Tupinambica das Linhas também tinha o seu conde Drácula. Ele era Cez, o vampiro provinciano, pioneiro no uso da prótese peniana. Cez era podre de rico, mas por um problema qualquer, sempre fazia confusões incríveis. Misturava, por exemplo, adendo com a dedo.
Alguns entendidos, arriscando acertar a patologia causadora daqueles micos, sugeriam fuga de idéias, qualquer coisa ligada à epilepsia. Outros, menos ingênuos, sabiam que se tivesse algo a ver com fugas, era da escola mesmo.
Esse Drácula de Tupinambica das Linhas tinha diferenças gritantes com o Drácula de Bram Stocker, do Francis Ford Copolla. O nosso vivia aparecendo nas colunas sociais, ao lado do morfioso pavão-louco.
Psicólogos especialistas atribuíam aquela mania de exibição ao complexo da melancia. Tratava-se de uma afecção fundada na insegurança e desejo de afeto.Tinha muito a ver com auto-afirmação também. Se fosse criança, o tal do pavão-louco seria daquelas que durante uma reunião, com os irmãos, sempre se postava no meio da sala, tentando chamar a atenção da mãe dizendo: "Mamãe, olha eu aqui. Nenê quer mamar!"
Alguns até que gostavam de ver o pavão-louco, ao lado do Cez, abrindo seu rabão nos jornais. Seria temeroso afirmar que o bípede plumado tupinambiquence ganharia outra qualquer condecoração, da câmara municipal, se não fosse o troféu citrullus vulgaris. Mas nada era impossível.
Cez era do tempo em que o Cauby Peixoto ainda tinha dentes de leite e tentava cantar "... quero beijar-te as mãos, minha querida..." Muitos diziam que o Cez era mais chato do que prurido de frieira.
Quando o Edbar B.I. Túrico, apaixonou-se pela irmã do catinguento, o morcego dos infernos, inventou uma tonelada de mentiras sobre o moço, impedindo-o de prosseguir o namoro, e as visitas à sua amada.
Ao pobre Edbar não restou outra alternativa do que a freqüência nociva aos bares da cidade, sempre em companhia do Miguelão.
As pessoas mais velhas do bairro garantiam que quando Cez se aproximava duma reunião informal de amigos, e media, com seu olhar, um sujeito, olhando-o dos pés à cabeça, era batata! Estava imaginando o número do ataúde que serviria ao visado. E quando então os pelos dos circundantes se arrepiavam... hum... meu amigo, minha amiga, podia sair da frente que o bicho pegaria.
Quando Cez tomava umas e outras, confundia estilista de biquíni com designer de moda, vestido com o tal maiô. Os teclados peçonhentos (havia muitos) digitavam até que Cez foi, numa certa ocasião, candidato ao cargo de vereador. Seu bordão era: "Lutarei com unhas e dentes pelos pobres." Quem o conhecia, sabia que era mentira. Cez era banguela e sua dentadura bastante antiga. Ele poderia lutar com unhas e dentadura, com dentes, jamais.
Mas ele ficava louco de raiva se alguém mencionasse as próteses ou falasse algo sobre a dentadura nova do vovô embolorado.
Houve um tempo em que ele se meteu numas roubadas sinistras e foi mais perseguido que raposa inglesa no dia de caça.
Seu amigo predileto era o Van Grogue, pingueiro notório, que vivia ao léu tentando conquistar alguém. Quem o conhecia sabia muito bem ser a história fantasiosa de ter ascendência na família de Luis XV, uma compensação ao desagradável sentimento de inferioridade e pequenez que o acompanhava desde pequeno. Essa faceta fez com que ele criasse o bordão "sai de cima!" com o qual sempre pasmava os vizinhos boquiabertos.
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