SEQ. 23 – EXT/ESTAÇÃO DE TREM ABANDONADA/MANHÃ. ( 0, 30 M )
Silvia acorda assustada com o barulho do trem passando. Ela passa as mãos nos olhos, e as vistas embaraçam com o trem passando. Quando o trem termina de passar ela vê o corpo de Carla jogado em sua frente.
Silvia levanta-se e vai chegando mais perto. Ao perceber que é o corpo de Carla da um grito tapando o rosto.
CORTE:
SEQ. 24 – EXT/CEMITÉRIO/DIA. ( 1.30 M )
Lucas está bem longe do grupo de amigos.
Lucas está meio que escondido.
As amigas de Carla, vão saindo do cemitério, passam pela capela e se dirigem para fora.
Lucas observa atentamente. O mendigo chega de supetão.
MENDIGO: Uma moeda pela verdade.
LUCAS: Quem vai dar a moeda, eu ou você?
MENDIGO: Você quem escolhe. Uma moeda por uma informação.
LUCAS: O quê?
MENDIGO: Uma moeda por um versinho. (vai saindo disfarçando) Uma moeda por um versinho. Uma informação por uma moeda. Carla já foi enterrada.
Lucas sai apressado para o outro lado.
O mendigo continua por ali.
As pessoas começam a sair do cemitério.
Vão passando em frente de onde está o mendigo.
O mendigo se esconde para que as pessoas não o veja.
CORTE:
Do lado de fora do cemitério, estão todos os amigos parados.
SILVIA: Bem gente, eu fico aqui.
SARA: Silvia, fica com a gente. Vamos consertar tudo isso.
SILVIA: Tenho uma dívida a pagar. E não costumo ficar devendo para ninguém...
SARA: E suas coisas?
SILVIA: Roubaram tudo. Mas não tem problemas, para onde vou, deve ter tudo que preciso.
SARA: Silvia....
SILVIA: (abraçando Sara) Sara minha amiga. Obrigada por tudo.
SARA: Cuidado menina.
SILVIA: Eu me viro.
Ela pega na mão de todos e abraça, de longe alguém observa.
O mendigo observa também, por cima do muro. Vê Lucas que observa.
No final das despedidas, Silvia vai saindo com sua velha sacola e de cabeça baixa.
SARA: Eu sinto que isso não vai dar certo. Mas é escolha dela...
Lucas passa ao longe, e Sara vê.
SARA: Ei, aquele não é Lucas?
TODOS: É ele mesmo.
SARA: (grita) Ei Lucas, Lucas.
Lucas não dá atenção. Sobe na moto, liga o motor e sai em alta velocidade.
SULA: O que está acontecendo?
SARA: Apenas uma leve intuição. Preciso ir.
Sara sai apressada.
Os outros se olham e saem andando sem saber o que se passa na cabeça de Sara.
CORTE.
SEQ. 25 – EXT/ RUA-SÍTIO/ DIA. ( 2. 00 M )
Silvia está andando numa rua abandonada, é uma rua estreita sem movimento.
Lucas chega correndo com a moto. Para bruscamente..
LUCAS: Precisamos conversar.
SILVIA: Eu também acho.
Ela pega o capacete que está na garupa, põe na cabeça. Monta na moto e saem em desabalada carreira.
CORTE:
Chegam com a moto num sítio cheio de lagos, plantas, campo de futebol etc. Mas não é um lugar bonito, está meio abandonado.
CORTE:
Os dois se aproximam andando a pé num dos lagos.
LUCAS; Acho que fiz a maior besteira de toda a minha vida.
SILVIA: Um filho em mim?
LUCAS: Agora quem está fazendo, aliás, falando besteira é você. (pausa, param de andar) Eu matei alguém.
SILVIA: Novidade...
LUCAS: Alguém muito próximo.... Alguém que... Não. Não, eu não devo.
SILVIA: Se isso te machuca tanto, não diga.
LUCAS: Mas eu tinha razão. (tira droga do bolso ).
SILVIA: Eu já disse pra não se preocupar.
CORTE:
Lucas ascende um baseado. Dá uma tragada.
