O Pai dos Pobres e da “Polaca”
Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Meio século nos separa do suicídio de Getúlio Vargas. Um tiro no coração pôs fim a vida de um dos políticos mais controversos do Brasil.
Os mandatos do presidente Getúlio Vargas deslocam-se do popular à ditadura. A conclusão que chegamos é que Vargas conseguiu ser reacionário, conservador e progressista. Vargas transitou pela política numa época em que os quadrantes ideológicos eram fortemente demarcados e, por vezes, as desavenças eram solucionadas trágica e definitivamente pelas armas. A ferro e fogo.
Em 1937 Vargas fechou o Congresso Nacional e promulgou uma nova Constituição. Ficou conhecida como “A Polaca”, pois, foi inspirada na Constituição autoritária da Polônia. O Estado Novo extinguiu os partidos políticos, nomeou interventores nos Estados, censurou os meios de comunicação e exerceu um forte controle da opinião pública. No entanto, o Pai dos Pobres foi um dos mais nacionalistas líderes da República. Creditamos ao presidente trabalhista os avanços sociais: jornada de trabalho de oito horas, voto feminino, a Consolidação das Leis Trabalhistas a CLT, a criação da Companhia Siderúrgica Nacional, Companhia Vale do Rio Doce e Volta Redonda. A campanha “o petróleo é nosso” dá origem a criação da Petrobrás.
Pelos caminhos tortuosos da Era Vargas há situações de flagrante desrespeito aos Direitos Humanos. O exemplo mais chocante e deplorável foi a deportação de Olga Benario Prestes, grávida, que foi entregue a Hitler e morreu nos campos de concentração nazistas.
Mas a tragédia selada com um tiro no coração colocou Vargas na História do Brasil e nas paredes dos casebres como o Pai dos Pobres. A marchinha de carnaval sintetiza a popularidade de Getulio “Bota o retrato do velho, outra vez, bota no mesmo lugar, o sorriso do velhinho faz a gente trabalhar”. É inegável que Vargas foi uma das maiores lideranças do século XX e um dos presidentes mais queridos.
O ciclo trabalhista que se iniciou em 1930, com a Era Vargas, encerrou-se, cinqüenta anos após o seu suicídio, com a morte de Leonel Brizola. Quando falamos, em tons saudosos, dos “herdeiros do velho trabalhismo” e citamos: Getúlio, Pasqualini e Jango, nós temos ciência que Brizola é o nome que encerra essa linhagem política. Não haverá seqüência nessa lógica de líderes. Não haverá herdeiros. Doravante não haverá um nome que identifique o trabalhismo.
Passados todos esses anos, desde a fatídica madrugada do dia 24 de agosto de 1954, ainda buscamos algumas respostas. Para quem Vargas redigiu o primeiro parágrafo de sua carta testamento? Quais eram essas “forças”? Por que Vargas preferiu o suicídio a enfrentá-las?