes pegaram a viatura descaracterizada e foram para a vila São Paulo onde tinha acontecido o crime. Pararam na rua da vitima e em uma padaria começaram a fazer indagações. O morto era pessoa de andar pouco no comercio da vizinhança. O dono do estabelecimento alegou nunca ter visto a cara dele, e somente o reconheceu quando ficou sabendo do velório de uma pessoa moradora ali da rua, e resolveu ir para uma visita fúnebre. Já o tinha visto umas duas ou três vezes. Ele provavelmente estava querendo não aparecer muito nas redondezas, pois em nenhum bar teve noticias do homem. Perguntaram também sobre o carro Santana cor azul escuro. No bar do Bigode, dois quarteirões acima, soube que eles tinham comprado cigarros e um litro de pinga Chora Rita. Neste bar havia um vendedor de fitas e CDs piratas, ávido para granjear a simpatia dos policiais. Sua atividade era muito arriscada pois a policia estava dando batidas constantes atras de pirateiros e levando colegas seus. Aproximou-se do policial e disse que na Sexta-feira quando estava passando na rua de baixo, viu o carro procurado estacionado ao lado de um telefone público e parou para oferecer um CD ou uma fita. Aquele que estava falando ao telefone, olhou para ele de modo censurativo e parou a conversa. Pensou que ele estivesse falando com alguma mulher e não queria ser ouvido. Não prestou atenção na placa do carro, mas viu que era do Estado do Tocantins.
O hotel mais perto de onde tinha ocorrido o crime ficava na Av. São Paulo, perto da velha estrada de ferro, e tinha o nome da mesma rua. Havia também na Vila São José um outro hotel com o nome de Nossa Senhora Aparecida, funcionando na rua 13, próximo da igreja Universal. Estiveram primeiro na rua São Paulo, e falaram demoradamente com o porteiro. Este disse que não esteve hospedado ali nenhum trio durante aquela semana e também não deu noticias do caro. No outro endereço, a dona não queria dar informações sobre seus hospedes. Ali era um ponto meio suspeito de encontros de mulheres de vida livre durante a noite e ela não gostava de policiais andando no seu estabelecimento a fazer perguntas. Poderia atrapalhas os seus negócios.
Joca, a chamou para um lado e lhe informou que havia uma lei, bastante antiga, mas ainda em vigor, falando sobre a obrigação de hotéis e similares fazerem registros de seus hospedes e repassar uma cópia para a policia. Se ela não colaborasse iria falar com o delegado para mandar uma intimação para ela se explicar na delegacia, provavelmente ela teria de fechar seu estabelecimento e pagar algumas multas para a prefeitura. A mulher mudou de idéia rapidamente e respondeu a todas as perguntas que o agente queria saber. Falou até sobre coisas que não estava investigando, como tráfico de drogas dando os nomes de quem vendia ali na sua porta. O agente percebeu que ela estava muito colaborativa de repente, e percebeu que ela alugava quartos para encontros. Possivelmente haveria mulheres menores envolvidas. Sobre o crime nada se apurou.
A conversa com a dona da pensão Nossa Senhora Aparecida não foi de toda perdida. Souberam que havia pelo menos outros cinco pequenos hotéis nas redondezas, e saíram dali com os seus endereços na algibeira. Reinaldo tinha o habito de anotar em um bloquinho as coisas mais importantes que ia descobrindo. Em uma pagina ficou anotado o assunto relacionado com a prostituição e o trafico. Um dia poderia precisar desta informação, pois homicídios estavam acontecendo diariamente em toda parte da cidade.
Passaram por mais três hotéis naquela manhã e nada de proveitoso foi encontrado. A coisa estava ficando difícil. Na parte da tarde, quando era mais ou menos quatro horas, chegaram em um hotel localizado em local mais afastado. Este ficava em uma prédio assobradado, em quase meio quarteirão, na avenida Anhanguera, no bairro de Campinas. Tinha um luminoso onde se lia Hotel Ipiranga – Familiar. Ele contornava toda a esquina e na parte térrea funcionava diversas lojas com o comercio de bijuterias. Havia também uma barbearia, uma farmácia e uma lanchonete. Uma pequena entrada lateral era onde estava a portaria. Esta era pequena, dando acesso para uma escada de mais ou menos dois metros de largura, e subia para a parte de hospedagem. Entraram nele e foram recebidos por um porteiro uniformizado. Se apresentaram para ele e foram encaminhados para a recepção onde uma gerente os recebeu.
Perguntaram pelo livro de registro de hospedes, e lhes foi trazido um grosso volume, formatado a mão onde constava o nome do hospede, numero da identidade, endereço, telefone e propósito da estada na capital. Este ultimo item estava em branco em quase todas as paginas. Perguntou se era registrado toda pessoa que entrava no hotel, sendo respondido que quando estavam em grupos, ou casais, apenas um era obrigado a registrar por cada apartamento. Reinaldo falou do trio que procurava, dizendo das características conhecidas. A recepcionista, pegou um outro livro, possivelmente o livro/caixa, este era mantido em local menos visível, pois não devia ficar á mão para que fiscais de tributos vissem com facilidade. Correu os olhos na ultima pagina e encontrou três apartamentos que tinham sido ocupados por três pessoas em comum, no final de semana.
