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Erotico-->TERRA E MAR, TEMPO-ESPAÇO, LUZ E INSTINTO -- 09/07/2002 - 15:29 (Jonathan Guimarães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Para Walquíria, a ruiva sereia.



Sou mulher, neste tempo de vertigens,
que se crê soberana deste canto
e do tempo, da hora em que levanto
ao crepúsculo triste que me aflige.
Sou o espírito santo em poço virgem,
resoluto em ceder a sua pureza
aos caprichos do amor, à natureza
que me toma, com a sede do deserto.
Sou senhora do tempo mas, decerto
em sua trama sou presa sem defesa.

Sou mulher deste tempo desumano
que me prende e me faz despedaçada.
Eu sou o alvo infeliz de uma caçada
ou sereia de um pétreo oceano.
Sou detenta do vil cotidiano
que confunde as certezas deste amor
quando faz da alegria brotar dor,
faz do “sim” triste “não”, do início o fim.
Neste canto animal que trago em mim
faz-se o tempo cabal governador.

Quero ser mulher livre, soberana
do meu tempo fazer o que quiser
mas, acima de tudo, ser mulher,
conceber a expressão das mais humanas.
Na incerteza da força sobre-humana
na loucura do instinto que vier
vou nadar rio acima o quanto der
contra o mar em que habito — poço escuro —
ir de encontro ao meu vau, porto seguro:
este homem gostoso que me quer,

que me atrai com meu próprio encantamento,
que se esconde com um nome tão cafona,
que me diz, a sorrir, que eu sou a dona
do mais cândido dos seus pensamentos.
Criatura que pára os bons momentos,
molda os dias do modo que quiser,
que me sorve com as mãos feito colher,
que me espeta com sua ardente seta
e me come com os olhos de poeta
quando geme e me chama de Mulher.

Caçador que possui a cor do céu,
gosto intenso, o sabor que tem a vida,
a destreza de ungir minhas feridas
e palavras que fazem brotar mel.
De quem é este rosto envolto em véu?
Que mistérios irá esclarecer?
Quem me acorda e eterniza o anoitecer
e me abate com seus versos certeiros
— que me prendem e são meus prisioneiros —?
Quem me deita e me faz adormecer?

Este homem pequeno, voador,
faz em mim seus rasantes, investidas
que despertam emoções adormecidas...
Louco amor. Louco amor. Meu louco amor!
No meu peito é o mais novo morador
mas parece meu mais velho inquilino!
Louco homem! De um jeito tão traquino
me possui como se boto ele fosse...
Quem será este ser da água doce,
este homem que diz ser um menino?

Nesta tosca passagem ao continente,
fora d’água, lugar desconhecido,
me debato, me canso do sofrido
labutar. Penso até que estou doente.
Sem pensar, sigo a sina loucamente
rumo à terra do sol, longe do sul.
Louco amor... não tem norte nem tem sul.
Sigo apenas o instinto, a natureza.
Piracema. No templo da beleza
quero, enfim, me entregar ao homem azul.

Dar um beijo na língua fulminante,
sem limite, sem tempo... Dar meus pêlos...
e este ruivo que trago nos cabelos.
Dar o abraço exclusivo dos amantes,
um amasso, um gemido e, meio arfante,
dar meu peito, meus olhos cor de areia
e o recôndito cálice... minhas veias...
meu calor, meus odores... Dar-lhe tudo!
Dar meu fluido mais íntimo, desnudo...
e dizer que sou sua, a sua sereia.

Dominá-lo antes que ele me domine
e o meu tempo, com suas firmes mãos
a rasgar minha blusa azul, salmão...
ao tirar, com seus dentes, meu biquíni...
Antes que este poeta me fulmine
com estes olhos de quem nunca comeu,
vou abrir, devagar, meu gineceu:
meu vestido com flores amarelas...
Quero ser sua íntima costela
desde que... seja meu, somente meu.

* * *

Sou mulher em pedaços dividida.
Sou sereia encantada com meu canto.
Sou o encanto do amor e o desencanto
da paixão... Sou a vida revivida
no rochedo... Sou dúbia feito a vida:
vivo a dor, a alegria na tristeza,
— casamento da dúvida à certeza
feito oásis nas brumas do deserto.
Sou senhora do tempo mas, decerto,
em sua trama sou presa sem defesa.
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