LUCAS: Você quer?
SILVIA: Claro. Quero, e preciso.
LUCAS: Nunca entendi até hoje, porque as pessoas precisam disso?
SILVIA: Cretino. Foi você quem me ensinou. Me prometendo um punhado de vantagens.
LUCAS: Aquilo fazia parte do jogo. Faz parte do jogo. De quem vende droga. Precisa fazer propaganda. Falsas promessas deixam as pessoas mais acessíveis e vulneráveis.
SILVIA: É assim que você age com as outras?
LUCAS: Que outras?
SILVIA: Oras, que outras!. As outras, oras.
LUCAS: Não, de jeito nenhum.(Mudando de tom) O que você sabe sobre outras? Sabia sobre Carla?
SILVIA: Que ela tinha Aids, por exemplo? Claro. Um dia eu vi um resultado de exame de HIV no meio das coisas dela.
LUCAS: E nunca me falou nada, porque?
SILVIA: E porque eu deveria falar?
LUCAS: Porque eu precisava saber. Quer dizer, essas coisas a gente tem que ficar sabendo. (fica mais nervoso, tira o pó do bolso, tira um pequeno espelho e coloca no chão.)
SILVIA: Eu também quero.
Os dois se abaixam de uma vez.
CORTE:
Os dois levantam a cabeça de uma vez. Estão meio atordoados.
Plano geral. Os dois estão bem no meio do campo de futebol.
Lucas levanta-se e começa a caminhar sem rumo pelo campo. Parece estar abobalhado.
LUCAS: Eu matei ela. Matei a desgraçada.
Silvia fica sentada observando sem entender nada.
LUCAS: Ela queria matar as pessoas com a Maldita Aids Por isso eu acabei com a raça dela.
Silvia começa a se levantar bem devagar.
LUCAS: Matei ela em nome do pai, do filho e Espírito Santo. Assim seja. (ri forte e desorientado). Foi bem no meio da bomba de sangue.
Silvia está transtornada, bem perto dele.
LUCAS: Voou glóbulos vermelhos e brancos para todos os lados. Deu pena o banco de sangue não estar lá. Mas também, quem iria querer sangue contaminado.?
SILVIA: E daí que ela estava com AIDS? Eu conheço tanta gente que tem a doença e nem por isso matei alguém.
LUCAS: Justiça. Justiça.
SILVIA: Você não é Juiz, nem tem graduação psicológica e nem lógica para julgar alguém.
LUCAS: É porque você nunca transou com uma delas.
Silvia Abaixa a cabeça, vira-se para trás. Agarra Lucas violentamente e chacoalha.
Em seguida, estoura, gritando em seus ouvidos, que ecoa pelos ares.
SILVIA: Assassino. Assassino bandido. Eu te odeio.
Lucas consegue virá-la e segura por trás carinhosamente.
LUCAS: Calma, eu te amo.
Silvia morde o braço dele.
Silvia escapa e fala nos seus ouvidos novamente.
SILVIA: Então quer dizer que nós estamos com a doença.
LUCAS: Pode ser que sim. Pode ser que não. Eu não fiz o exame ainda.
SILVIA ( Dá um tapa no rosto dele) O nosso filho que nem veio à luz, deve estar infectado. O que ele fará num mundo desses? Você vai direto para o inferno Lucas, lá é seu lugar.
LUCAS: (ajoelha-se) Silvia, perdão.
SILVIA: Vá pedir perdão ao capeta. Fez pior que ele.
Silvia sai correndo.
LUCAS: Silvia, Silvia, espera.
Ela não dá atenção. E desaparece numa curva ou canto do campo.
Lucas corre até a moto e tenta fazer funcionar. Está sem as chaves. Não consegue. Chuta a moto irado.
CORTE:
Silvia pede carona na beira de uma pista movimentada.
Passa um carro e para. Ela se aproxima do carro.
CORTE:
Lucas empurra a moto, que não funcionou, subida acima.
LUCAS: Eu mato aquela desgraçada.
CORTE:
Silvia joga pela janela do carro, as chaves da moto, e desaparecem pela auto pista.