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Humor-->f. Birita faz mal à saúde? -- 01/05/2002 - 10:38 (Jactâncio Futrica) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DR. PELÓPODAS RESPONDE
_________________________________________

Quadro diário de perguntas e respostas na TV
* obs: Dr. Pelópodas é médico, filósofo e consultor da revista chamego
_______________________________________________



Consulente_ Dr. Pelópodas, o álcool faz mal pra saúde?

Doutor_ O álcool é um veneno altamente letal, camaradinha Uélinton... desde que injetado diretamente na veia. Usado externamente, este precioso líquido vem nos servindo desde a antigüidade com as suas incomparáveis propriedades germicidas, de larga aplicação na medicina doméstica... Ingerido via oral _ aí sim! _ o álcool adquire as proporções prometéicas e ptolomaicas de que foi investido pelos deuses no início dos tempos. Desde então ele vem guiando o homem em sua eterna luta contra a caretice (o espírito das trevas, como diziam os antigos), iluminando sua jornada em meio às correntezas do Érebo e desviando-lhe dos engodos de Partênope (estes dois últimos, personificações mitológicas da bobeira e da vulgaridade, respectivamente).

Cons. _ E tem gente que ainda se gaba de não beber... Acham coisa feia dar uma cambaleadinha ou outra...

Dr. _ São uns cuzões! É aquela história: a rã, no seu charco, zomba do oceano. Que se há de fazer?.. O homem que rejeita o álcool é na verdade um efeminado insípido, um tolo ingênuo _ enfim, um bom filho-da-puta!

Os grandes gênios da raça humana fazem coro comigo neste testemunho de amor e devoção à pinga, ao uísque, à grappa, à tequila, à caña, ao arak, à shrub, à bagaceira, ao Mad Turkish... Dizia-nos Molière: “Nada existe que se compare ao álcool. Ele é a paixão de todo homem capaz. Só de pensar em quantos amores ele atou, quantas amizades, quantas canções, quantas madrugadas loucas, quanto riso, quanto sonho, quantos velórios, quantos carnavais! Não merece viver o homem que dispensa o álcool!” Voltaire também depôs, muito sensatamente, a favor da birita: “Eu bebo sim! E tenho profunda convicção de que milhões de pessoas não estariam vivas hoje se não tomassem umas e outras por aí; e muita gente simplesmente já teria enlouquecido de tédio, dado um tiro na idéia! É o álcool que as protege de um sem número de doenças, a despeito das calúnias da gentinha. O infeliz que se gaba da própria sobriedade é muito simplório ou é um cara dissimulado, desses que jamais baixam a guarda, com medo de perder a banca _ como se alguns dentes quebrados ou uma temporada na cadeia fossem tirar pedaço de alguém! Se houvesse mais alcófilos haveria também mais pessoas saudáveis e felizes, e todos teriam vidas mais longas. Não hesito em recomendar o álcool como fator para uma saúde melhor.”

Rabelais: “A bebedeira nos põe em comunhão direta com Deus. Por isso reitero aqui o meu alerta aos pais e educadores de toda a França: a rama é a grande escola da mentalidade justa e equilibrada; o grande remédio, a panacéia universal, como nos dizia Paracelso. Um povo bom de copo é a melhor garantia de uma nação forte e soberana. Quanto ao abstêmio _ esta figura patética e rastejante! _ eu o comparo a um espantalho, um espantalho humano condenado ao imobilismo em meio a um pomar luxuriante, enquanto os ‘pés-de-cana’ fazem a festa, se lambuzam e mandam ver, sem miséria... Acordai, pois, turba ingênua! Quando virdes um bêbado a cambalear pelas ruas, sabei que ele está se instruindo, se aprimorando em saber. Seu corpo tropeça, mas sua mente voa. Enquanto vós o julgais do fundo de vossa mesquinha ignorância, sabei que ele está deitando e rolando em néctares e nenúfares perfumados; esbaldando-se nas iridescências da mais alta metafísica; iniciando-se nos mistérios cósmicos pelas mãos de nosso divino mestre: o goró. O bom bebum emerge de cada ressaca mais e mais vivo para a verdadeira vida... A sublimidade da existência é fina e louca demais pra ser captada pela mente bovina de um abstêmio. Como poderá ele algum dia reconhecer a Beleza, desembotado de seus insossos estereótipos? Quando irá perceber a magia da vida sem precisar duma fanfarra tocando em sua homenagem? _ Nunca, jamais!.. O alcófilo, quando admira a beleza de um bosque, delicia-se ali com mil tons de verde e mil texturas; já o abstêmio, este vê apenas o ‘verde’ (não a cor _ veja bem _ mas a palavra ‘verde’, que ficou grudada em sua mente como mais um conceito estúpido e caricato).”

