Usina de Letras
Usina de Letras
12 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62282 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->A ciência sob ataque cerrado -- 19/07/2004 - 09:56 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O médico e psiquiatra Stanislav Grof utilizou e estudou, a partir de 1956, o efeito de drogas psicodélicas na psicoterapia. Ele acredita ter encontrado nos pacientes recordações de sensações perinatais (em torno do nascimento). Distinguiu quatro estágios. No primeiro, o feto se move no útero, livre de ansiedades (Sigmund Freud considerou esta "integração" do ser com o mundo - ou Universo - que o cerca com uma das fontes da sensibilidade religiosa), tendo todas as suas necessidades de alimento, oxigênio, calor e eliminação atendidas. No segundo, ocorrem as contrações uterinas, que expulsarão o feto do corpo da mãe - na interpretação do psiquiatra, as recordações desta fase registram o sentimento de um mundo que, sem motivo aparente, se volta contra o indivíduo. O terceiro é o estágio do nascimento, a saída do universo intra-uterino para o mundo exterior. O quarto e último estágio é o imediatamente posterior ao nascimento, quando a criança passa a ser cuidada por outras criaturas.

Carl Sagan, no seu "O romance da ciência", opinou que essas idéias ajudariam a elucidar "a origem e a natureza da religião. A maioria das religiões ocidentais anseia por uma vida após a morte; as religiões orientais, por libertar os indivíduos de um extenso ciclo de mortes e renascimentos. Tanto umas como outras, porém, prometem o céu ou o satori, uma idílica reunião do indivíduo com o universo, um retorno ao Estágio 1".

Esta é uma idéia comum a analistas que buscam uma "explicação natural" para todos os fenômenos, inclusive os sociais. Desconsideram a interpretação que vê a própria evolução humana como um fator que influencia o desenvolvimento dos homens. Não levam em conta que as religiões surgiram por causas sociais, e não "naturais", que elas se mantêm na massa porque correspondem a interesses de setores da sociedade. Mesmo assim, aportam contribuições à compreensão do mundo que nos cerca e na melhor forma de interação com a realidade. No caso dos estudos de Grof, por exemplo, é notável que todas as suas indicações de vida intra-uterina levam em conta o funcionamento do cérebro. Os humanos existem com cérebro. Sem cérebro, não são humanos, não sobrevivem.

Estas considerações estão postas no atual debate que vem sendo travado em torno da possibilidade de aborto legal, nos casos de anencefalia. Segundo Débora Diniz, doutora em Antropologia e pós-doutora em Bioética, não existe "anencéfalos entre nós. Chamar de criança alguém que vive por sete minutos é uma tortura para as mães". Já dom Odilo Sherer, secretário-geral da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), considera que "o feto anencefálico não tem condições de sobrevivência fora do útero materno, mas se trata de um ser vivo", e por isso quer que seja proibida a interrupção da gravidez nesses casos. Embora religioso, apela para a ciência: "dizer que a vida começa depois do nascimento me parece impraticável no contexto cientifico que estamos vivendo", afirmou.

Como o dirigente católico, os religiosos atuais não rejeitam a ciência - cairiam em completo descrédito se assim o fizessem. Mas tratam de rejeitar as "pretensões excessivas" da ciência. Nestas pretensões incluem-se as pesquisas sobre origem e funcionamento da vida.

Juntamente com dom Sherer e dom Antônio Celso de Queirós, o presidente da CNBB, cardeal Geraldo Majella Agnelo, enviou carta aos senadores brasileiros para pressioná-los a não permitir a pesquisa sobre células-tronco. O alto clero admite que ocorreram progressos "no campo da biogenética e da biotecnologia, abrindo perspectivas, tanto no sentido da cura de certas doenças como também no aprimoramento da nossa vida na terra". Omitem que esses progressos ocorreram apesar das pressões de religiosos contra a pesquisa científica. Na missiva aos senadores, datada de 24 de junho, os autores apelam para que seja rejeitada "com firmeza a produção de embriões, e a utilização de embriões já existentes, tanto para pesquisas, quanto para eventual produção de tecidos e órgãos". Num determinado trecho, registram: "Há pessoas e grupos que mais parecem vendedores de ilusão de vida fácil do que preocupados com a saúde e a vida de todos". Mas aqui não se trata de crítica a pregadores da vida no além, e sim de uma invectiva contra pesquisadores e instituições científicas.

Incapazes de barrar o avanço do conhecimento, apelam para a postergação indefinida (o que significa a proibição no presente) da decisão sobre o Projeto de Lei de Biossegurança: "Por que não conceder a esta questão tão importante o tempo necessário para a justa ponderação dos aspectos complexos, científicos e morais, sem precipitar decisões com graves conseqüências? Em muitos países de avançada tecnologia, a questão permanece em profundos estudos e debates".

Há aqui uma confusão dos diabos. Os clérigos falam de países em que "a questão permanece em profundos estudos e debates", mas solicitam aos senadores que, precisamente, proíbam o aprofundamento dos estudos e debates no Brasil. Com toda a seriedade que o tema merece, com todo o respeito que deve ser dado às confissões religiosas individuais, é necessário polemizar com o obscurantismo e criticar os que querem barrar o caminho da ciência.



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui