Usina de Letras
Usina de Letras
16 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62282 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Trapaças no mundo da Ciência -- 08/09/2004 - 21:28 (Don Cuervo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Trapaças nos domínios da ciência



ISSO supostamente não deveria acontecer. Não nos sagrados institutos de pesquisas científicas. Não numa área em que buscadores desapaixonados e objetivos da verdade labutam incansavelmente em seus laboratórios. Não onde pesquisadores dedicados, compromissados a encontrar a verdade, não importa ao que as pesquisas possam levar, procuram desvendar os segredos da natureza. Isso não deveria acontecer num conjunto unido de homens e mulheres que combatem, ombro a ombro, para anular as devastações causadas pela doença, para a bênção da humanidade.



Quem é que suspeitaria que cientistas dedicados como estes manipulariam dados para apoiar seus argumentos? Ou selecionariam o que apóia sua teoria e desconsiderariam o que não apóia? Ou registrariam experimentos que jamais realizaram e falsificariam dados para reforçar conclusões que não poderiam provar? Ou relatariam estudos que jamais fizeram e afirmariam ser autores de artigos que jamais prepararam ou que nem sequer viram? Quem suspeitaria de tais trapaças nos institutos de pesquisas científicas?



Isso não deveria acontecer, mas acontece. Ano passado, uma revista científica noticiou: “Suborno, fraude e conduta incorreta são abundantes entre os pesquisadores médicos americanos, segundo uma grave denúncia publicada por uma comissão do Congresso dos EUA esta semana. O relatório dizia que os Institutos Nacionais de Saúde ‘puseram em perigo a saúde pública’ por deixarem de policiar os cientistas por eles apoiados.” — Revista New Scientist, de 15 de setembro de 1990.



A maioria dos casos consiste em trapaças chamadas de conduta inapropriada, mas outras são patentes fraudes. Assim foi rotulado o caso da Dra. Thereza Imanishi-Kari e cinco co-autores de um documento que “descrevia uma inserção indireta de um gene estranho em células imunes de camundongo. Os autores afirmavam que o gene natural do camundongo começou então a imitar o gene inserido, produzindo um anticorpo especial”. (Science News, de 11 de maio de 1991) Este teria sido um passo importante na pesquisa imunológica, exceto pelo fato de que, pelo visto, jamais aconteceu.



O comunicado foi publicado em abril de 1986 em Cell, uma publicação científica. Pouco depois, a Dra. Margot O’Toole, pesquisadora júnior de biologia molecular no laboratório da Dra. Imanishi-Kari, disse que o documento fazia alegações não comprovadas pelos dados. Ela se dirigiu ao Dr. David A. Baltimore, Prêmio Nobel e co-autor do documento de pesquisa, levando 17 páginas de dados das anotações da Dra. Imanishi-Kari. Estas páginas mostravam que tal experimento não havia dado certo, ao passo que o documento publicado dizia que havia. O Dr. Baltimore, contudo, não via motivos de duvidar dos dados e menosprezou a Dra. O’Toole como uma “descontente pesquisadora pós-doutoral”. — Jornal The New York Times, de 22 de março de 1991.



Nesse mesmo ano, duas universidades reexaminaram o artigo de Cell. Uma foi o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), onde se realizou tal trabalho; a outra era a Universidade de Tufts, onde a Dra. Imanishi-Kari estava sendo considerada para importante posição. Os reexames encontraram alguns problemas, mas nada de grave. Ali o caso ficou parado por dois anos.



Daí, o Deputado John D. Dingell, presidente da Subcomissão de Supervisão e Investigações, da Câmara americana, assumiu o caso. O Governo subvenciona as pesquisas científicas e, por meio dos NIH (Institutos Nacionais de Saúde), concede US$ 8.000.000.000 por ano a cientistas individuais e a seus institutos para projetos de pesquisas. A Subcomissão de Dingell está interessada em saber quão eficazmente o dinheiro público está sendo gasto, e ela investiga possíveis abusos.



O Dr. Baltimore ficou muito sentido. Ele acusou a Subcomissão de, ao levar adiante aquele caso, “querer acabar com o critério-padrão e substituí-lo por um inteiramente novo padrão de julgamento da ciência. Eles preferiram o estilo de processar legalmente os outros. A mensagem é que a pessoa deve realizar suas pesquisas científicas com um olho voltado para a possibilidade de ser processada. Se a audiência de instrução aqui realizada, hoje, representa o conceito do Congresso de como as pesquisas científicas devem ser feitas, então a ciência americana, conforme a conhecemos, está em apuros.”