O apartamento 125, tivera ocupado apenas por uma noite, no final de semana, de Sexta-feira para Sábado. As pessoas tinham chegado por volta de cinco horas da tarde e saído de madrugada, dizendo que iriam tomar um ônibus para São Paulo. O segundo grupo verificado ainda estava hospedado no apartamento 89 e haviam avisado na portaria que ficariam pelo menos mais uma semana enquanto participavam de um congresso religioso. O terceiro grupo era de três homens e tinha chegado na Quinta feira no começo da noite e acertado a conta no Domingo pela manhã. O apartamento ocupado por eles era o de numero 12. Foi pedido, e um serviçal acompanhou os policiais para vistoriariarem-no. No cinzeiro encontraram duas pontas de cigarros. Uma delas era da mesma marca daquela encontrada na porta da vitima. Ela foi recolhida em um saco de plástico. Nada mais foi encontrado, tudo tinha sido limpado logo depois que eles entregaram as chaves na portaria no domingo de manhã. Os agentes quiseram saber mais coisas sobre este grupo. Eles deveriam ter um carro, pois pediram autorização para estacionamento na garagem conveniada ao hotel. Ninguém dali tinha visto o veiculo deles, pois a garagem ficava na outra esquina, não pertencia ao hotel. Chegavam e saiam sempre a pé.
Joca falou com a camareira e esta informou que não chegou a entrar no apartamento para arrumar, pois eles estavam o dia inteiro dentro dele, e só saiam durante a noite, e assim mesmo por poucas horas. Eles não davam “sopa” nos corredores. A televisão do apartamento estava ligada o tempo todo, até mesmo quando eles estavam discutindo sobre alguma coisa. As refeições foram servidas no quarto. Eles não pediram quaisquer tipos de serviços. O carregador foi perguntado e disse que eles chegaram com apenas umas pastas pequenas de mão. Quanto á ficha apenas um deles a fez, os outros permaneceram de cabeça baixa, e informaram que eram analfabetos. Aquele que preencheu a ficha regulamentar, o fez com uma letra sofrível. Uma cópia deste documento foi tirado no fax do hotel. Joca a colocou no bolso. Também não pediram nenhuma ligação telefônica. O acerto da despesa foi feito em dinheiro. Não mostraram documentos pessoais na portaria.
Dali rumaram para a garagem conveniada ao hotel onde falaram com o manobrista. Este pareceu estar muito ocupado, não querendo dar muito papo. Joca foi atras dele, quando entrou no pequeno escritório, pegou o rapaz pelo colarinho, e sugigou na parede, informando que sabia de muitas coisas erradas acontecendo naquele estacionamento relacionado com receptação de toca-fitas furtados nas redondezas e que o delegado do quinto distrito policial daquela área gostaria de saber o nome dele e mais algumas coisinhas. Era melhor colaborar.
O manobrista ficou branco. Um sobrinho dele muito problemático estava sempre ali ajudando-o com lavagens e limpezas de carros. Dava-lhe algum dinheiro, mais do que valia o seu serviço, com a finalidade de mantê-lo ocupado com alguma coisa lícita. O rapaz já tinha passagens pela delegacia de menores e pensava que ele tinha largado desta mania feia. Ao ser solto pelo policial, se recompôs e disse que não queria confusão com a policia. Estava apenas com pressa, mas que o serviço esperasse, estava a disposição para quaisquer perguntas. Falaram a ele sobre as características dos procurados e sobre o carro Santana azul escuro. O homem confirmou que este carro esteve guardado ali por três dias seguidos. Eram três as pessoas que andavam nele, mas estes evitavam chegar juntos na garagem. Sempre quem vinha pegar ou guardar o carro era um gordo baixinho. O manobrista estendeu o braço para um arquivo de mesa e abriu-o olhou as fichas depositadas. Pegou uma delas e entregou para o policial dizendo que ali estavam os dados do carro, e a autorização do hotel Ipiranga para a estadia. Precisava do original para receber pelo serviço prestado. O policia guardou a ficha dizendo que iria tirar uma cópia dela e depois devolveria. Saíram do estacionamento.
Na delegacia foram para a sala dos agentes policiais, e sentaram em volta de uma mesa usada para discussões de trabalho. Joca ligou o computador e pediu conexão para a Internet. Pegaram as copias da ficha do hotel e da garagem para aferir o progresso da investigação.
