Houve um tempo em que deuses e heróis divinos habitavam o céu e a terra.
Alguns indivíduos, entretanto, mostravam-se descontentes com sua submissão aos deuses e os desafiavam.
Um destes gregos deteve-se à base do Monte Olimpo e, em alto e bom tom, bradou: “Zeus! Não mais cederei a vosso jugo”. Iniciou, então, a subida ao monte. Algumas pedras, porém, do alto rolaram (devido ao eco de suas palavras).
A notícia se espalhou e o povo, submisso, se calou.
Tempos depois, um segundo grego deteve-se aos pés da montanha e bradou: “Deuses! Sou um homem livre e não mais os pertencerei”. Principiou a escalada, mas novas pedras, do monte, rolaram.
A notícia se espalhou e o povo, submisso, se calou.
Mais algum tempo depois, um terceiro grego tentaria a ingente feita. Toda a população o aguardava à base do monte. O homem parou e dirigiu seu olhar ao pico. Nuvens o cobriam e neve podia-se ver.
O homem, sem nada dizer, subiu a montanha.
Dias já haviam transcorrido. Seu retorno era aguardado pela turba.
Num certo dia, ao amanhecer, retornou. A multidão, perplexa, aguardava suas palavras.
Suas palavras, no entanto, foram: “Os deuses estão mortos!”
O admiração tomou a todos de assalto. Diziam: “Mas como podeis dizer tamanha blasfêmia?”
“Blasfêmia seria se deuses existissem, mas não mais existem. O que vos digo é um fato. Não mais necessitamos render cultos e subordinarmo-nos, somos livres. Cada qual que escolha o seu próprio caminho”
“Não compreendemos vossas palavras. Não conseguimos decifrá-las. És um deus a pregar-nos peças? Pois somente um imortal desceria vivo de tal monte”
“Deus não sou, mas apenas um homem como vós.”
“Mas um homem não faria tamanhas imprecações.”
“Minhas palavras nascem de um homem livre, isto é o que sou. Eu e todos vós. Tolos! Não compreendem o que vos anuncio? Sois livres para praticarem o que bem quiseres. Não mais consultaremos aos deuses para nossas escolhas fazermos. Podemos decidir o que quisermos, fazer o que bem entendermos. Somos livres!”
“Não sabemos o que pretendes, mas não mais blasfemará contra aqueles que nos criou e protege. Não deixaremos que suas palavras condenem a todos nós, tementes daqueles que a nós são superiores.”
Dito isto, a turba, irada, avançou violentamente contra o homem, calando-o.
Taitson Santos
* Texto publicado no "Jornal de Piracicaba" em 29/12/1999.
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