O Dr. Baltimore obteve o apoio de colegas compreensivos por enviar uma carta a 400 cientistas, avisando que a intervenção do Congresso poderia “prejudicar a ciência americana”. Ele chamou o inquérito de prenúncio de ameaças à comunicação científica e à liberdade científica. Muitos membros da comunidade científica se colocaram a favor de Baltimore, um de seus maiores astros chamando as audiências de “caça às bruxas”, e o Sr. Dingell de “novo McCarthy”.



“Os apoiadores do Dr. Baltimore e de sua defesa do artigo responderam com ataques contra o Congresso”, noticiou o The New York Times, de 26 de março de 1991. “Eles criticaram o Sr. Dingell por intrometer-se nos cadernos de anotações da ciência, usando frases como ‘polícia contra a ciência’ para descrever o painel dele. Virtualmente toda carta e todo artigo diziam que não havia questão alguma de fraude, somente de interpretação. ‘Estamos soterrados de cartas de cientistas que expressam grande preocupação com o que estamos fazendo’, disse um dos membros da Subcomissão Dingell. ‘Mas, num grande número delas, talvez a metade ou mais, havia uma desculpa, dizendo que não conheciam os fatos do caso. Isso é um tanto bizarro.’”



Quando o assunto fica muito emocional, os fatos podem tornar-se irrelevantes e desaparecer ao fundo. O dilúvio de cartas de apoio ao Dr. Baltimore e à Dra. Imanishi-Kari criticavam o Congresso, empregando uma linguagem forte e emotiva. O Dr. Stephen J. Gould, de Harvard, escreveu: “À luz dos acontecimentos recentes em Washington, não estou tão seguro de que Galileu não teria enfrentado maiores dificuldades atualmente.” O Dr. Phillip A. Sharp, do MIT, instou com os cientistas para que escrevessem a seus representantes no Congresso, protestando contra esta Subcomissão. Ele asseverou que a Subcomissão “repetidas vezes rejeitara o critério de cientistas habilitados” de que não havia fraude alguma. Ademais, afirmou que esta havia empreendido “uma vingança contra cientistas honestos” que “custaria muito caro para a nossa sociedade”. Do jeito como as coisas saíram, se qualquer vingança estava envolvida, não era contra os cientistas honestos, mas contra a Dra. Margot O’Toole, cuja honestidade lhe custou caro.



“Conquanto a ciência atue de modo relativamente suave, ela parece ser movida puramente pela razão, e as soluções são dadas pela natureza nos experimentos. Mas, quando as coisas saem errado, os atores humanos tiram as máscaras de impassividade profissional, e as emoções subjacentes do empreendimento científico podem subitamente emergir.” (The New York Times, 26 de março de 1991) E, quando o fazem, forças de fora da ciência têm também de emergir para acabar com as trapaças e retificar os erros cometidos contra os denunciantes das coisas encobertas.



Isto era o necessário neste caso. Muitos na comunidade científica, que jamais sequer se incomodaram em examinar a evidência, automaticamente tomaram o lado do Dr. Baltimore e da Dra. Imanishi-Kari, e contra a Dra. O’Toole. Ademais, eles vilipendiaram a agência governamental que teve de intervir para corrigir os erros. Isso faz lembrar o provérbio bíblico que diz: “Quando alguém replica a um assunto antes de ouvi-lo, é tolice da sua parte e uma humilhação.” — Provérbios 18:13.



Foi somente depois de longas investigações feitas pela Subcomissão Dingell, pelo Serviço Secreto, e pelo Escritório de Integridade Científica dos NIH que as acusações da Dra. O’Toole foram finalmente comprovadas. A revista New Scientist, de 30 de março de 1991, noticiou: “Os peritos dos Institutos Nacionais de Saúde concluíram que um co-autor do Prêmio Nobel David Baltimore inventou todo um conjunto de dados, de 1986 a 1988, para apoiar um documento publicado no periódico Cell, em 1986. O Dr. Baltimore, que anteriormente atacara uma comissão de inquérito do Congresso sobre o assunto, considerando-a uma ameaça à liberdade científica, pediu agora a Cell que fizesse uma retratação sobre tal documento.” Ele pediu desculpas à Dra. O’Toole por deixar de examinar mais plenamente as dúvidas por ela apresentadas.



As verificações revelaram que os dados foram tramados pela Dra. Imanishi-Kari e que um experimento, comunicado por ela, jamais fora realizado e, à medida que se tornava iminente uma exposição completa, ela tentou encobrir tudo. “A partir do momento que a Dra. O’Toole e os peritos externos começaram a fazer perguntas sobre o documento”, disse a revista New Scientist, Imanishi-Kari “começou sistematicamente a inventar dados para apoiá-lo, de acordo com o informe dos NIH. Alguns destes dados falsificados foram publicados em Cell, em 1988, como correções para o documento original”. Em 6 de abril de 1991, a New Scientist comentava: “Os cientistas também precisam reconhecer que a auto-regulação somente funciona se for baseada na confiança do público. Desconsiderar os denunciantes como criadores de casos pouco contribui para ajudar nisso.” Semanas depois de toda esta evidência ser apresentada, contudo, a Dra. Imanishi-Kari ainda a chamava de “caça às bruxas”.



