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Humor-->Hiper-Pretensioso -- 29/04/2002 - 01:13 (Jactâncio Futrica) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
HIPER-PRETENSIOSO _ “São sempre os menos capazes que olham os outros de cima e voltam da luta cheios de orgulho e disposição. A fatuidade da linguagem e a jovialidade que os pretenciosos demonstram, dá-lhes um ganho de causa imediato perante uma assistência em geral fraca e incapaz. A obstinação e a convicção exagerada são a prova mais evidente da estupidez. Haverá algo mais afirmativo, resoluto, desdenhoso, contemplativo, grave e sério que um burro?” (Montaigne, séc. XVI)

Acontece que, embora sempre nos refiramos à Pretensão como algo desprezível, está mais do que provado que a mesma é um item essencial no kit de sobrevivência do homem saudável. Sem ela, adernaríamos como um navio sem lastro e iríamos a pique, ao sopro da mais leve brisa.

Deus, em sua infinita misericórdia, nos compensou duma aridez espiritual irremediável com este filtro de estultice que impede que sejamos invadidos por uma quantidade excessiva de verdade... Sem dúvida, se tirássemos dos olhos os cariciosos véus da presunção, seríamos moralmente aniquilados pela inesperada e descomunal visão de nossa patetice... e pularíamos de cima do primeiro despenhadeiro, dando gritos loucos e nos rasgando de unhadas. Imagine, por exemplo, que Michael Jackson um belo dia acordasse mais lúcido que o recomendável, e descobrisse que não se parece nem um pouco com a princesinha austríaca que lhe serviu de modelo na metamorfose... Imagine a quantidade de artistas em plena empolgação do ato criativo... se lhes fosse dado vislumbrar por um momento que toda aquela quase-perfeição não passa de coisa de criança... Sem ilusão, todos desistiríamos antes de começar.

“Não há nada de novo sob o Sol...” Desde o mais infame até o mais festejado dos mortais, somos todos joões-bobos cheios de vento, e a pretensão é exatamente o contrapeso que nos traz de volta à vertical, sempre _ não importa o quanto tenhamos apanhado.

Mas o que nos interessa aqui não é esta dose providencial de ridículo de que necessitamos; o que nos interessa é o superlativo transformado burla, pantomima coletiva.

Neste sentido, uma forma bem cômica, a meu ver, do Hiper-pretensioso são esses shows em que bandas de música pop (pra baixo de medíocres) se apresentam acompanhadas de orquestra sinfônica. É bem comum este tipo de palhaçada. Os músicos em questão, ingressando na idade madura depois de emplacar 15 anos de sucesso em cima duma multidão de débeis mentais, passam a se sentir da estatura de um Beethoven ou de um Ian Kilmister. Parece exagero, mas não é: engrandecidos de tanto ouvir os gritinhos e faniquitos das tietes, os caras começam a acreditar que são realmente figuras de peso. E aí, é batata: vão passar uma longa temporada revisitando os grandes “clássicos” de suas carreiras, acompanhados de clarinetas, oboés, pistons e o diabo-a-quatro... Imagine só como os músicos da orquestra devem se sentir idiotas, vendo-se reduzidos a uma função meramente decorativa... No primeiro plano da cena, aureolados por uma iluminação feérica, meia dúzia de canastrões cheios de brinquinhos e penteados ficam fazendo caras e bocas, passando-se por grandes mestres da música. E os virtuoses na cozinha, de casaca e violino, manejados pra emprestar solenidade a arranjos de três acordes, frim-from-frum, frim-from-frum (os antigos e manjadíssimos versos agora cantarolados melifluamente entre sussurros e estertores). E no final, a aclamação apoteótica! o vocalista desfalecido em seu banquinho, esviscerado, a cabeleira caída sobre o rosto exangue... Um belo logro!

Mas não pára por aí: a partir deste ponto de suas carreiras, os mais ‘descolados’ da banda passarão a freqüentar a mídia na condição de intelectuais, de verdadeiros pensadores da cultura. Qualquer abobrinha ligeiramente polêmica ou livresca proferida por tais gaiatos, logo se transforma em factóide na mídia; nos círculos mais intelectualizados e desbundados a coisa vira senha obrigatória pras surubas.

Há milhões de exemplos do hiper-pretensioso, e também da hiper-credulidade (coisas naturalmente inseparáveis). No fim das contas é tudo bem parecido com aquela história medieval da Senhora Mundo _ uma deslumbrante dama que aparece a um cavaleiro alemão, sujeito ambicioso. “Mais linda que Vênus e Palas e todas as deusas do amor!” Uma visão celestial!.. Ele vai logo caindo de joelhos, babando, beijando-lhe os pés, com juras de amor e devoção eterna. Ela lhe diz: “Isto seria redundante, nobre senhor, pois sempre foste um de meus servos mais fiéis e denodados... ou não o sabes?! Aqui estou para que me desfrute em plenitude, porque sou tudo isso por que viveste e lutaste com bravura durante todos esses anos, desejando-me e honrando-me de minuto a minuto. Eis-me, sua recompensa!” A beldade gira o corpo, lânguida e provocativa, oferecendo-lhe suas primícias. “Estava tudo cheio de horrendas cobras, sapos e serpentes. Bexigas e feias úlceras cobriam sua pele; moscas e formigas pousavam ali dentro de forma pavorosa; e os vermes tinham comido a carne até os ossos. Um intenso mau cheiro emanava daquele corpo repulsivo, e as ricas vestes de seda pareciam desbotadas e desfeitas como cinza...”

Oh, melancolia! oh, mundo!





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