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Artigos-->NUNES MACHADO-HERÓI E POETA -- 29/09/2004 - 08:43 (Wilson Vilar Sampaio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NUNES MACHADO - HERÓI E POETA

Por Wilson Vilar Sampaio.



Recife, 14 de Setembro de 1831: Batalhões de soldados, sem o comando de oficiais, avançam sobre o bairro de Santo Antônio, saqueando lojas e invadindo tavernas, onde bebiam e se embriagavam, fazendo tumultos e desrespeitando o povo pacato da cidade do Recife, que apavorado trancava as portas e rezava para que aquela turba de amotinados seguisse o seu caminho.

Este motim – Setembrizada - estava tomando proporções alarmantes, posto que o Bairro de Santo Antônio e o Bairro da Boa Vista haviam sido tomados pelos soldados rebelados.

Para defender a cidade desses ataques, partiu uma tropa de Olinda que se dividiu em duas colunas. Uma, em direção ao Bairro de santo Antônio, vindo pela Boa Vista e outra, seguindo pelo istmo para desalojar os amotinados que ocupavam o Arco da Conceição e ameaçavam com sua artilharia, o Palácio do Governo.

A essas tropas salvadoras juntaram-se muitos estudantes dos Cursos Jurídicos de Olinda, entre os quais, o acadêmico Joaquim Nunes Machado que apesar de ter apenas 22 anos de idade, não hesitou em marchar, armado, em defesa da vida e do patrimônio dos recifenses. Este ato de bravura já nos mostra do que era feito Joaquim Nunes Machado.



Nascido na cidade de Goiana em 15 de Agosto de 1809, filho legítimo de Bernardo José Fernandes de Sá e Margarida de Jesus Nunes Machado, ricos proprietários de terra naquela vila, foi uma criança saudável e alegre.

A boa situação financeira dos pais fê-lo receber uma ótima educação escolar, facilitando o seu ingresso nos cursos jurídicos de Olinda – que tinha sido criado em 11 de Agosto de 1827, juntamente com o de São Paulo- sendo ele, Nunes Machado, um dos primeiros estudantes a matricular-se na academia de Olinda, assim que esta foi aberta ao público, em 1828.



Terminado o curso em 1832, foi nomeado Juiz de Direito de Goiana, e três anos depois, em 1835, assume a Primeira Vara Criminal do Recife, fazendo carreira jurídica e chegando a Desembargador.



Com a criação das Assembléias Provinciais e instalada a Assembléia de Pernambuco, Nunes Machado é eleito Deputado e logo depois reeleito, por méritos próprios, graças a sua palavra honesta e eloqüente, sempre atento à defesa dos direitos do povo e ao progresso da província que o elegera e o enviara como seu representante no parlamento nacional.



Em 1838, Nunes Machado era o chefe do Partido Popular e gozava de prestígio, tanto aqui, como no Rio de Janeiro, pois além de ser um excelente tribuno, desses que crescia à medida que falava, era possuidor de um tipo físico que chamava atenção: alto, forte, detentor de grande força física e extrema coragem; falava com uma voz que se prestava a todos os tons, com eloqüência e sinceridade que convencia a todos.



Em 29 de Setembro de 1848, substituindo Chichorro da Gama, político baiano, liberal, que governou Pernambuco de 11/07/1845 a 26/04/1848, sobe ao Governo de Pernambuco o deputado Herculano Ferreira Pena, do Partido Conservador, e a Província de Pernambuco fica em polvorosa.

Os amigos de Nunes Machado reclamam sua volta, o que acontece em 17 de Novembro de 1848, tendo regressado pelo Vapor Baiana.

Tão logo chega, entrega-se com ardor a tentar acalmar os ânimos exaltados (um pedido feito pelos deputados liberais na Corte do Império), mas não logra êxito porque o Presidente da Província faz ouvido de mercador às suas proposições enquanto seus adversários, vendo-o tentar apaziguar a Província, espalham o boato que Nunes Machado vendera-se ao governo. Logo, seus próprios amigos começam a desconfiar que ele houvesse passado para o outro lado, traindo a causa liberal.



Nunes Machado então proferiu esta frase que lhe caiu como um sortilégio, um vaticínio: “Eu bem que anunciei que vinha ser vítima. Pois bem, vou sê-lo !“



Estava assim preparado o palco da Revolta Praieira, cujo nome deriva-se do jornal oficial do Partido Liberal, o Diário Novo, ficar localizado na Rua da Praia.



De um lado os conservadores apoiando a oligarquia Cavalcanti-Rêgo Barros, chamados pelo povo de “ Baronistas “ e “ Trapicheiros”, este por causa do Engenho Trapiche que pertencia ao Conde da Boa Vista; e também de “ Guabirus” por causa da corrupção com que governavam, fato que lhes era imputado pelo povo.



Do outro lado, os liberais com suas idéias republicanas e federalistas a bater de frente com o Império...



Assim, em 07/09/1848, os liberais iniciam a revolta com o levante de Olinda, marchando, a seguir, para Goiana, terra de Nunes Machado. Por onde passavam conseguiam fazer novos adeptos os quais iam se incorporando às forças liberais rebeladas que continuavam rumo à Goiana, já então perseguidas pelas tropas legalistas.



