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Cronicas-->Sexta-feira sempre 13 -- 26/10/2001 - 10:36 (A. Vicente) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sexta-feira. Dia de cão. Queria poder ser um cachorrinho de madame numa sexta-feira. Bem melhor que ficar no inferninho de uma agência de comunicação. Eu aqui, no meu mega-posto de estagiário de redação, me especializando em texto de re-inauguração de cemitério enquanto Cannes não chega. Vejo aqueles poodles felizes passeando com suas donas gordas. A praia está a quinze minutos com sol de torrar miolos de qualquer europeu. Ah, inveja. Exceto das pulgas, é claro.

Pela manhã ainda temos que realizar o culto a Pedro Parente, deus do apagão. Nada de ar-condicionado. Imagine ter de aguentar rojão com 38º à sombra. E tome o pessoal do atendimento vir pra nossa sala, vomitando serviços urgentes. Cada um mais urgente que o outro, que fique claro. É hora de uni-duni-tê. Minha chefe ainda jovem daqui a pouco vai ter que encobrir os cabelos brancos. Isso sem falar que são três grávidas na sala. Dureza? Tem mais. E pior.

Clientes raivosos mandam e-mails desaforados. São uns insensíveis, que tolhem nossa criatividade. Querem apenas vender a todo custo. Cadê a elegància na publicidade? Cadê a inteligência digna dos anúncios minimalistas? Acho que meu leão de Cannes vai demorar um pouquinho a chegar. Mas esqueçamos isso. Hoje é sexta-feira.

Finalmente é meio-dia. Hora do almoço, quer dizer, sanduíche. E degustar um magro sanduíche ao som das buzinas dos filhos-das-putas que vêm buscar seus filhos adolescentes no colégio que fica ao lado. E sanduíche com altas doses de adrenalina. O veado do revisor liga pra esbravejar que a palavra "mais" não pode aparecer quatro vezes em três linhas, que isso é de uma redundància absurda. Oras, será que ele nunca leu nenhuma resenha sobre Goebbels? Será que ele nem nunca ouviu falar em condicionamento?

Vem mais trabalho. Na minha sala são seis pessoas, mas há picos de quatorze. A agência toda vem nos visitar. Essa integração toda seria ótima em outra oportunidade. Agora é terrível. Siga a equação: cliente pressiona o atendimento + veículo pressiona a mídia + fornecedor pressiona a produção =a criação que se foda. Pois é, o coração da agência está perto de infartar. Mas nada está perdido. Daqui a pouco é fim-de-semana. Começo a ter pensamentos positivos. Utopias de dinheiro e felicidade eterna. Talvez a mega-sena acumulada.

Eis que cai na minha mesa com o carinho de um tomahawk o pedido de bolar uma campanha política. Se você soubesse o quanto eu adoro fazer propaganda política. Mas vamos lá. Um slogan aqui, uma frase de efeito aqui e pimba. Meu cérebro está moído. Quero água. Quero ir pra casa. Na verdade queria estar num oásis cercado de odaliscas me servindo as uvas mais doces de Bordeaux.

Já são seis da noite. A maioria dos clientes já brincou um bocado com o vai-e-vem das correções. Hora de aguentar os clientes-publicitários. Eles já ligam com idéias geniais de campanha para segunda-feira. E olha que eles arrasam. Nossa paciência. Seis e meia. As últimas artes estão sendo finalizadas, sem esquecer das alterações de última hora. Tão pequenas que apenas mudam totalmente o layout de peças que já estavam terminadas.

Sete da noite. Começa a diáspora de e-mails para jornais. A filha pequena de uma diretora corre pra cima e pra baixo pela agência. Ela é uma graça. E me faz lembrar que não é só dos poodles que tenho inveja. Mas a hora está chegando. Chegou. Fim. Dou meu primeiro passo na rua. Um pequeno passo para um homem que ficou coçando o saco o dia inteiro em casa, não pra mim.Liberdade. Agora vou poder colher os frutos de ser publicitário. Ao menos até a próxima sexta-feira.
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