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Contos-->Agora ou nunca -- 20/01/2002 - 10:00 (Paulo K) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há tempos aquela idéia amadurecia em sua mente qual semente germinando na terra. O tempo passava e com ele minavam as forças que volta e meia o impeliam àquela declaração. “Agora não dá mais”, pensava contrito. “É agora ou nunca. Desta vez o farei. Custe o que custar”. Assim decidido dispensou a secretária e fechou o escritório mais cedo. Aliás, pensava, nem deveria ter ido trabalhar naquele dia. O fizera, sabia-o bem, somente pelo impulso de ver sua assistente, amante de vários anos e da qual não conseguira se libertar, tamanha a atração que sentiam um pelo outro.
Quantas vezes lutara contra sua consciência, sem sucesso. Quantas vezes o remorso e o arrependimento tinham-lhe batido à porta. E ele, inflexível, se recusara a deixá-los entrar. Disfarçara com esforço esses anos todos, lutara procurando justificativas para sua traição. Quantas vezes seus sonhos não o tinham denunciado. Tornara-se rotina o acordar sobressaltado no meio da noite, por vezes até em voz alta. Por diversas ocasiões interrompera também o sono da esposa quanto isto acontecia. Sempre inventava uma desculpa, uma resposta muxoxa saía de sua boca, virava-se para o outro lado e fingia dormir rápido.
Mas de uns tempos para cá andara a pensar cada vez com mais frequência na vida dupla que levava. A cada dia tornava-se mais difícil manter as coisas sem despertar suspeitas por parte da família. Afinal seus filhos tinham crescido o suficiente para saberem dos muitos problemas que afetam a vida dos casais e temia que mais cedo ou mais tarde seria descoberto.
A nova amásia não lhe parecia tão atraente como no começo. Talvez tivesse errado em contratá-la como secretária. Assustava-se ao imaginar as consequências que poderiam advir de um rompimento entre os dois. A moça, é claro, com o passar dos meses sabia mais e mais sobre ele. O telefone da sua casa, o nome da esposa, dos filhos, seus hábitos, gostos, etc., etc.
Sabia que tinha que fazer algo, mas o que? Censurava-se pelo seu incontrolável impulso de correr atrás dos rabo de saia. Das inúmeras outras vezes em que se envolvera em tais aventuras saíra-se bem, pensava satisfeito. Nenhuma sequela, nenhum resquício de desconfiança, nada, nada observara nas pessoas da família. Soubera manter-se discreto, sem dar azo à imaginação nem mesmo por parte dos amigos íntimos. Realmente, quando em conversas às mesas dos bares nas sextas-feiras após o trabalho quando o assunto surgia da parte de seus colegas, sua atitude era de censura aos casos de aventuras que contavam e aumentavam por conta dos copos de bebida.
Agora sentia que era diferente. Será a idade? – conjeturava consigo mesmo – mudança de valores? Nenhuma resposta convincente encontrava.
Cansado de conviver com aquele seu questionamento que o incomodava cada vez mais, resolvera tomar aquela atitude. Contaria tudo à esposa, e em voz alta, à frente de todos. Tal a coragem que se instalara em seu ser. Não daria a mínima para o que dele poderiam pensar ou falar. Estava resolvido.
De mais a mais, seria sua última chance. Poria tudo a pratos limpos. Rodava decidido pelas ruas da cidade quase nem reparando no trânsito e nas mudanças de cores dos semáforos. Sentia-se forte, resoluto, nada no mundo seria capaz de demovê-lo de sua resolução.
Entrou na casa tomado de uma serenidade não antes imaginada, fez questão de não olhar para os lados, encaminhando-se diretamente e a passos firmes em direção à esposa.
Ali se postou. E falou... falou como se toda uma vida de repressão tivesse sido imposta ao seu coração, à sua mente, não sabia precisar exatamente de onde. Não se esquecera, falava em voz alta, arrancando todas as suas máscaras tão cuidadosamente colocadas há anos. Sem interrupção falou por mais de uma hora à esposa que o ouvia silenciosa. Contou de suas aventuras, detalhando ao máximo que sua memória permitia, sem lhe poupar os detalhes. Havia se preparado muito bem para isso, o que lhe assegurava a confiança indispensável para aquele jorrar de palavras.
Parecia a sós com ela. Não saberia talvez dizer se houvera mais alguém com eles naquela mais de uma hora de desabafo. Não admitiria réplica, caso fosse interrompido. Falou, falou, falou tanto que a boca ficou seca. Mas nem isso notou, indiferente a tudo e a todos como estava.
A palidez da esposa em nada se modificou, deitada que estava naquela sala repleta de parentes e vizinhos chorando.
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