Sou aquela tua amada
para a qual vertes paixão,
a mesma flor desbotada
que se fecha em botão.
Sou a musa dos teus sonhos,
a paz de teus pesadelos,
o caminho no bisonho,
o arrepio nos teus pêlos.
Eu que inspiro teus poemas,
que ocupo teus pensamentos,
que imploro duras penas
aos pecados que incorremos.
Eu, que amo sem perdão,
esse amor desenganado,
condenado à perdição
de amar com o peito calado.
Quem serei, enfim, nos versos
que mostraste à revelia?
Serei eu, verbos perversos,
ou sonetos de alegria?
E se inscreves no meu corpo
rimas simples, sem loucura,
recomponho no teu dorso
toda a métrica e candura.
Mas se me chegas com gana,
nesse ritmo felino,
não é a mim que me enganas,
mas a ti mesmo, menino.
Sou aquela que te espera
a cada poema lido,
com um verso de quimera
e o amar do amor vencido. |