Uma página em branco - em homenagem às crianças de Beslan
Athos Ronaldo Miralha da Cunha
As ações terroristas disseminam o pavor na humanidade. Não temos mais palavras para definir a insensatez. E não sabemos qual o limite da insanidade.
O 11 de setembro em Nova York nos deixou estupefatos e boquiabertos com o inusitado da operação e arrojo do ato terrorista. Aviões colidindo com o World Trade Center foi algo surreal. O 11 de março em Madri nos deixou indignados. Bombas explodindo em um metrô na hora do rush foi a mais pura covardia.
Beslan nos silencia. Como definimos assassinatos de inocentes com um tiro nas costas? É inominável e custamos a acreditar que crianças e adolescentes foram alvejados covardemente quando fugiam, desnudos, sedentos e famintos, do martírio. A perversidade humana atingiu sua escala máxima da crueldade quando vemos inocentes, sob o jugo de fanáticos, sendo ameaçados com armas de guerra e bombas e maltratados psicologicamente. Como será o desenvolvimento psíquico dos sobreviventes? Quantos fantasmas os acompanharão pelo resto de suas vidas?
A expressão de dor na face de uma mãe, acariciando o rosto de seu filho morto, diz tudo. A tristeza nos preenche o coração. E os vidros dos nossos olhos umedecem. Não há olhares cruzados e nem súplicas nos lamentos das mãos. Nesse cenário de terror não há fundo musical, somente uma face serena de inconformidade.
Foi atroz. Foi cruel. Desumano. Impensável. Inimaginável. Apenas com o silêncio manifestamos toda a nossa indignação. Simplesmente não há palavras. E não temos lágrimas porque nosso choro é insuficiente e não justifica o inexplicável.
A melhor forma, talvez a única, de externarmos todo o nosso sentimento sobre o abominável atentado na Rússia seria, apenas, contemplarmos diante dos nossos olhos uma página em branco umedecida com uma insistente gota de lágrima. O que escrever numa hora dessas? Como dissecar o sofrimento se nós esgotamos as palavras com os atentados de Nova York e Madri?
Uma página em branco sobre a escrivaninha é a homenagem que prestamos às crianças brutalmente assassinadas simplesmente porque não temos mais condições de definir e contemporizar sobre o insano. Esse atentado à escola é um elogio à loucura. Um elogio à monstruosidade que bate palmas ao descalabro no quintal da humanidade. Estamos a um passo da barbárie. Calo-me. Revolto-me.
Existe um adágio popular que diz “morro e não vejo tudo”. O que falta ver?