Depois destes veneráveis depoimentos, quem em sã consciência poderá continuar falando merda sobre o álcool?! Neste caso, vai aí mais um torpedo carregado com o mais poderoso explosivo: a razão! Em seu livro “Chapadaço em Calcutá!”, o mestre Baudelaire nos deixa o seu belíssimo testemunho. A última trincheira da babaquice vai cair agora. Ele nos diz: “Se o álcool desaparecesse da produção humana, creio que faria na saúde e no intelecto da humanidade um vazio, uma ausência, uma imperfeição muito mais terrível que todos os excessos e erros pelos quais o culpamos. ¿Não é razoável pensar que as pessoas que nunca bebem _ ingênuas ou sistemáticas_, são imbecis ou hipócritas? Imbecis, isto é, homens que não conhecem nem a humanidade nem a natureza, artistas que recusam os meios tradicionais da arte, operários que blasfemam contra a mecânica; hipócritas, isto é, comilões reprimidos, impostores da sobriedade, que bebem escondidos ou têm algum vício oculto? Um homem que só bebe água tem um segredo a esconder de seus semelhantes. Que seja então julgado: há alguns anos, em uma exposição de pintura, uma multidão de imbecis provocou tumulto diante de um grande quadro polido, encerado, envernizado como um objeto industrial. Era a antítese absoluta da arte; era para a cozinha de Droling o que a loucura é para a idiotice; os fanáticos para o imitador. Fui atraído por este objeto monstruoso como todo mundo, mas envergonhei-me desta estranha fraqueza, pois era irresistível a atração pelo horrível. Enfim, percebi que fora levado inconscientemente por uma curiosidade filosófica: o imenso desejo de saber qual poderia ser o caráter moral do homem que havia produzido uma extravagância tão criminosa. Apostei comigo mesmo que ele devia ser profundamente mau. Procurei me informar depois, e meu instinto teve o prazer de ganhar esta aposta psicológica: soube que o monstro se levantava regularmente antes da luz do dia, que havia causado a ruína de sua empregada e que bebia somente leite!”

Cons._ Então! Se esse monte de fera aí fechou com a marvada, quem sou eu pra dizer que não!

Dr._ Eu mesmo, como usuário e estudioso do assunto, não tenho dúvida em dizer que o álcool foi o fator decisivo no aprimoramento intelectual de todos os grandes gênios da humanidade! Não hesito mesmo em afirmar que a quase totalidade das grandes descobertas científicas vieram à luz graças a cérebros privilegiados... idealistas... ousados... e, sobretudo, encharcados de goró! No meu trabalho “A Vodca e as Faculdades Superiores da Mente”, dou provas contundentes disto.

Cons._ Teria o álcool uma espécie de vitamina para a mente?

Dr._ Não é bem isto, Uéliton. Durante a embriaguez, novas e inusitadas conexões neuronais são estabelecidas, devido à ação saneadora e reformadora do álcool. Os neurônios mais fracos são queimados durante o processo, por não agüentarem o repuxo. O emaranhado de sinapses e dendritos ganha um novo traçado, muito mais louco! Aquele sistema careta de conexões em que A se liga a B, B a C, C a D, e nhenhenhen nhenhenhen... todo este lengalenga é revolucionado pela ação desburocratizante da mandureba. É uma espécie de curto-circuito criativo em que os conteúdos mentais são explodidos, descompactados, libertados de seus compartimentos estanques e segmentados, expandindo-se numa grande onda de revelação e iluminação! Já a mente do caretão (o ‘impostor da sobriedade’) é aquela coisa cinzenta... um labirinto kafkiano de repartições públicas, onde cada uma se nega a repassar informação às demais, a não ser à custa de muita burocracia e formalidade.

