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Cronicas-->O Sangue da Terra -- 12/10/2001 - 13:23 (Patricia Rosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Hoje cedo apanhei o jornal na porta do meu apartamento, pensei em lê-lo enquanto tomava meu café da manhã, mas uma notícia logo me tirou o apetite: "Conflitos na Macedónia". Já devia estar acostumada a esse tipo de manchete, mas elas ainda me abalam. Está fora da minha compreensão esse tipo de coisa, povos que dividem o mesmo território se tratarem como inimigos, chegando às vias de fato.
É claro que para tudo há uma explicação, esses povos que vivem se agredindo têm suas peculiaridades de ordem religiosa, ideológica, até mesmo linguística e cada qual quer guardar suas tradições. O problema é que foram obrigados a viver lado a lado sem que seu consentimento tenha sido solicitado, povos dessemelhantes tiveram que se agrupar, sejam os sérvios com os croatas, sejam os albaneses com os sérvios, sejam os albaneses com os macedónios. A divisão do mundo após a segunda guerra, entre comunistas e capitalistas, destruiu aquilo que é um dos maiores pilares da dignidade humana, a liberdade.
Vemos a guerra "em nome de Deus" todos os dias manchando de sangue o noticiário, paus e pedras combatendo metralhadoras, ataques terroristas, mortes em nome da defesa da cultura, enquanto que o que interessa de fato, a nossa condição de seres humanos, é aviltada a cada instante. Fico perplexa diante dos artigos entusiastas acerca do terceiro milênio, louvando o desenvolvimento tecnológico e as facilidades da vida moderna, quando é só virar a página do jornal e nos deparamos com o fato que o maior valor, a liberdade, seja de ir e vir ou de se expressar, está completamente subjugada pela força da intolerància. Guerras de séculos atrás continuam sendo noticiadas, antes de boca em boca, hoje nas folhas dos jornais.
Fiquei imaginando como deve ser viver dessa maneira, aqui ficamos sonhando em ter dinheiro para alcançar nossos projetos, do outro lado da Terra, poder levar as crianças ao parque com tranquilidade já é uma grande conquista. Esse é o nosso mundo.
Larguei o jornal e fui trabalhar. Primeiro passei na mercearia do Sr. Isaac para comprar cigarros, depois deixei um casaco na lavanderia do Ching. Tomei o ónibus e encontrei um velho colega de escola, sempre que o vejo tenho a impressão que os anos só passam para mim, Michael parece que nunca envelhece. Ao chegar no escritório fiquei sabendo do churrasco marcado para o domingo na casa de Ivan, aproveitei o gancho para pedir carona a Paola. Fomos todos para nossas mesas tentar dar conta da papelada que teria que ser enviada para a matriz no mesmo dia. O diretor comercial, Sr. Alvarez, nos prometeu uma tarde de folga se conseguíssemos fechar o balanço até o fim do expediente.
Quando voltei para casa me dei conta daquilo que convive comigo diariamente desde que nasci e de tão natural, me passou completamente despercebido. O Michael tem sangue alemão; Ching é imigrante chinês; o Sr. Issac não abre sua mercearia aos sábados; o pai de Ivan me ensinou a conhecer as melhores vodkas; na casa de Paola o prato principal geralmente é macarrão, mas foi ali que comi pela primeira vez kibe cru; o diretor comercial de nossa empresa é um negro de sobrenome espanhol.
Vivemos neste país incrível com uma miscigenação maravilhosa sem nos darmos conta disso. Povos de diversas partes do mundo escolheram este lugar para plantar suas sementes e ajudar uma nação a crescer. Minha liberdade de ir e vir não é ameaçada por nenhum de meus vizinhos, fazemos todos parte de um lugar que amamos... somos todos brasileiros... mesmo aqueles que não nasceram aqui, mas que têm essa terra no sangue e, principalmente, na alma.
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