Sinval acreditava ser o cara mais esperto do mundo, vivia trapaceando todos, amigos ou não. Adorava preparar pegadinhas para os outros, pouco se importava se eram velhos, jovens demais, ingênuos, ele simplesmente não conhecia limites ou direitos dos demais. Casou-se com Marília, mulher sóbria e correta, cujo único deslize na vida foi ter casado com Sinval, apesar dos avisos e conselhos de parentes e amigos que ele só servia de mau exemplo, para o resto podia esquecer dele, afinal suas principais virtudes eram a sem-vergonhice, canalhice, preguiça e malandragem.
Como era esperado, apesar de casado tinha uma amante, Nádia, uma mulata muito fogosa e que tirava Sinval do sério, fazendo ele subir as paredes toda vez que aparecia. Como Sinval não parava em emprego algum, devido às faltas e atrasos freqüentes, além de estar sempre se esquivando do trabalho, afinal fazer “corpo mole” era com ele mesmo.
Para sair da vida miserável sem trabalhar, restava ter fé e acreditar que um dia conseguiria ganhar um grande prêmio em qualquer destas loterias, para isto ele jogava todo o dinheiro que ele ganhava ou conseguia emprestado, sempre com a mesma desculpa, quando ganhasse o prêmio ele pagava. Costumava ir a um terreiro de umbanda para conseguir sorte, e recebia sempre a mesma resposta do pai de santo: “vais ganhar uma quantia de dinheiro muito grande, basta acreditar no santo”, mas o tempo passava e nada do prêmio.
Marília era muito católica, e por isto não se separava de Sinval, agüentando seu descaso para com ela, além da amante e da famosa e inigualável preguiça. Ela também costumava fazer sua “fezinha” na loteria, mas nada nem parecido com o vício desmedido de Sinval. Um belo dia, Sinval que por acaso estava desempregado, e nem aí para procurar emprego, estava vendo televisão e assistiu ao sorteio da mega-sena acumulada, um prêmio de mais de vinte milhões de reais, e após o sorteio conferiu os números e quase desmaiou, acertara todos os números e o prêmio era dele. Pensou em sair gritando pela rua, mas se deu por conta que teria então que pagar todas as suas dívidas, além de uma infinidade de pessoas que passariam a pedir dinheiro emprestado a ele, decidiu então ficar quieto, não falando a novidade nem para Marília.
Foi direto para a casa de Nádia contar a novidade e comemorar o feito. Depois de uma tórrida e calorosa comemoração, com direito a entrada pela “porta dos fundos” e tudo mais, ela perguntou se Sinval continuaria casado com Marília, recebendo como resposta uma sonora gargalhada. Ele já tinha tudo acertado, quando recebesse o prêmio, colocaria o dinheiro no nome dela, Nádia, se divorciaria de Marília e eles poderiam viver na mordomia o resto da vida, mas a coisa tinha que ser bem feita ou ele teria que dar a metade para a esposa.
Assistindo o jornal da noite descobriu que apenas duas pessoas ganharam o prêmio, isto daria mais de dez milhões para ele, o suficiente para viver bem o resto da vida sem trabalhar. Ele estranhou o fato que os dois ganhadores eram da mesma cidade dele, ou seja, mais alguém naquela cidade de merda ficaria rico como ele, ficou pensando quem poderia ser mas deixou para lá e foi deitar na cama, estava tão imerso em seus pensamentos que nem notara que Marília estava bastante estranha naquele dia.
No dia seguinte foi receber o prêmio e colocou tudo no nome de Nádia, em seguida procurou Marília dizendo que iria se separar dela, na mesma hora foram no juiz e homologaram a separação. Sinval estranhou que ela nem contestou coisa alguma, assinaram os papéis e estavam legalmente separados. Depois ele foi até uma loja e comprou roupas novas, na volta encontrou um conhecido e quando este o felicitou, Sinval estranhou e perguntou o por que do cumprimento, e seu amigo falou que Marília tinha ganhado metade do prêmio acumulado da mega-sena, e que agora realmente ele não precisaria mais trabalhar, se é que realmente tinha trabalhado algum dia na sua vida.
Foi quando Sinval se apercebeu da atitude diferente de Marília, cachorra pensou ele, então ela aceitou e ficou calada somente porque tinha ganhado aquele dinheiro todo, sinceramente, com aquele jeito de puritana e crente, guardou todo o dinheiro para ela e ficou calada, realmente não se pode confiar em ninguém neste mundo. Chegando na casa de Nádia ia comentar o acontecido quando notou algo estranho, a casa estava como se tivesse sido abandonada, e em cima da mesa tinha uma carta.
A mensagem dizia mais ou menos assim: “Querido Sinval, depois de todo este tempo sendo sua amante, decidi que não quero ser sua esposa, pois você faria comigo o mesmo que fez com Marília, sendo assim estou indo embora da sua vida para sempre, e gostaria muito de agradecer o dinheiro que você me deu de presente, com certeza farei bom uso dele. Muito obrigada de novo e adeus, da sua eterna amante e que nunca se esquecerá de ti, Nádia”.
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