Não era bem a ocasião, tarde da noite. Mas resolvera falar. Seria ali. Naquele instante. Sem hesitação. Estava decidida.
- João... Ó João!
- Hum.
- Tá acordado?
- Hum.
- Ó João! Preciso lhe contar. É difícil.
- Hum.
- "Hum" o quê?!
- Hum.
- Acorda João!
- ...
- Eu estou grávida.
- Agora?! Não pode ser amanhã?!
- Como assim João?! Acorda, homem! É sério! Estou grávida! E você é o pai!
- Como assim?
- Como assim o quê?
- "Você é o pai"...
- Sim. Você é o pai!
- Sim. E quem mais seria?
- "Quem mais seria"?
- Eu que pergunto. Agora fale!
- Falar o quê, João?! Você é o pai.
- E quem mais seria?!
- Ninguém.
- E por que me disse que eu era o pai?!
- Por dizer, ora!
- Fernanda... Eu sou mesmo o pai?
- Agora deu, João! Assim você me ofende!
- Ora! Você vem dizer que eu sou o pai. Se você precisou me dizer isto, é porque podia não ser eu e sim outro.
- Mas é seu.
- O quê?
- O FILHO, João!
- ...
- ...
- Mário.
- Hein?!
- Mário.
- Mário o quê, homem?!
- O nome.
- Que nome?!
- Do menino!
- Que diabo de menino, João?!
- Você não disse estar grávida?!
- Sim.
- Então!
- Ah.
- ...
- ...
- Maria.
- Hein?
- Se for menina.
- Ah.
- Por que é Mário e não Mario?!
- Hein?!
- Ou Mária em vez de Maria...
- João... Volte a dormir.
- Mária! Gostei! Ou Amália, ou Sabrina.
- Sapo, cabrita e menina.
- Hein?! - SA-po, ca-BRI-ta e meni-NA.
- ...
- ...
- Gostei!
- Eu estava brincando, João.
- Mas gosto de "Sabrina". Você não?!
- Sapo, Cabrita e menina!
- Ora! Deixe de besteira!
- Volte a dormir, João...
- Parabéns.
- Hein?!
- A gravidez.
- Ah.
- Parabéns também.
- ...
- ...
- Eu vou ser pai!
- Eu vou ficar cheia de estria...
- ...
- ...