- O carro está emplacado em Arraguaina. A placa é KCF 8909. O registro do hotel, consta Antônio Severino da Silva, com endereço de Av. do Povo, nº 1.234, centro, fone 278 0914. O numero da identidade é PI 234.098.345 - SSPPI. Vamos ver se estes dados são positivos. A tela do computador estava aberta era só entrar no endereço desejado. Primeiro ele pediu uma consulta nacional sobre o DENATRAN. A placa era quente estava em nome de Maria Francisca Pedrosa, com endereço na rua 21 numero 138 no centro de Araguiana-TO. Era uma pista a ser checada com mais cuidado. Informava Joca.
- Possivelmente este carro esta em nome de alguém que não sabe seu paradeiro, ponderou Reinaldo.
- Vamos ver agora no registro nacional da policia Federal, sobre este nome Antônio Severino da Silva.
Esperou alguns minutos e logo depois apareceu a resposta á consulta: mais de sessenta pessoas com o mesmo nome. Era preciso especificar com um outro dado amarrando, como o nome da mãe, endereço, numero de CPF etc. Ao tentar ajustar o numero da identidade informada, viram que era falso. Foi feito uma ligação para o Serviço de Identificação do Piauí e verificou-se que o numero para identidades naquele Estado, ainda levaria mais ou menos um ano para atingir aquele informado. O numero do telefone foi discado, mas a companhia telefônica informava numero inexistente. O documento era fictício, e provavelmente os demais dados apresentados também o eram.
Na reunião com o delegado, informaram sobre o que tinha descoberto. O chefe achou natural e disse terem progredido bastante, pois os dados do carro eram verdadeiros. Era uma pista valiosa e iriam trabalhar nela. Precisava ser verificado. Naquela mesma hora ele fez uma ligação para o departamento de transito de Goiás, pedindo para verificar se havia alguma multa para aquela placa, se nalguma blitzem melhor ainda. Telefonema no mesmo teor foi disparado para o inspetor Laranjeiras, da Policia Rodoviária Federal. Em ambas as ligações foi pedido urgência. As respostas viriam no dia seguinte. Joca falou sobre a informação do ambulante e do telefone público. O delegado mandou que eles fossem no local novamente e anotassem o endereço onde estava o telefone usado e se conseguiriam encontrar o ambulante.
Na rua Minas Gerais haviam dois telefones público. Um estava instalado bem na esquina com a rua Quintino Bocaiúva, perto de onde ficava uma padaria. O outro ficava mais acima, uns cento e cinqüenta metros na porta de uma escola infantil. Anotaram os dois endereços. O pirateiro não foi encontrado e quando perguntaram por ele para um churrasqueiro com banca na calçada, este informou que naquela rua tinham sido presos dois ambulantes vendendo aquele tipo de mercadoria, talvez algum deles fosse a pessoa procurada. Tinham chegado tarde.
Ao voltarem para a repartição policial, passaram na Delegacia anti seqüestro da capital. Ali falaram com a policial Deolinda P.O. de Marques. Ela era muito eficiente e tinha nas pontas dos dedos a numeração de todos os telefones públicos da capital, com endereços, e podia grampear qualquer um deles a qualquer hora do dia ou da noite. Isto, segundo disse ela, precisava de autorização judicial .... “ quando a prova produzida fosse integrar algum processo”. Ela forneceu os números das linhas daqueles locais, escrevendo-os em um papel comum. Entregaram ao chefe.
Dr. Marcus, pegou o papel e passou para a escrivã Evita Ravange, mandando que fosse feito um oficio para o judiciário pedindo para que a empresa de telefoia informasse quais os interurbanos feitos naqueles orelhões na ultima semana. Precisava de urgência na investigação. O documento foi protocolado no Fórum da capital, naquela mesma tarde. Uma cópia dele foi passado via fax para a promotora pública, Marilda Ramaioli, que estava mensalmente na delegacia cobrando providencias sobre algumas investigações. Aquela profissional do Ministério Público, cobrava resultados, mas sempre que era solicitada, ajudava a sair soluções rápidas das varas criminais. No dia seguinte ela passou a resposta, encaminhando o oficio mandado para a gerência comercial da empresa de telefonia.
De posse deste documento, o próprio MARCUS, foi até o escritório de relações externas da telefônica, onde falou com o engenheiro Rivoli, pessoa que estava sempre precisando de ajuda por causa de quebra de telefones públicos por vândalos. Todo caso conhecido os autores passaram pela prisão graças a telefonemas do policial. De vez em quando precisa do engenheiro “ e uma mão estava lavando a outra sempre”. Voltou com a relação de todos os números de telefones para onde havia ligações. Constava apenas uma ligação interurbana a cobrar para Jatai, o restante eram todas ligações locais, feita naquele que ficava em frente a escolinha. No outro em frente da padaria, havia muitas ligações para o Estado de São Paulo e Rondônia, todas com cartões pre-pago. Apenas o horário da ligação interurbana feita para Jataí coincidia com horário próximo do jornal nacional. Este horário também era compatível, com as saídas do carro da garagem conveniada do hotel anotados na ficha do manobrista. Era preciso coincidir as investigações com o horário informado pela viúva, com as saídas do grupo do hotel e com a retirada do carro. Apenas este interurbano para Jatai, batia.