Cons._ Aquela morosidade filha-da-puta... A imbecil da minha mulher vive me jogando na cara: “Álcool é droga! Você é um drogado! Você é um drogado!” Eu respondo pra ela: “Droga é essas merda que tu fica assistindo na TV!” Aí ela sossega... Eu acho que a pinga abre os canal, sabe?!.. muito mais que a maconha...

Dr._ Abre, lógico! Escancara! Daí a profunda originalidade de todo intelecto regado a álcool... daí este nosso amor ao belo... esta nossa visão holística do Universo!.. daí esta intuição que beira a clarividência... esta luz, este carisma, esta capacidade de enxergar uma estrela num pedaço de cocô, e um cocô numa estrela...

Cons._ E a escrota da Vitorina ainda tem coragem de me vir com essa! [Esganiçando a voz:] “Álcool é droga! álcool é droga!” Vai chupá uma rola, pô!

Dr._ Calma, Uélito... Ela fala isso, mas é só da boca pra fora...

Cons._ Outro dia passou na televisão... a polícia parou um carro que vinha em zigue-zague pelo meio da rua. Os caras da reportagem filmando tudo. O carro pára, sai dali um camarada desbaratinado! cambaleando, com as calças caindo pelas pernas, a camisa abotoada que nem as fuça dele... todo malacafengo... virado do avesso mesmo! Ele se dirige aos guardas: “E aí, xeeeente booua?!” A repórter aproxima o microfone de sua boca. Em vez de mandar sua declaração solene pra todo o Brasil, o cara começa a dar umas sopradinhas no microfone, pensando que fosse um bafômetro. Fu! fu! fu!.. Uma cena! Fiquei imaginando o que ele não vai ter que aturar de gozação no trabalho: “Ô Sopradinha! Diz aí, Sopradinha!” Minha mulher tava comigo na sala; não perdeu a chance de pegar no meu pé: “Tá vendo que bonito! Cachaça é isso aí! É assim que tu fica! e ba-ba-bá, ba-ba-bá...” E aí, por causa dum cidadão desse, que bebe e não segura as onda, a gente acaba sendo rotulado. Eu, quanto mais bebo, melhor dirijo!.. güento a expressão sem miar...

Dr._ Tenho certeza disso! Aliás, setenta porcento dos acidentes de trânsito são causados por pessoas sóbrias... O único atrapalho nessa história é a lacraia da Vitorina, que te enche a porra do saco, né isso?..

Cons._ E o pior é que ela tem uma memória prodigiosa pruma mulher: só depois de 48 horas ela se esquece das minhas rasgação d’água e volta ao normal comigo...

Dr._ Cê quer ver só uma coisa muito simples? _ Sua senhora, por acaso, faz greve de sexo quando tu chega doidão em casa, chamando Jesus de Genésio?

Cons._ Que nada! A espertinha só fica de cu doce no outro dia; de noite ela gosta! Rá!

Dr._ E como cê explica isto?

Cons._ Ela se faz de boba. O sujeito, alcolizado, fica muito mais tesudo, muito mais criativo!.. aquele magnetismo pirado da cachaça!.. o bicho no corpo. Aí elas se aproveitam, achando que no dia seguinte a gente não vai lembrar. Mês passado eu inaugurei o furico dela, depois de 10 anos de casado!.. à força, bebão!! Ela gritava, me xingava de tudo quanto é nome. Agora viciou! Toda vez que chego em casa de tanque cheio, tenho que sujar a jeba naquele rabão guloso, senão ela não me dá sossego.

Dr._ Intão?! Taí! Fim de papo... A mulher que tem um bêbado dentro de casa é uma rainha, uma privilegiada! É como se ela tivesse mil tipos de homem para comê-la, venerá-la, surpreendê-la de todas as formas... Num dia é o Calígula quem se manifesta; noutro dia é um gentleman; noutro um encanador; depois um poeta... e um roqueiro, um troglodita, um vaqueiro, um louco, um mago, um querubim, um íncubo, um lobisomem, um extraterrestre, e daí por diante! Sem rotina! Só emoção!

Cons._ Eu sei disso! É o que sempre digo pra ela: sem essa energia bonita da manguaça, a gente ia cair naquele esqueminha de “papai-mamãe” 3 vezes por mês...

