CRISTALEIRAS
Cristaleiras são convites
para se entrar no reino do vidro,
sem deixar as pedras caírem,
tampouco esquecê-las no fingir.
Cristaleiras são lutas
de dicção subterrânea,
cristalizam-se no escuro
para preservar o que é vivo.
Cristaleiras são fogos
vulneráveis às águas do grito,
indefesas à sanidade do vil,
cinza que se refaz no carinho.
Cristaleiras são riscos,
flores transversais
fincadas em penhascos,
cor em desafio à gravidade.
Cristaleiras são mantos,
como em outras categorias,
isolam o farto não no camarim
pelo raro sim que há na vida.
Cristaleiras são vícios,
cotas diárias de sonho
para abraçar a inocência
sabendo que o mal se infiltra.
Cristaleiras são origens
de um rio que se desdobra
regando a fauna e a flora
contra os desastres da história.
Cristaleiras são ecos
de rebeliões caladas e de mil séculos,
pertencem ao domínio dos cristais
pela lucidez em excesso.
Cristaleiras são tementes
a Deus e ao Diabo encoberto,
por isso mais humanas
suas fugas de todos os desertos.
Cristaleiras são silêncios
que deixam claro aviso na porta:
uma explosão também se elabora
no calmo, lento nascer da aurora.
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