O numero do telefone de Jatai, foi discado usando-se um telefone público. Poderia estar binado:
- Garagem Novo Horizonte, bom dia!
- Bom dia. Vocês anunciaram um gol 99 branco esta semana. Estou aqui com um jornal de Terça feira. Queria saber se ainda estão com o carro.
O vendedor que atendeu o telefone, ao ouvir a historia do outro lado, pensou que não poderia perder aquela chance de empurrar mais um carro. Não tinha feito o anuncio, mas não pensou duas vezes:
- Sim, fomos nós. O carro está ótimo, tinha sido vendido, mas deu problema no cadastro do comprador. O recebemos de volta.. Espera aí um pouco...
Ele tampou o fone com a mão e falou qualquer coisa com o dono da garagem. Quando tirou a mão deixou o outro ouvir ao fundo que o negocio estava quase fechado.
- Olha, o meu sócio aqui, está informando estar negociando o carro com uma mulher. Ela gostou muito deste gol... e ficou de dar a resposta amanhã... esta dependendo de um adiantamento onde trabalha.
- Qual é o endereço de vocês,? Preciso ir aí para ver este carro.
- Aqui é na rua Kubistenchek, numero 897, pertinho da prefeitura. Você vem ainda hoje?
Enquanto falava, a mente do vendedor estava a mil, seu pensamento voava, procurando se lembrar onde tinha visto um carro gol branco 99 a venda..... Um estalido... tinha visto na garagem do Orcino no bairro do Limão, hoje.
- Não. Devo ir amanhã pela manhã, mais ou menos dez horas.
Ele sentiu um alivio. Dava tempo de sobra de fazer uma ponte com o Orcino, pegar o carro na garagem dele, levar pra a de seu patrão e colocar pelo menos mais dez por cento em cima do preço e faturar aquele pato.
Reinaldo baixou o telefone no gancho e voltou desanimado para a viatura:
- Olha Joca, se aquele telefone estiver certo alguma coisa esta muito errada. Se o carro Santana é de Araguaina os problemas que a viuva falou se relacionam com Minaçu, está cada vez mais ficando truncado o assunto. Ao invés de chegar para um ponto comum estamos cada vez mais nos distanciando para rumos diferentes.
- Crime de pistolagem é muito difícil de investigar, exatamente por isto, pois não existe vinculo da vitima com seus executores. O liame que liga o morto com a causa da morte está em outra pessoa, que normalmente não aparece na cena do crime. Vamos ter de trabalhar muito.
- Acho que devemos apertar o Dr. MARCUS, para sair umas diárias para Araguaina e Minaçu para ver de perto a historia da viuva e do carro.
- Deve chegar hoje a resposta daquela consulta sobre as multas. Se o carro foi multado nalguma barreira eletrônica vai nos ajudar, dizendo para que lado eles foram... ou de onde vieram.
A resposta sobre as multas, trouxe uma notificação feita em uma barreira eletrônica da policia federal na BR 153 na zona urbana de Porangatu. O veiculo tinha sido fotografado com velocidade de 68 Km/h em local com regulamentação para 60 Km/h. O Dr. Marcus falou com o chefe do distrito sobre a multa e da necessidade de ter uma copia da fotografia dela para investigação. O homem da PRF alegou que para entregar o documento precisava de uma autorização judicial. Marcus desligou o telefone agradecendo o chefe. Ligou em seguida para um colega de escola que era patrulheiro lotado em Anápolis e vinte minutos depois recebeu a resposta. Era para procurar o agente administrativo João Batista, na sede do DNER em Goiânia, na rua 24 de outubro e pegar uma copia da fotografia. Este documento não poderia ser juntado em processo, pois para tanto tinha de haver uma autorização judicial.
A fotografia tinha boa qualidade e mostrava o carro de frente aparecendo bem o motorista e o passageiro dormindo. O horário da ocorrência era quatorze horas e quinze minutos de outubro de 2.001. O documento foi passado para o scanner e ampliado apenas a área das pessoas e do carro. Tinham agora uma foto dos suspeitos e do carro utilizado no crime. Precisa verificar quem eram e conferir com a viuva. Quando bateram na porta dela e mostraram a foto, a mulher teve uma branqueira e começou a cair, sendo amparada por Joca. Aquele que estava dormindo era o mais falante e quem sempre perguntava as coisas. Também era um dos atiradores. O motorista, ela não o reconheceu.
A mesma fotografia foi levada no hotel Ipiranga e na garagem, tendo reconhecimento positivo para as duas pessoas e o carro. Tinham encontrado uma pista segura dos criminosos. Eles passaram em Porongatu na Quinta feita a tarde com destino a Goiânia. Precisavam investigar a dona do carro em Araguaina e a historia da fuga da vitima de Minaçu. Já faziam oito dias que tinha acontecido o crime. Na Segunda feira seguinte estariam viajando para aquela cidade do Estado do Tocantins. A equipe era composta apenas de dois policiais. Qualquer dúvida deveriam ligar no celular do delegado, em Goiânia, tinha mais facilidade para conseguir alguma coisa necessária para o êxito da diligencia.