Dr._ No dia em que tu ficar bonzinho e gentil, de cara limpa, essa emoção toda que existe, sua mulher vai buscar na rua _ pode escrever. É batata!

Cons._ Quanto a isso, eu tô vacinado! Só vou parar de beber no dia em que o meu cachorro assobiar a Nona de Bethoven!.. de trás pra frente!

Dr._ Assim é que se fala!

Cons._ O meu irmão, mais bem sucedido financeiramente que eu, me diz que bebida é coisa pra perdedores, pra fodidos...

Dr._ Que trouxa! Deve é tá vendo muito filme americano na TV. Um babaca desse falando e cachorro cagando, pra mim é a mesma coisa! Comece a comer a mulher dele; depois... abandone-a!

Cons._ “Subi no pé de cana/ E desci de gomo em gomo/ Quem tivé muié bonita/ Toma conta/ Senão eu tomo!”... Mas então tá beleza, doctor! Com o seu aval, me sinto agora com ânimo redobrado pra continuar enchendo o cu de pinga!

Dr._ Peraí! Tem só uma coisinha qu’eu ainda não falei: birita é muito bom, mas não é pra qualquer um não, meu chapa; é só pros iniciados..

Cons._ Como assim?

Dr._ Só deve beber o homem que merece beber: as almas superiores, os puros de coração...

Cons._ Se eu tô à altura, eu não sei, mestre; só sei que se não der uma calibrada depois do expediente, perco toda a inspiração pra continuar vivendo.

Dr._ Compreendo...

Cons. _ É tanta chatice o dia inteiro, tanto servicinho babaca...

Dr._ Pois é. É foda!

Cons._ É foda pra caralho, porra! Eu amo a vida, as artes, as mulheres, a farra, a escapulida, a zuêra, o rio, o mar, o céu, a cachaça!.. Eu gosto é de zuá, porra!

Dr._ Eu sei como você se sente, amigão, vendo o Sol a brilhar pela janela em todo o seu esplendor e você consumindo os seus dias emparedado numa bosta de serviço, preenchendo papeizinhos, fazendo um monte de coisa idiota, de manhã até a noite, todo santo dia... E o bicho pegando lá fora! Ainda bem que existe o mé, né meu chegado! Só mesmo ele pra preencher de aventura mais um dia perdido!

Cons._ É isso aí.

