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Poesias-->Sorvete pingüim -- 03/05/2000 - 23:10 (Alberto Nunes Lopes) |
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Um dia quente...
I. Sabor amigo
Eu, se entendesse as minhas fantasias,
diria que o teu personagem exótico
tem o sabor de um sorvete colorido,
enquanto sonho em preto e branco.
Aparecestes... naquela tarde de verão,
pois juntos nunca sentiremos o inverno,
entre uma impressão e outra revelada,
uma lambida e outra se reescrevendo.
Imaginei o choque de temperaturas,
frio o teu corpo, quente a tua alma,
estranho anseio de querer sentir na boca
o gel do beijo na dentadura possessiva.
Ó atriz deste pingüim transformista!
Em vão desavir essas falsas impressões,
no mergulho de tuas asas vais ao longe
e a minha ilusão não passa da sorveteria.
Perceber o recorte da tua magra silhueta,
dar conta de tuas espáduas nuas,
recortar tuas pernas torneadas pelos meiões
ou transformar-te outra vez em luas?
Bolas, aros, anelos, congelados
doces caramelos amanteigados
licores das receitas no ser profundo
não tomo, não bebo, não!
Paisagem de um pólo frio, solitário, de capa,
cinza, como se a memória nunca anoitecesse
e as geleiras esculpissem obras primas
inspiradas no negro brilho do teu olhar.
Talvez outra fantasia te queira agitada,
igual a cubo de gelo de sangue picado,
entorno da geladeira passando o tempo
dentro de ti o sorvete esteja derretendo.
II. Aguacerito
piedra de hielo
derretendo
pedra de gelo
sob o sol
sobre o chão
água líquida
derretendo
líquida
água
dolorosamente
ardente
pedra e água
lânguida
poça
(des)incompatibilizada
resfriadamente
mineral
pedra de gelo
calor
sem outro desejo
pedra
gelo
contornados
formidável flor
hidrogenada
refinada dor
ácida
absorvente
transpiração
líquida
pedra
vapor
no leito de pedra fria
água líquida veloz escorre
magnética
matemática
soando
enchendo o ar
pingos precipitados
oblongos
achatados
vivos a desmoronar-se
água doce
líquido
água salgada
líquido
lágrima
pero
mía alma non es todo
pone a decir mi voz!
pero mi voz non es nada
vão silencio
a ablar te!
apenas
reduzindo-te enquanto pedra
alargando-te enquanto poça d água
na ausência da pedra
à presença da poça
refletirão as rugas do calor
que o fez derreter
sem nenhuma alusão
apocalíptica
no hay ningúna dor imaculada
pero todo el sentimiento es flagelado
feito o sol
também veio a chuva
como
naquela tarde
a água caiu sobre nós
o derreter esteve assim
completamente desfeito
nem pedra
nem água
líquida
todos mistérios gasosos
(des)mistificação de cheiros
pero
mi alma que estivera silente
cantou por todos los sentimientos
a aparência dura da pedra
na liquidez incompreensível das águas
águas que rolam pedras
águas que caem
aguacerito
Manaus-AM, abril/maio 1998.
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