Terça-feira, nove horas da manhã, rua 21 numero 138 – Araguaina:
- Bom dia somos policiais de Goiânia, e precisamos falar com a Sra. Maria Francisca. Ela está?
- Dona Francisca faleceu em um acidente de transito na BR 153 indo para Belém, faz mais de seis meses.
- Ela era casada, tinha alguém que cuidava dos seus negócios?
- O filho dela, Carlúcio dono do Supermercado Jóia no centro, e quem está resolvendo pendências dela. O que vocês estão precisando?
- É sobre um carro Santana que se encontra no nome dela e se envolveu em um acidente em Goiânia.
- Eu trabalho aqui como domestica a mais de cinco anos, e sei que o Cacá mandou bloquear os documentos deste carro no DETRAN faz um tempão, antes mesmo da mãe dele morrer.
- Você por acaso, sabe para quem foi vendido este carro?
- Não sei. Vi chegar algumas multas aqui pelo correio, e eram da cidade de Minaçu. Quem comprou deve ser de lá.
- Muito obrigado. Vamos falar com o Carlucio. Qual é mesmo o endereço?
- É na praça Rui Barbosa, bem no centro. É o maior supermercado que vocês encontrarem. Não tem como errar.
A situação começava a esclarecer. A dona do carro estava morta, e havia multas vindas da cidade de Minaçú. Na pior das hipóteses poderiam procurar pelo carro na cidade, se ela não fosse muito grande. Primeiro precisavam falar com o filho da mulher e ver como foi a historia da morte dela e se tinham alguma pista do comprador do carro. Chegaram no supermercado. De fato era uma grande empresa, com amplo estacionamento próprio e uma boa área de venda. Se identificaram para o gerente de vendas e pediram para falar com o Sr CARLUCIO.
- Vocês são policiais de Goiás, e estão atras do carro que foi de mamãe? Aquele vagabundo está dando trabalho até lá em Goiânia. Em que posso lhes ajudar para apreender este Santana e prender quem esta com ele?
- Nos queremos saber onde pode ser encontrado o carro. Sabe o endereço e nome de quem o comprou?
- Minha mãe o vendeu para um trambiqueiro de Minaçu. Quando fui atras dele por causa das multas ele disse que o tinha vendido pra um tal de Severino que “mexe” com compra de gado e amansamento de burro brabo. Não sei onde pode ser encontrado.
- Sabe se ele é da região de Minaçu?
- Sim ele é de lá. Só que já o procurei várias vezes e não o encontrei.
- Por acaso reconhece o carro e algum dos ocupantes dele nesta foto?
- O carro é o que foi de mamãe. Até o amassado no capuz ainda esta ai. Os ocupantes parece que nunca os vi. Qual é o problema que os trás de tão longe?
- Precisamos encontrar o carro. Para dar seqüência em uma outra investigação. Por acaso o senhor conhece esta outra pessoa, que trabalhou como empreiteiro de obras rurais nesta região?
- Este é o João Ferreira, que era amigo do prefeito Walfrido de Minaçu. Este cara ganhou muito dinheiro por aqui mas teve de sair fugido por causa de umas ameaças. Coisas de política. Por acaso ele esta metido com o caso do carro de mamãe?
- É uma longa historia. Tem a ver com o carro, mas indiretamente. Por enquanto não podemos falar. Muito obrigado pela sua ajuda. Precisamos olhar outros assuntos. Até logo.
- Espera aí, não sei o que os trás até a mim. Entretanto preciso muito saber com quem esta este carro, para resolver sobre as multas e o inventário. Aqui esta meu cartão. Quando vocês puderem falar sobre o assunto, liguem para mim, ai tem o numero do celular, pode ligar a cobrar. Até logo...
O dono do supermercado acompanhou os rapazes com os olhos até saírem na porta. Pegou o interfone e discou para a guarita de vigia do estacionamento. Deu as características dos dois policiais que acabavam de sair e pediu para ver que carro estavam ocupando, anotando a sua placa. Iria conferir a situação. Criminosos usam de muitos expedientes para iludir suas vitimas. Não queria cair em armadilha com facilidade. O serviço foi feito.
De Araguaina para Minaçu em um percurso de mais ou menos duzentos e quarenta quilômetros foram discutindo sobre os progressos da diligencia. A noite precisavam telefonar para o chefe para coloca-lo a par da situação. Iriam procurar na cidade por Severino, amansador de burro brabo e comprador de gado. Chegaram ainda com a luz do dia e o comercio estava funcionando. Procuraram sobre a localização das casas de venda de produtos agrícolas e ficaram sabendo que havia três grandes lojas, sendo a casa do Fazendeiro, A pecuarista e a Casa do Criador. Em todas elas o procurado era conhecido, mas não sabiam o endereço.