Dr._ Mas não se preocupe. Você é dos nossos! [Dr. Pelópodas tira de debaixo da mesa uma garrafa de pinga. Rótulo: um rapagão espadaúdo vestido de marinheiro, exibindo seu muque, de punhos cerrados; com a outra mão ele ostenta, orgulhoso, uma garrafa, como um troféu. Nome da pinga: “A Água da Vida”] Esta cachacinha é pra você, Uéliton. Foi produzida num alambiquezinho artesanal que eu tenho lá em casa. Coisa fina! Traz aí dois copos, por favor! Copo duplo!.. naturalmente... [Ele ‘passa a régua’ e os dois entornam duma vezada só. Depois repetem a dose... Dr. P. levanta o copo pra câmera, a língua já um pouco enrolada:] É isso aí, meu Brasil, essa aqui é a velha, pura e boa pinga de Minas. Coisa de macho mermo! 75 graus! [Ele arranca mais duas garrafas de debaixo da mesa.] Aqui estão o Barolo e o Dolcetto da Serra da Canastra. São aguardentes frescas... tânicas... algo atrevidas... que primeiro limpam a boca, pra depois apresentar ao paladar uma diversidade estarrecedora de sabores. Combinam toques de floresta enfumaçada com uma doçura rica e profunda. Segundo o crítico de pingas B. Barazzo Cayaba, elas possuem o aroma de framboesas sobre couro e especiarias, e a leveza de folhas misturada com a textura de musgos e o canto do rouxinol. Temos também aqui a Preciosa da Serra. Essa é boa! [Ele tira mais uma garrafa, abre e começa a beber, no gargalo mesmo, enquanto vai falando. O outro também tá chupando uma no bico, já meio descabelado.] Trata-se de uma aguardente simples e honesta, com toques discretos de pão tostado e avelãs. Conhecida por sua personalidade forte, porém cordial, seu temperamento um tanto reservado e, diríamos até, circunspecto, alia-se a um sabor cristalino, marcante, realmente inesquecível! Esta jóia de aguardente deve ser aberta pelo menos uma hora antes de ser tomada, pra que possa respirar e desdobrar-se até atingir sua plenitude... só que o tempo na TV é foda, né! Vamo pulá essa parte... [ele dá uma boa mamada na garrafa e solta um gritinho meio equívoco:] Uuuh!!! Locuuura, mané!.. Bem, [recompondo-se, voltando ao tom afetado de connaisseur.] hã, hã... logo na primeira talagada, esta ‘menina perversa’ nos traz à imaginação cenas silvestres acompanhadas de sons de flauta e gritinhos assanhados de ninfetas que se banham no riacho. [Ele dá mais um gole...] Agora eu vou lhes apresentar uma raridade: é a “Sirrózyna Sertha” [o rótulo do exemplar mostra o desenho de um fígado se desmanchando, e no canto inferior direito, um pequeno caixão preto, encimado pelo slogan: “Tomou, definhou!”] O bouquet desta branquinha é um verdadeiro desafio à razão e ao bom-senso... um oceano de mistérios, miragens exóticas, fábulas orientais e sortilégios de amor... Insolente e trigueira, de temperamento festivo e inconformista, seu paladar nos arrebata a um mundo de sonhos e de frenesi, onde nos sentimos livres pra dar vazão aos nossos desejos mais loucos e inconseqüentes... Ô Uéslei, mata não pô! Passa essa garrafa pra cá! Óraish bólaish! [Doutor toma a garrafa e a suspende junto ao rosto, apreciando-a com um olhar de satisfação. Sua dicção começa a ficar penosa.] Essssa agui é a incombarável “Água da Vida”... o legítimo perfume doo mácho!.. fabricada bur mim messmo segundo uma série de processos minuciosos, aaaltamente controlados e ritualísssticos... Cada litro levaa... oooito anos pra ficar bronto. É uma aguardente encorpada... digna... sábia... eesstruturalmente perfeita... Saabor brofundo... frutaado... Perlage discreto e aromaaa... gomblexo. Além da cana são mais de... seetenta errvass que entram naaa gombosição! Ela tem também muitoos toques disso e tooques daquilo... maiz bra falar a vertadi brocêis eu já tô é bra lá de Bagdá, mermão! Rê, rê, rê, rê... Diz aí, Uéuliss... O quê qui tu achou da minha pinguinha? Ela tem toques de quê, mano véi?..

Cons._ Oqueêi, meeeên! Rênds faire eguêim mai frend! Fori iu guéti iorrend tiunaaait?! É isso aí, cunhadão: esta finíssima fura-goela tem toques de cereja... damascos... flamboyants... aspérulas... abaaacaxi... madeirass nobresss... mel... orquídeas... ervass finass... pupunha... babaçu... barbatimão... esspada-de-macaco... mariscos, tremoços e caramujoss... pôr-do-Sol... sexo na chuva... himbeergeist... zwetschenwasser... besouros da Indonésia... misturado com pentelhoss de xooxota e ovos. É um gole e um tombo! Huc! Um clássico, mon cherri! Je nê bocú, dementenã floiêrrozí, chenemoá chatô leblan... Huc!

Dr._ Caboco bão esse! Sa-bi-tu-dô!... [Os dois caem na risada. As luzes vão se apagando, enquanto eles se abraçam, falando com a língua enrolada]... Bassssa lá em casa gualquer dia...

Cons._ Vvvvocê é mais que um irmão... aqui do peito, ó! Huc! Se pintá qualqué onda errada, poode contá cuumigo.

Dr._ Eu acho que tuuudo, sabe?... o universo sabe? tudo é um grande nada, sacô?.. Tá vendo eza garrrava aqui, bur exemblo?..

Cons._ Sai desza, dóctor! Tá cum raivva da vida, ô?

Dr._ Cê num tá sacanndo. O nada... é o orgaszmo existenzial, peszcô a sutileza... F’losofia oriental, meu chapa...

Cons._ Não! peraí! Huc! Vvvvamo falá de mulhé. Eu cunhezo um lugarrr...




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