Como muitos daqui sabem, eu, de vez em quando, VIAJAVA ( agora a coisa apertou ) para a capital francesa afim de passar uma vassoura na quitinete da minha irmã Deid. Numa dessas sessões anuais de faxina fui numa exposição em Paris que me marcou muito. Estavam sendo expostas as jóias de antigos reis e rainhas da Europa Ocidental. Aquilo me ficou na memória. Pois sim...semana passada fui em Recife e vi uma exposição de apetrechos femininos de Maria Costa Pinto, milionária baiana, de Salvador. Aliás, estas jóias pertencem ao acervo do Museu Costa Pinto, da Bahia. O que refleti sobre essas duas exposições de frivolidades e caprichos da alta sociedade?
Ora, a classe pobre pode ter seus inconvenientes – um dos maiores é que sua falta de moral fica mais exposta que a da burguesia – mas, pelo menos, não possui a falha terrível de desejar alcançar a imortalidade através de objetos materiais. Essa de uma rainha ou rei, já podre debaixo da terra, ser representado pelos apetrechos e móveis que usou, sejam eles de ouro, prata, bronze...é ridículo.
A alta sociedade pode possuir atrativos brilhantes, mas não consigo entender por que um ser humano pode pretender comprar algo que dure mais que ele ou até mesmo para sempre. Há jóias que vi que, com certeza, durarão mais que a Floresta Amazônica. Há outras que, não duvido disso, atravessará séculos. Muitas outras só serão destruídas com a própria destruição do nosso planeta, isso se nenhum louco da high society não resolver salvar o objeto mandando para o espaço.
E por que tudo isso? Para alcançar a imortalidade através dos objetos que usou que durarão muito mais que suas vidas encurtadas. Para que diabos eu quero ver a caneta usada por Rui Barbosa? Eu quero ler seus textos. Isso, sim, é imortalidade.
As idéias – que nos fazem pensar, reagir, admirar, crescer, unir – essas são matérias dignas de imortalidade. A solidez é algo menor, a cultura, não. O WTC de New York foi demolido, mas a cultura americana não foi abalada. E isso é mais importante.
O pobre tenta alcançar a imortalidade por outra via: a espiritual. Menos mal. Para mim, que não tenho religião definida, isso é outra forma estranha de alcançar a imortalidade, mas usar objetos imortais, para mim, é o cúmulo. Faço apologia ao homem imortal pelas idéias que disseminou ou pela sua contribuição - seja ela esportiva, religiosa ou cientifíca - na cultura de um povo. Thomás de Aquino, Goethe, Freud, Eusimar Coutinho, Beethoven, Pelé( prá mim Pelé já morreu ), Senna, John Lennon, Jorge Amado, Debussy, Delacroix...todos eles se tornaram memoráveis pelos seus feitos, não por objetos que usaram. Para entender melhor o que estou dizendo, lembre-se da palhaçada que fizeram com a indumentária usada por Lady Di, depois de sua morte. Leilão, exposição, palestras sobre o assunto...o que é isso?
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