Foi mostrado a foto do carro e dos ocupantes. Dois vendedores de lojas diferentes reconheceram o procurado. Na casa do Fazendeiro encontraram a melhor pista: Ele tinha comprado uma partida de oitenta dozes de vacina para febre aftosa, e dado o endereço para efeito de fiscalização do rebanho vacinado como sendo fazenda Fundão, no mesmo município. Havia pelos menos duas fazendas com este nome. Uma era do Dr. João Carlos, médico da Santa Casa a outra era vizinha e não sabiam o nome do dono. O dia estava findando, precisavam procurar um hotel para dormir e descansar um pouco.
Durante a noite, fizeram um telefonema para a Santa Casa da cidade e ficaram sabendo que o médico dono da fazenda fundão estava de plantão e que naquela noite estava tudo calmo. Foi marcado uma entrevista com ele e por volta de vinte e uma horas estavam falando com o homem:
- O Sr. tem uma fazenda aqui com o nome Fundão?
- È temos umas terrinhas com este nome, que é o mesmo do córrego que nasce lá no pé da serra. Porque?
- Por acaso o Sr autorizou alguém a comprar oitenta doses de vacinas para aftosa com a a inscrição desta fazenda, no mês passado?
- É. Vendi um gadinho para o Severino e ele precisava vacinar para fazer o transporte.
- O Sr. tem algum documento desta venda onde conste os dados deste comprador? Como já lhe falamos somos policiais e precisamos falar com ele. A pessoa de quem estamos falando é alguma destas da foto?
- Há, sim é este aqui que esta dirigindo. Ele esteve varias vezes aqui no hospital e lá na fazenda usando este Santana azul. Ele este envolvido em algum crime?
- Olha doutor estamos investigando ainda. Não sabemos. Porque, este sujeito é barra pesada?
- Bem... sei que ele é muito direito nos seus negócios. Paga sempre direitinho o que compra. Falam por ai que ele faz alguns “servicinhos pesados”, porem eu mesmo não sei de nada. Gostaria que meu nome não fosse envolvido em nada que misturasse com o Severino. Sou um homem público, tenho de sair a qualquer hora para atender meus pacientes... Vocês entendem , não é mesmo?
- É a gente entende... mas o depoimento do senhor seria muito interessante para a investigação.
- Falo o que vocês quiserem, mas pelo amor de Deus, nada de documento escrito, ou dele ficar sabendo que falei alguma coisa sei respeito.
- ..Tá bem. Que documento o senhor tem sobre o homem?
- Aqui está a copia do contrato de compra e venda do gado. Aí tem o endereço dele e o numero de seus documentos bem como o seu nome completo, que não é Severino.
Joca pegou o papel avidamente. Estava anotado Aramisio Ferreira da Silva, cartão de identidade 2.678. SSP-TO, rua Olavo Bilac, quadra 35, lote 09, Bairro da Lagoa, Minaçu – TO. Mais embaixo estava anotado um numero de cheques e o valor pago, bem como outro valor e a data do vencimento. Pela forma que o assunto era conduzido pelo médico evidentemente que não poderia ser feito uma cópia. O jeito foi anotar os dados em um papel branco do hospital, que o facultativo teve o cuidado de cortar o cabeçalho e rodapé. A vida dele realmente corria perigo. Saíram dali de forma discreta, depois de combinarem com o visitado que o procuraram por causa de uma indisposição estomacal e levaram uma receita que ficou anotada no prontuário do hospital, tendo como paciente Reinaldo Soares de Oliveira. Não temiam do médico falar alguma coisa para o procurado, pois ele mesmo fazia a maior questão de se manter no anonimato. Dali para frente teriam de tomar o maior cuidado para não se denunciarem. O procurado estava próximo e o terreno era minado.
No dia seguinte foi feito contato com o delegado de policia da cidade, depois de falarem como chefe e pedido a reste a qualificação completa e antecedentes de Aramisio. Ele tinha um indiciamento na cidade por ameaça com arma de fogo, que foi arquivado em juízo por falta de provas. Havia outra anotação por cobrança abusiva, feita em favor de um conhecido agiota local. O delegado sabia que pesava contra ele noticias de pistolagem, mas não tinha nada provado. Ele só fazia estes serviços em locais distantes.
Os dados oficiais foram passados via e-mail da própria delegacia para Goiânia. Dr. Marcus trabalhou rápido junto á vara dos crimes contra a vida da comarca de Goiânia. Naquele mesmo dia Joca foi sozinho na casa do suspeito querendo comprar uma partida de bois gordos para remeter a um frigorifico de Teresina. Falou com Severino tendo ele ficado meio arisco no inicio da conversa, mas depois como o papo de Joca foi convincente, pois este era filho de um sitiante da região da serra da Mesa a conversa deslanchou. Ele ficou de verificar com alguns fazendeiros seus clientes e daí dois dias daria a resposta. A noite no hotel ficou sabendo que ele tinha procurado por ele, e olhado o seu registro, onde estava anotado como comerciante de Teresina.
