HIPER-CÍNICO _ É o humorista que imita, ridiculariza, escracha com a figura de alguma personalidade pública _ do meio artístico ou não _ e, depois de feito o estrago, põe panos mornos, dizendo que aquela esculhambação toda, na verdade, se tratava de uma homenagem (!!). Ele só não sabe é que está pondo mais pimenta na ferida, ao sugerir, implicitamente, que o coitado a quem acabou de espinafrar, além de ridículo, é também um perfeito débil mental pra engolir uma desculpa tão babaca!
O engraçadinho faz a imagem do outro se prestar a seus desenfreados caprichos de palhaço, evidenciando seus tiques com uma competência verdadeiramente genial _ sim, genial, pois nem Freud em pessoa conseguiria extrair tantos lapsos duma alma (e assim, numa simples brincadeira; movido única e tão somente pelo fogo no cu!). E aí, depois de divertir a todos com tantas insinuações e trejeitos hilariantes, o arlequim traveste-se em diplomata e, com a cara mais limpa do mundo, diz que na realidade tem uma profunda admiração e que sente qualquer coisa de muito linda pela pessoa a quem acabou de linchar publicamente (num programa dominical da Globo, p.ex.). Às vezes chega ao requinte de se dizer um velho amigão do peito, quando, na verdade, jamais trocou uma só palavra com o infeliz em toda a sua vida... Com essas demonstrações sentimentais de humildade e sinceridade, o velhaco tenta evitar um ou outro processo judicial, além de se afirmar perante o público como uma figura meiga e fofa, um grande caráter etc... Ao fim do número, mostrando-se de fato uma criatura eleita, ele chora copiosamente por todas as criancinhas sem lar e sai carregado, murmurando frases desconexas.
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