Para entender este cordel leia primeiro as duas mortes de Dominguinho
Muito tempo passado
Uma amiga me contou
Que na Fazenda de Mozart
Um grito ela escutou
Vinha no rumo do chão
Onde estava o caixão
Que Dominguinho ficou.
Era mesmo um gemido
Que vinha debaixo do chão
Pedindo para abrir
Depressa aquele caixão
Pois ele não tinha morrido
Deu-se um grande alarido
Ali naquela região.
O povo estava com medo
Falando de assombração
Que o defunto veio buscar
Quem o enterrou no chão
Rezou muito na igreja
Pra ver se aquela peleja
Tinha uma solução.
Foi então que um corajoso
Resolveu ir ao lugar
Pra escutar o tal gemido
Que o povo vivia a falar
Em um dia de lua
Testando a coragem sua
Foi lá para escutar.
A voz pedia socorro
Que sua perna estava presa
O corajoso amarelou-se
Por ver aquela surpresa
Quanto mais aproximava
Mais alto escutava
Pedindo por gentileza.
Minha perna enganchada
Está na tampa do caixão
Deus está me chamando
Mas assim não posso não
Venha desenganchar
Preciso logo caminhar
Lá pra outra região.
O corajoso depressa
Foi a terra retirando
A lua estava clara
E as corujas cantando
Mas estava profunda
Aquela cova funda
E o caixão foi avistando.
Tirou a tampa do caixão
Só tinha osso e cabelo
Mas o grito continuava
Para o seu desespero
Voltou então ao povoado
Correu com muito cuidado
Chamando o padre ligeiro.
O padre mais que depressa
A água benta pegou
Não esquecendo do terço
Para o local viajou
Chegando naquele lugar
Escutou a voz gritar
Ajude-me, por favor!
Eu estou nesta cova
Mas a perna enganchou
Na tampa desse caixão
Que vocês me enterrou
E o padre rezando
E a voz gritando
Tire-me, por favor!
Foi então que um espírita
Estando naquele lugar
Conversou com o espírito
Começou a lhe explicar
O seu corpo acabou
Seu espírito é que ficou
E começou lhe falar:
Na verdade ninguém morre
Pois a vida continua
Você não está enganchado
Isso é a mente sua
Você agora é espírito
Não é nada esquisito
É a realidade nua.
Faço pra você uma prece
Que te abençoe Jesus
Que te ajude no outro plano
E que te dê muita luz
Que o espírito benfeitor
Dê-te a paz e o amor
E que eles te conduz.
Os gritos acabaram
Acabou a voz falante
Tudo voltou ao normal
A partir daquele instante
É assim que vai ser
Se você não quer crer!
Vai saber mais adiante.