Era Quinta-feira 22 de novembro, 19:45 hs. O telefone celular de Reinaldo toca no modulo silencioso. Ele verifica a chamada e constata que é o chefe. O local onde se encontrava é no restaurante do hotel. No mesmo ambiente esta tomando uma cerveja juntamente com uma mulher o segundo assassino, aquele que dormia na hora da multa. Ele atende de modo discreto:
- Reinaldo, Boa noite doutor Freitas.
- A chuva já passou...
- A noite esta fresca...
O chefe após trocar as duas palavras da senha com seu auxiliar, informa que os mandados de busca domiciliar e prisão temporária do suspeito estão arquivados em seu e-mail. Desligando o telefone. O policial continua o papo e responde que esta tudo bem. Deve fechar o negocio do gado no dia seguinte. Assim que tiver concretizado o negocio telefona dizendo para qual banco e conta é para passar o dinheiro. Diz boa noite e desliga o aparelho celular. Joca está prestando atenção no segundo criminoso e percebe que ele esta interessado naquele telefonema. Assim que Reinaldo guarda o telefone o criminoso pede a conta e sai com a mulher. Joca vai até o banheiro e com a luz apagada, sobe no vaso e fica olhando para a rua onde estão diversos carros estacionados. O suspeito se dirige para um carro Santana azul. Não dá para ver a placa toda apenas os dois últimos números: 09. È coincidência demais. Logo depois pega o aparelho telefônico e apaga todas as relações de chamadas. Em seguida oculta o relogio do aparelho e faz uma ligação para um frigorifico de Araguaina. Desliga o aparelho.
Aquele dia de folga, enquanto eles esperavam sobre os mandados, tinham aproveitado para ir em uma cachoeira da região onde tomaram banho o dia inteiro, em companhia de duas fogosas mulheres jovens. Elas acreditavam que eles eram compradores de gado para um frigorifico de Tereresina e estavam esperançosas de terem feito dois bons clientes para futuras viagens deles pelas fazendas das redondezas. Como estavam muito cansados, entraram para o apartamento e dormiram como uma pedra. No dia seguinte ao se levantarem Reinaldo deu por falta de seu aparelho celular. Ao descer para o café da manhã, e reclamar com a recepção sobre o sumiço do telefone, esta lho entregou dizendo que ele fora encontrado no balcão do bar. Em nenhum momento daquela noite ele tinha se aproximado do balcão. Esperava alguma coisa parecido. Pegou o telefone e olhou a sua memória, usando uma senha. Alguém havia tentado verificar a relação de chamadas. Tomou o café rapidamente e se dirigiu para uma agencia dos correios no centro.
Pediu ao gerente para buscar um e-mail. Informou que tratava-se de algo sigiloso, sobre concorrência para venda de gado, e gostaria de fazer ele próprio a busca. Pagaria mais se necessário. O gerente acenou que sim e o deixou com o computador por alguns minutos. Ele entrou em seu e-mail e mandou imprimir duas copias coloridas de cada um dos mandados. Apagou o registro, acertou o serviço com o caixa e saiu para a rua. Na mesma agencia estava procurando alguma coisa em uma caixa postal uma pessoa muito parecida com a discrição do terceiro suspeito. Assim que saiu da agencia, viu que este homem foi conversar com o encarregado do setor de correio eletrônico. Ele não ouviu a conversa
- Ó bichim... meu patrão, Severino, que você conhece esta vendendo uma partida de bois para este cabra da peste que acabou de mexer no seu computador. O que ele queria?
Era recomendado pela gerência dos correios, não dar explicações sobre correspondência feita naquela setor, mas o nome Severino metia medo
- Olha ele pediu para não olhar, mas falou que era uma concorrência de preço sobre venda de gado. Mas eu não te disse nada...
- Que isto home... Eu nem vi o sinhô!
Longe das vistas dos suspeitos, Reinaldo deixou Joca em uma rua próximo do Forum e seguiu para o hotel. Dr. Marcus já tinha falado com o juiz criminal da cidade dizendo sobre a visita do seu policial, naquela manhã. Joca chegou e foi recebido pelo magistrado. Este olhou as duas folhas de mandado e despachou nelas mesmas um ciente, ficando com uma via de cada uma. Falou para o policial, que somente no dia seguinte seria transcrito no livro próprio do cartório. Se precisasse de mais tempo era para ligar para um numero de telefone que lhe entregou. O cuidado era necessário. Um filho de Severino trabalhava no fórum como oficial de justiça e passava para seu pai tudo que chegava ali a seu respeito. O homem não queria ser surpreendido com alguma precatória, mandando trancafiá-lo.