Um editorial de The New York Times, de 26 de março de 1991, questionava o assunto sob a manchete “Um Watergate Científico?” Dizia: “Deve-se lançar a mais séria das acusações contra o mecanismo tíbio da comunidade científica para investigar as fraudes. Vários painéis de análise dos fatos, quando confrontados com a obstrução levantada pelo Dr. Baltimore, um dos cientistas mais destacados desta nação, pareciam mais intencionados a amainar a má publicidade do que em encontrar a verdade.” Todavia, é esta mesma comunidade científica que diz que ela deveria examinar a si mesma, em vez de ser examinada por pessoas de fora.



O editorial prosseguia: “Os exames iniciais das reclamações da Dra. O’Toole pareciam uma confraria de homens ligados por fortes laços de lealdade, que tomavam medidas para proteger reputações científicas. Investigações feitas nas Universidades Tufts e MIT não encontraram fraude alguma, nem sequer um grande erro. Os Institutos Nacionais de Saúde designaram um painel examinador que tinha fortes laços com o Dr. Baltimore. Mesmo depois de o painel ser remanejado para apaziguar os críticos, ele produziu um relatório muito brando, não achando evidência alguma de conduta incorreta, apesar do fato de que se havia comunicado um experimento que realmente jamais fora realizado. Somente depois de o Congresso ter-se envolvido no assunto é que os NIH começaram a demonstrar firmeza. Seu novo Escritório de [Integridade] Científica produziu o relatório corajoso e acusatório que finalmente chama uma impostura de impostura. O Dr. Baltimore parece, desde o início, mais intencionado a abafar a comissão de inquérito do que a chegar à raiz das acusações. Embora ele mesmo não tenha sido acusado de fraude, ele assinou dois documentos — o documento original e uma correção subseqüente — contendo dados que agora se julga terem sido inventados pela Dra. Imanishi-Kari.”



Os cientistas ficam infelizes quando alguém de fora da comunidade científica julga as atividades deles. São resolutos em achar que eles mesmos, e não pessoas de fora, e, por certo, não as agências do Governo, devam julgar seus próprios casos, quando há uma acusação de conduta incorreta ou de fraude. Mas qualquer pessoa no âmbito da comunidade científica que ouse suscitar questões contra membros destacados dela pode dar-se muito mal, como se deu com Margot O’Toole.



O que aconteceu com os personagens principais envolvidos neste caso prova o ponto. O Dr. Baltimore tornou-se presidente da Universidade Rockefeller. A Dra. Imanishi-Kari conseguiu a posição de prestígio que almejava na Universidade Tufts. A Dra. O’Toole perdeu o emprego no laboratório de Tufts, perdeu a casa, não conseguiu obter um novo emprego em estabelecimentos científicos durante anos, e teve de trabalhar atendendo o telefone na empresa de mudanças de seu irmão.



O Dr. Baltimore alegadamente disse ao Sr. Dingell, presidente da Subcomissão, que disputas como a da questão Imanishi-Kari faziam parte dum “processo de autopurificação que prossegue continuamente” na ciência. Neste caso, a “purificação” consistia em impedir que uma cientista honesta, Dra. Margot O’Toole, até mesmo trabalhasse na área científica. Felizmente, contudo, esta “purificação”, no caso dela, não foi permanente. Quatro anos depois, em 1990, depois de vindicada, ela conseguiu um emprego científico, sendo contratada pelo “Genetics Institute”, uma empresa fundada por um dos que a apoiaram, Mark Ptashne, de Harvard.



A maioria das pessoas concorda que tais trapaças não deveriam acontecer nos domínios da ciência, todavia, foi uma revista científica que publicou a reportagem de que tais trapaças “são freqüentes entre os pesquisadores médicos americanos”.





Veja Despertai! de 22 de janeiro de 1990, “Fraude na Ciência”, páginas 2-15.







“Suborno, fraude e conduta incorreta são freqüentes entre os pesquisadores médicos americanos.”



US$ 8.000.000.000 do dinheiro dos contribuintes vão para cientistas e seus institutos, todo ano, para projetos de pesquisas.





Uma Subcomissão do Congresso está interessada em como é gasto o dinheiro público.





Os autores obtiveram promoções, a denunciante perdeu o emprego.



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui