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Contos-->CONCEIÇÃO -- 23/01/2002 - 23:25 (Isaura L.P.Nascimento) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando conheci Conceição, tinha a idade de 13 ou 14 anos. Com 13 anos eu era bem pequena e magrela. Conceição era bastante desenvolvida e bonita e deveria ser 1 ou 2 anos mais velha do que eu. Nem sei bem como a conheci, talvez no ginásio, mas não era da mesma classe, tenho certeza. Chamava bastante a atenção e tendo o corpo bonito gostava de provocar também. A família era de mulatos, mas ela era morena clara de cabelos não muito crespos, boca grande e nariz bem feito.

O pai era super rígido, não a deixava sair pra lugar nenhum. Vivia presa em casa e no máximo podia ir até a casa dos avós que era no mesmo quarteirão, algumas casas adiante. Naquela pequena cidade do interior e pelos idos de 1960, creio que todas as meninas mais ou menos nessa idade eram donzelas, pelo menos no sentido de que ainda não tinham feito sexo. Mas que algumas mais velhas deveriam ser um pouco exploradas, lá isso era verdade. Era um tempo de se fazer tudo com o namorado, conservando a virgindade, claro. Era o comentário a respeito de algumas mais avançadas.

Conversava sempre com ela e o pai permitia que saisse quando estava comigo. Acho que pensava que ela estaria segura e não iria aprontar com uma magrela insignificante como eu. Também não tinha muito lugar pra ir, a não ser passear pela calçada e cinema nos fins de semana. Namorado? Eu não tinha.

Um dia, passeando pela calçada, encontramos com algumas meninas que não conhecíamos e uma delas deixou um recado de um turco, dono de um bonito carro, que sempre passava por alí e se encantou pela Conceição. Queria muito conversar com ela e estava muito interessado.

Conceição não se lembrou de ninguém com aquela descrição, nunca tinha flertado com ninguém que tivesse passado por ali ou em frente à sua casa. Enquanto as meninas explicavam como ele era, que era um rapaz assim, assim, que sempre passava por ali, não fazia nem idéia de quem era. Mas quando as meninas disseram que ele passava num carro escuro, com a trazeira baixa, de imediato ela se lembrou do carro.

Marcaram encontro e começaram o namoro. Eu ficava na esquina vigiando, pois o pai poderia aparecer de repente. Não era turco, era libanês, bem mais velho do que ela e também muito rico, um tal de não sei o que Melhoun Farrat, fazendo questão de dizer que era libanês. Eu não via diferença, turco ou libanês, pra mim era a mesma coisa.

O tempo foi passando e o namoro esquentando. O pai logo deu permissão para o namoro assim que soube quem era o pretenso futuro genro. Conceição ficou noiva, com direito a festa e troca de alianças. E o namoro esquentou mais ainda.

Mais alguns meses e Conceição começou com uns "papos" meio estranhos, contando de um homem casado que se engraçara pela cunhada, uma outra amiga nossa. Suas conversas nunca eram diretas, sempre rodeava muito para contar uma coisa, e isso me confundia e às vezes achava até que eram mentiras. O tal homem casado andava doido atrás dessa nossa amiga que também tinha a mesma idade nossa. Eu achava estranho um homem casado se interessar pela cunhada. E a mulher dele? Ela, nossa amiga, lhe permetia certas intimidades, se beijavam, mas não deixava que ele fosse até o fim, assim Conceição me contava.

Esse pulo na história da Conceição para a outra, tem sua razão de ser. Não se apressem em saber o fim. Mesmo porque esta história não tem um fim.

O pai de Conceição já sentia-se seguro em deixár o casal à vontade, relaxando a vigilância. Naquele tempo casava-se "na marra", com o pai empunhando uma arma nas costas do noivo infeliz. Mantendo a virgindade intacta, ficavam os dois na sala fazendo tudo o que tinham direito e os pais iam dormir.

Percebi que Conceição começou a enjoar do noivo, quando passou a flertar com o tal cunhado de sua amiga, logo depois com outro e mais outro, descaradamente, safadamente e impudicamente. Pior, me contou com a cara mais inocente do mundo.

Na pequenina cidade do interior, o que se poderia esconder? Nada! Todo mundo ficou sabendo. Conceição não tinha o menor pudor em encontrar-se com o outro na porta do cemitério e sair de carro não sei pra onde. Isso durante o dia. A cidade fervia com os comentários. Toda a vez que eu ia até a casa dela, não demorava 5 minutos e minha mãe mandava alguém atrás, para saber onde eu estava.

O tal, sabendo que eu era a única amiga que conversava com Conceição, perguntou se eu não queria sair junto também, pois ele tinha um amigo que estava interessado. Conversa de um homem cafajeste e corruptor de menores. Não disse isso diretamente para mim, mas insistia muito para que Conceição me levasse. Vim a saber mais tarde, quando já morava em outra cidade, que diziam que eu também ia pra porta do cemitério. Nessas alturas a maledicência tomou conta das mentes da pequena cidade. Posso imaginar o que foi contado e inventado por conta da excitação e da fantasia de cada um.

As colegas de escola, todas contra mim porque ainda conversava com Conceição, aconselhavam-me para que terminasse aquela amizade. Eu não me importava e não me envolvia com o que ela fazia pois gostava muito dela como amiga e detestava o falatório. Achava que todas sem exceção iam pagar caro em falar mal de minha amiga.

Quando o escândalo estourou de vez eu já não morava mais lá. O noivo desconfiou das atitudes de Conceicão e começou a vigiá-la, descobrindo tudo. Desmanchou o noivado e contou ao pai as safazedas de sua filha.

Obrigá-lo a casar, não poderia, a menina era virgem, apesar de viciada na sodomia. O pai, enlouquecido, queria matar a filha de surra. Conceição, desesperada, com a cidade inteira contra, sem o noivo, sem pai e mãe para dar-lhe apoio, tomou guaraná com soda. Quase morreu. No hospital foi maltratada, ouvindo das freiras enfermeiras que era melhor que morresse, assim não daria mais tanto trabalho. O pai proibiu a mãe de visitá-la.

Foi expulsa de casa e quando sarou veio para São Paulo. Em São Paulo conheceu um uruguaio ou paraguaio, e tempos depois o pai recebeu os papéis para assinar a autorização para que se casasse. Foi o que me contaram depois.


Eu gostava bastante dela por ser dona de seu próprio nariz, por ser decidida e corajosa, por ter enfrentado a tudo e a todos, fosse certo ou errado o que estivesse fazendo, em uma época onde a mulher não tinha liberdade, era discriminada e criada para se casar e ser dona de casa.

Conceição nasceu livre e tinha um noivo, que não amava, para não ser prisioneira do próprio pai. Só não soube conduzir direito seu sonho de liberdade. Gostaria saber como está agora e onde está.

Isaura L.P.Nascimento/97
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