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Contos-->O VERDADEIRO INIMIGO -- 28/04/2000 - 00:21 (Wagner Teixeira Dias) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em uma rua na periferia da cidade, um carro trafega solitário, acompanhado apenas pelas luzes da cidade, das estrelas e do luar. Mesmo depois de uma noite de diversão , o homem em seu interior não consegue relaxar. “Maldição”- pensa ele – “eu não tenho culpa se aquele cara era um idiota.” Sua mente se volta para algumas noites atrás, em um bar. Para impressionar algumas garotas aprontou as maiores arruaças, até quando expulsou um jovem de sua mesa para que eles se sentassem. “Tirei o cara educadamente. Ele devia ter procurado outra mesa e não ter feito o que fez.” Ainda sente o soco que o acertou em cheio, desferido pelo rapaz que reclamava que ele não era o dono do bar e já estava na hora de tomar uma lição. Lembra sua fúria ao dar primeiro um soco no estômago dele, depois outro no queixo que o fez desabar para trás e, para seu azar, bater a nuca bem na quina do balcão do barman. O jovem foi levado para o hospital com uma lesão séria na cabeça e seus pais decidiram abrir queixa na polícia contra seu agressor. “Se um dia eu voltar a encontrar aquele garoto, vou matá-lo.”
Seus pensamentos são interrompidos quando outro carro, idêntico ao seu, como se vindo do nada, cruza a pista e, aparentemente desgovernado, bate violentamente de lado na sua porta, fazendo-o perder o controle e sair do asfalto, batendo no muro de uma casa. O automóvel desordeiro também perde o controle e derrapa para dentro de um beco, onde pode se ouvir o estrondo de colisão com latas e outros entulhos. Do outro lado da rua, a batida não foi muito forte, ocasionando apenas alguns amassos no veículo. De toda forma, alguém lá dentro está furioso:
- Quem foi o maldito imbecil que quase me matou? – Berra, já se retirando do carro.
Corre até o beco, dentro do qual a escuridão predomina. Nota uma forma humana saindo de um carro, sem conseguir visualizar seus traços.
- Seu filho da mãe! Aprendeu a dirigir por telefone?
- Suma daqui! – responde curto e grosso o estranho, com uma voz baixa, quase inaudível.
- Ora, seu...
Os dois partem para a briga. O estranho se defende bem, antevendo cada golpe e amparando-o. Num movimento rápido, esmurra o estomâgo de seu oponente e em seguida soca em cheio o seu queixo, derrubando-o ao chão.
- Você luta tão bem quanto eu, maldito – Diz o homem caído, levantando-se lentamente. – mas eu tenho um trunfo a mais. – Mete a mão na cintura e de lá retira um canivete. O estranho, cujo rosto ainda não consegue identificar, começa a recuar.
- Por quê não me manda sumir agora, hein?
O descontrolado homem parte para cima do estranho, que tenta, mas não consegue impedir que a lâmina penetre fundo no seu abdômen. Cambaleante, segura o cabo da faca, mas suas forças vão se esvaindo. Cambaleia até fora do beco e cai de costas na calçada. Um sorriso se esboça na face de seu assassino. “Tolo. Todos que mexem comigo se dão mal.” Caminha até o corpo estendido no chão. Sob as luzes urbanas, pode visualizá-lo bem. Primeiro vê o canivete cravado na sua barriga. Surpreende-se pelo homem estar vestido com roupa igual a sua e quando olha o rosto, uma inimaginável revelação: é completamente igual ao seu. O choque é tão grande que quase desmaia. Olha de novo. É como se fosse seu irmão gêmeo, mas ele não tem irmãos conhecidos. Então percebe uma cicatriz pouco abaixo do olho esquerdo de seu sósia, exatamente igual a que ele ganhou numa briga há um mês. “Não é possível. Estou ficando louco.” Esfrega bem os olhos e então os abre lentamente. Olha para o local e o corpo não está mais lá. “Sumiu? Mas como?” Volta sua visão para o beco e não vê mais ninguém, nem o carro. Olha para a rua e, aumentando seu espanto, vê que seu carro está parado junto ao meio-fio, sem nenhum arranhão. “Será que estive sonhando?” Começa a ficar meio desnorteado e a sentir um calafrio percorrendo-lhe a espinha. Desvia o olhar para si e tem sua derradeira visão: o canivete.
Cravado no seu próprio abdômen, no mesmo local onde enfiara no seu suposto sósia, lá está ele. O canivete. Seu companheiro que nunca o deixava na mão. Um filete de sangue sai pelo ferimento e a dor chega, lancinante. Seus membros começam a enfraquecer, a mente a entorpecer. Torna-se difícil se manter em pé. Agonizante, cambaleia sem direção enquanto tenta retirar a arma de seu corpo. Em vão. Toda a força de que tanto se orgulhava se foi e tarde demais percebe que ela nunca serviu para nada. Seus sentidos começam a embaçar. Por um momento, tem a impressão de estar vendo a si mesmo, apontando para ele e dando uma forte risada. Em seguida parece dizer: “Eu não levo desaforo pra casa, imbecil.” Uma frase que ele mesmo usava com frequencia. O riso zombeteiro volta a ecoar em sua cabeça enquanto a imagem desaparece. Então seus olhos se fecham, sua mente se apaga e ele cai de costas na calçada. No exato local onde vira sua vítima cair a poucos instantes atrás.
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