Na penumbra cinza, sua mão ondulava no ar ao ritmo da música. Seus dedos pejados de anéis de ouro e pedras rebrilhavam significados. De olhos cerrados, embalada pelo som alto, ela sonhava acordada. Nesse momento o que imaginava ser? Uma sacerdotisa egípcia, um druida gaulês, um sufi indiano? Podia-se imaginar velas acesas, incenso evolando, nichos habitados por imagens santas, antigos e misteriosos amuletos enfeitando paredes invisíveis. No seu semblante oriental fulgia um que de magia. Um joelho e uma coxa de pele macia se mostravam através da fenda profunda da saia vermelha. De tempos em tempos um sorriso iluminava seu rosto ao se perceber observada. Sua face foi beijada, seu cabelo acariciado num gesto de carinho e amizade. Sua boca recitava mensagens de ânimo, ditados profundos, orações de sabedoria, retratos de vivência intensa, estudos prolongados, árduas meditações. Falou de livros, poesia e vida. A bebida inebriava colocando toda sua paixão em cada terminação nervosa, em cada texto da epiderme, em todos os órgãos dos sentidos. Uma áurea de paz inundava o ambiente. Uma mulher brilhando em plenitude. Desejei tomá-la em meus braços, beijar sua boca, sugar sua força vital. Sua disposição e vontade de viver em mim causavam inveja. Eu a desejei nesse momento. Eu a queria, muito. Desejei sua boca, sua pele, seu corpo. Eu a desejei para mim. Queria-a minha. Queria possuir seu corpo, sua atenção, sua vida... |