Assim que saiu do fórum, ligou para o seu parceiro e logo depois ligou para o delegado local, pedindo ajuda para a operação a ser realizada. Eram dezesseis horas em ponto quando invadiram a casa de Severino. Ele estava na sala ouvindo o relatório de Zé Matogrosso, exatamente falando sobre o assunto do correio. Não teve tempo de reação. Foi preso ali mesmo. Em uma abertura lateral da poltrona do sofá onde ele estava, foi encontrado um revolver calibre 38 municiado e uma capanga com quase uma caixa de balas. O seu interlocutor chegou a esboçar reação sacando a automática, disparando um tiro. Um policial postado a mais de trinta metros entrincheirado na porteira e com um fuzil F.O. o mantinha na mira. O tiro dado nele destroçou o braço direito que segurava a arma, caindo para um lado soltando-a. Com o movimento dos tiros a mulher de Severino e duas crianças de mais de dez anos, saíram correndo pelos fundos, quase atropelando um policial que guardava a porta da cozinha. Eles foram seguros e mantidos á distancia. A casa dos pistoleiro foi revirada de cima a baixo. Uma pasta tipo 007 estava trancada e foi aberta. Dentro dela estava um papel com o timbre da garagem Novo Horizonte, de Jatai e anotado a importância de dez mil dólares com a seguinte disposição:
- Tonico $ 5.000,00
- Helio $ 2.500,00
- Zé Mato Grosso $2.500,00
- Despesas de hotel R$ 300,00
( buscar restante dia 15 de janeiro)
Havia ainda uma notinha do hotel Ipiranga de Goiânia, uma fotografia em tamanho ampliado do empreiteiro morto, recorte de jornal O Popular e Diário da Manhã de Goiânia, ambos noticiando o crime, e dizendo que não haviam pistas dos assassinos.
- Quem é Tonico? Perguntou um dos policiais. Eles ficaram calados. Joca pegou a automática e conferiu a arma: estava com bala na agulha e o cão puxado em seu limite. Era bastante encostar o dedo no gatilho. Apontou para a cabeça do pistoleiro ferido e disse que o serviço já tinha começado mesmo e era melhor terminar, pois cobra mal matada é muito perigosa. Precisava apenas de um motivo para faze-lo. E repetiu a pergunta:
- Quem é Tonico?
- O bandido resmungou e espichou o beiço para o lado do patrão...
- Quem é você?
- Zé Mato Grosso...
- cadê o Hélio?
- Esta na casa dele, na vila dos Sapos.
Reinaldo olhou para o sargento e instintivamente saíram dali arrastando o criminoso com o braço pingando sangue para o local indicado pelo bandido ferido. Ele pedia para ser atendido por um médico. O soldado que estava a seu lado, rasgou a fralda da camisa do preso, e fez um torniquete acima do ferimento, ajudando a estancar o sangue. Daí a minutos estavam na casa do terceiro bandido. A viatura dos civis ficou na rua dos fundos para evitar uma possível fuga. Ficaram postados ao lado do muro lindeiro a um lote baldio bem nos fundos da residência do suspeito. Escutaram o tropel dele saltando o muro de onde morava e os seus passos correndo para a rua onde estavam, quando ia saindo na calçada e se abaixou para passar por baixo de uma cerca de arame farpado recebeu uma coronhada na nuca e caiu ouvindo voz de prisão.
Este foi algemado ali mesmo atravessado por baixo da cerca. Pulando o muro de onde ele veio apareceu o sargento comandante da guarnição. Dois outros policiais, já revistavam sua casa. Ele portava um revolver calibre 32, sem numeração e estava municiado apenas com três cartuchos intactos. A busca em sua casa resultou no encontrou de quase quatro mil em notas de cinqüenta reais, que estavam dentro de uma sacolinha do supermercado Brasileiro, localizado em Jatai. Em um envelope pardo, dentro de uma mala de fibra foi encontrado uma certidão de nascimento em nome de Calistrato Hélio Pedrosa e um mandado de prisão preventiva da comarca de Correntina-BA, com o mesmo nome tendo como motivo o art. 121, § 2º,II do CP- (homicídio qualificado), datado de 12 de março de 1.989. Ao ser perguntado se aquele era seu nome, respondeu que sim. Sobre o mandado de prisão, começou a “ratiar”, mas resolveu explicar que era um servicinho feito com os outros dois já presos, para o garageiro de Jatai e um outro sócio dele que tinha sido morto em troca de tiros com a policia de Goiás.
O primeiro round daquela luta estava ganho para a policia. Precisa recambiar os presos para Goiânia, e começar a parte mais custosa da batalha, que era reunir provas suficientes contra o mandante do crime, descobrindo o motivo, e suas demais implicações. Enquanto a viatura rumava para a delegacia onde iria ser lavrado o flagrante por porte de armas daqueles três pistoleiros, Reinaldo disparou o seu celular para o chefe, comunicando o êxito da missão.
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