Quando decretou o fim da História, o americano Francis Fukuyama o fez tendo uma certeza: o liberalismo econômico é o estágio final e natural da evolução das sociedades, estando absolutamente definido, portanto, o curso que cada nação do mundo deverá seguir daqui por diante. Para os que conhecem os pressupostos liberais, alguns pontos são fundamentais: a participação mínima, quase ausente, do Estado em relação ao mercado e sua dinâmica, a entrega ao setor privado de áreas que antes do triunfo do liberalismo eram consideradas estratégicas e por isso mesmo necessitando que fossem controladas pelo Estado, restando ao Poder Público a mera administração dos conflitos sociais gerados pela dinâmica de uma economia de mercado.
Aos que discordam visceralmente dessa visão, os arautos do liberalismo dão o título de “vanguardistas do atraso”, estabelecendo um limite antes do qual tudo é atraso, retrocesso e anacronismo. E partir dele, avanço, conquista, triunfo da liberdade e da modernidade.
É claro que, de modo simplista, essa visão que dá ao liberalismo os louros de uma vitória inquestionável admite que o poder econômico, as dinâmicas empresariais que geram e mantêm as riquezas acumuladas em poucas pessoas, de modo algum podem ser superados por uma outra maneira de funcionar a sociedade. É pois o triunfo do empreendimento individual sobre as necessidades coletivas.
Sabendo que foi o desejo de igualdade entre os homens o fato criador daquilo que mais tarde, em Marx, seria denominado de socialismo, e não o inverso, chega às raias do cinismo chamar alguém que ainda acredita nos valores que geraram o socialismo de um “vanguardista do atraso”, por algumas razões:
Mesmo que não seja possível criar no mundo uma sociedade exatamente nos moldes preconizados por Karl Marx, os ideais de justiça e igualdade, sob os quais não haja pessoas cuja existência se caracterize por profundas e insuperáveis necessidades em contraste com outras às quais não existe absolutamente nenhuma, continua habitando a mente de homens nesta terra. Somente os cínicos, os que se orientam por estatísticas frias, que não conseguem ver o sofrimento como algo palpável, a miséria como um fato concreto, podem admitir que o liberalismo seja o mais perfeito sistema econômico, que permita aos homens de bem viver sem sobressaltos à medida em que, por seu trabalho, podem alcançar sua independência financeira, tendo nela a satisfação de suas necessidades materiais.
Se é fácil acusar os socialistas de sonhadores, é muito mais fácil acusar os profetas do liberalismo de falsos e mentirosos, desde que sua farsa e mentira se comprovem pela realidade que confronta com aquilo que tão veementemente afirmam. De nações miseráveis do mundo à margem da globalização aos homens, mulheres e crianças de nossa nação brasileira, a concreticidade da miséria exposta nas ruas, nos guetos, nas favelas, nos lixões, os milhares que morrem de fome na África e de frio nos invernos dos EUA, eis as provas do fracasso desse sistema econômico.
O raciocínio matemático, por simplista, ainda assim é perfeito para provar o que afirmo: se existe concentração de riqueza é porque a pobreza a mantêm. Para que os países ricos continuem ricos, é preciso que a riqueza venha de outros países. Ou a riqueza dos EUA seria a mesma se as empresas americanas sobrevivessem apenas do dinheiro dos habitantes daquele país? Se a Coca-Cola, a Ford, a GM, a Macdonalds, os produtos da Microsoft, não estivessem espalhados pelo mundo, deixando nos países onde se instaram a mínima parte possível do dinheiro que arrecadam, seriam os EUA o país mais rico do globo?
É óbvio que o processo globalizante apenas sofisticou os métodos de manutenção da relação metrópole x colônia - o resultado continua o mesmo. Se o Brasil não conseguir estabelecer meios eficazes de distribuição de riqueza, uma mentalidade nacionalista que lhe permita manter os bilhões de dólares que a cada ano vão para os bancos internacionais dentro de suas fronteiras, sendo usados para o bem de seu povo, continuaremos a marchar na História certos de que o seu fim é mesmo o liberalismo econômico, ainda que isso signifique nossa submissão humilhante aos interesses das nações ricas do mundo - sem chances de mudança no papel desempenhado.
Se ser vanguardista do atraso é querer uma nação verdadeiramente livre, soberana, na qual todos (não uma minoria) tenham orgulho de ser brasileiros porque têm acesso à educação, à saúde, ao emprego, então o atraso ganhou mais um partidário. Viva o atraso!
Ah! Por isso eu vou votar no PT!!! |