Agradeço os vários elogios
Ao cordel bem comportado
Mas eu havia planejado
Na barranca do grande rio
Onde lancei um desafio
Dum cordel sem frescura
Esquecendo a vida pura
Colocando rima barata
Aquelas das mais chatas
De arrepiar a formosura
Deitado na beira do rio
Um touro se veio bufando
Mas não me pegou sonhando
Na preguiça mansa do estio
Pois sou igual a um tio
Não ando desprevenido
Me atraquei esbaforido
Com aquele touro maluco
Mas eu não sou caduco
E o touro passou vendido
O bicho se veio outra vez
Com aquela guampa torta
Se me acerta me entorta
Uma grande estupidez
Daquele touro holandês
Se meter logo comigo
Gaúcho de pouco amigo
No mundo desse animal
Mas esse fulano de tal
Quedou-se em um jazigo
Levei uma patada na bunda
Apenas um descuido meu
Pois foi ele quem se fodeu
Peguei na volta segunda
Um golpe na sua corcunda
Com minha adaga ligeira
Foi ela que tilintou faceira
Também nos ovos do bicho
Parece que foi um capricho
Na tarde de segunda-feira
Mas aquela “toura” bichona
Não se entregou no más
E me pegou bem por trás
A quadrúpede e puta mijona
Com pose de valentona
Deixou meu traseiro ardido
Mas eu não estava vencido
E não grande lance de ouro
Arranquei o couro do touro
Deixando o bicho despido
O animal urrava de tanta dor
E possuía um olhar raivoso
Estava possuído e furioso
Eu fiquei com medo e pavor
O bicho num baita tremor
Se veio em tranco caborteiro
Mas eu sou filho de costeiro
E dei-lhe um golpe na testa
No olho ficou uma aresta
Tonteei o touro carniceiro
E o touro virou um tapete
É um troféu na minha sala
Tem amigo que se cala
Pensam que foi a porrete
Mas digo que foi no soquete
O touro está lá estendido
Meu enfeite preferido
De uma lembrança campeira
Não sento mais em cadeira
Mas matei o bicho bandido
A sesta é minha mania
Então dormi a tarde inteira
Debaixo de uma touceira
E esqueci da pescaria
Pois não é que naquele dia
Tive um pesadelo medonho
O touro brabo era um sonho
Então levantei e fui embora
Mas vi ao longe sem demora
A cara de um touro tristonho