Acontece então o primeiro confronto no lugar chamado Maricota, que hoje é a cidade de Abreu e Lima. Os liberais abandonam Igarassú e ocupam Nazaré da Mata no dia 12/09/1848. O Recife começa a ser atacado em fins de dezembro de 1848, após os liberais lançarem o documento que ficou conhecido como “ Manifesto ao Mundo”, no qual exigiam: 1) O voto livre e universal do povo brasileiro; 2) Liberdade de comunicar o pensamento por meio da imprensa; 3) O trabalho como garantia de vida para o cidadão brasileiro; 4) O comércio a retalho só para os cidadãos brasileiros; 5) A independência dos poderes constituídos; 6) A extinção do Poder Moderado e do direito de agraciar exercidos pelo Imperador; 7) A reforma do Poder Judicial, para assegurar as garantias dos direitos individuais dos cidadãos; 8) A extinção da lei dos juros convencionais; 9) O elemento federal na organização e finalmente, a 10ª exigência que era a extinção do atual sistema de recrutamento.



O Manifesto, como redigido, só não representava a proclamação de república porque a figura do Imperador era mantida e evidentemente, não poderia ser aceito pelos conservadores atrelados à Corte Imperial. Por isso, no dia 2 de fevereiro de 1849, as colunas liberais partem para um combate definitivo no Recife e atacam ao mesmo tempo os bairros de Santo Antônio, Recife e Boa Vista, obtendo êxito nos dois primeiros e encontrando sérias dificuldades em tomar a Boa Vista, em face da resistência tenaz oferecida pelas tropas estacionadas no quartel ali situado.



Nunes Machado, sabedor do prestígio com que era destacado pelos revoltosos e querendo incutir ânimo aos rebeldes, resolve expor-se e dirigir o assalto ao quartel. Mas, ao sair da casa fronteira ao quartel para observar melhor o inimigo, recebe um balaço na região temporal direita que lhe causou morte instantânea.



Sem o grande líder, os rebeldes arrefecem o ímpeto embora a luta continuasse ainda por mais algum tempo, até o início de 1850, sob o comando de Pedro Ivo, outro grande nome da Praieira.



Alguns dos princípios por ele defendidos e tão desafiadoramente assentados no “Manifesto ao Mundo”, foram analisados por diversos historiadores e entre eles Amaro Quintas, que dedicou grande parte da sua vida acadêmica ao estudo desta revolução que, no seu entender, apresentava o mais puro espírito Quarente-Huitard.



Todavia, Nunes Machado não era apenas o tribuno, o guerreiro e o magistrado. Ao lado dessas tantas qualidades, convivia também a lira do poeta, semeador de rimas e cultivador de musas. Das suas criações poéticas apenas dois sonetos sobre a Paixão de Cristo chegaram até nós; ei-los:





A Paixão de Cristo

Que negra cena, lúgubre e sombria,

A Santa madre Igreja comemora!

De luto com as roupas traja agora

E vai tocando os dobres d`agonia!



Lembra quando Jesus da Cruz pendia,

Entre angústias passando a extrema hora!

A paixão sacrossanta se deplora

Do predileto filho de Maria.



Caso cheio de horror! Atroz suplício!

Jesus vítima nobre e generosa

Entregou-se por nós ao sacrifício!



Ah! praza ao Céu, que a raça criminosa,

De todo abandonado o torpe vício,

De Deus a luz abrace fervorosa.



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Em tudo grande e cheio de bondade,

De ser Supremo o filho não trepida;

Missão tremenda aceita de co`a vida

Remir da culpa a triste humanidade



No Céu fica de Deus a qualidade,

O homem baixa a terra corrompida,

E sua voz soltando esclarecida,

Do erro contrafaz a escuridade.



Tido como impostor, é prisioneiro,

E coberto de opróbrio, atropelado,

É sujeito a morrer sobre o madeiro!



Morreu!!!... Mas, oh! prodígio sublimado!

Ressuscita sem mancha o Deus cordeiro,

O vencedor do crime e do pecado!





A um poeta, não poderia faltar à homenagem de outro: o Dr. Antônio Rangel de Torres Bandeira, que dedicou estes versos ao Desembargador Nunes Machado, em festividade laudatória aos mártires da Revolução Praieira ocorrida em 1868:



D´entre os mártires de então que todos eram

Nossos irmãos no popular conflito,

Um- embora caísse – entre os mais nobres

Era um herói invicto.



Alma romana, espírito altaneiro,

Coração magnânimo elevado,

Inteligência audaz... um patriota!

Era Nunes Machado!



25 anos depois da morte de Nunes Machado, admiradores do grande cidadão prestam-lhe uma homenagem aos 2 de fevereiro de 1874, assinalando o lugar em que seu corpo jazeu insepulto durante 24 horas, na Capela de Belém. Para tanto, mandaram confeccionar uma lápide com a seguinte inscrição: “No chão que defronta esta lápide foi depositado, aos 2 de fevereiro de 1849 o cadáver do grande pernambucano que não pode ter sepultura por mão amiga e, no dia seguinte violentadas as portas desta capela, foi conduzido como troféu de vitória para a cidade do Recife e depois de ostentosa vitória, entregue aos religiosos franciscanos. “



Nunes Machado morreu defendendo seus ideais e transformou-se numa lenda para o povo que o adorava. Seu retrato foi reproduzido aos milhares e enfeitava as casas dos menos favorecidos. Sua morte foi chorada e realmente sentida por onde quer que esse gigante da liberdade pernambucano tenha passado.





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