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Humor-->f. Baitolismo é doença ou sem-vergonhice? -- 04/05/2002 - 21:52 (Jactâncio Futrica) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DR. PELÓPODAS RESPONDE
_________________________________________
Quadro diário de perguntas e respostas na TV

* obs: Dr. Pelópodas é médico, filósofo e consultor da revista Chamego
______________________________________________




Consulente_ Dr. Pelópodas, meu nome é coronel Isaltino Merdrangulo Pavão. Ou simplesmente Coronel, para os íntimos... Faço parte de uma respeitada família de militares, que há 10 gerações enverga o verde oliva do exército brasileiro, jamais se furtando ao espinhoso mister de defender a integridade da pátria, seja na caserna, seja no campo de batalha. Com efeito, nos mais representativos confrontos armados da história nacional, ali se inscreve o nome dos Merdrangulo Pavão _ sinônimo de brio e destemor no exercício do dever... Na campanha epopéica de 1865, quando Brasil, Argentina e Uruguai se uniram para derrotar as forças do Império Paraguaio, lá estavam os Pavão abrindo caminho na vanguarda das forças aliadas, de peito aberto às pedradas e pauladas do desleal inimigo. Nas façanhas de Canudos e do Contestado, idem. Revolta dos Lavradores Embriagados de 1902. Revolução dos Vaqueiros de Quixadá, 1925. Levante dos Excomungados da Paróquia de Cosme Velho, 1932. Insurreição dos Pipoqueiros do Largo do Anhangabaú, 1947. Intentona das Prostitutas Anarquistas de 1955. Em todas estas campanhas heróicas, lá se fazia presente um campeão da família Merdrangulo Pavão, mostrando a todos com quantos paus se faz uma canoa. Dados estes fatos, acho que estou em posição de reivindicar, a mim e aos meus, um pedigree guerreiro acima de qualquer suspeita... Já minha esposa Leophrísia provém de uma linhagem mais rústica: a famosa família Matta lá das Alagoas _ gente truculenta e bestial, mas, acima de tudo, macha!.. Em suma, é isto aí: apesar desta vigorosa carga genética, desta têmpera inquebrantável forjada no fogo das batalhas através dos séculos, uma grave recaída se fez sentir em um de nossos soldados. Bom, eu acho que já falei muito... Vamos à parte desagradável... [ele passa as mãos pelo rosto, mostrando desânimo] ... Porra, é foda!.. ... [silêncio]

Doutor_ Coragem homem, desabafa! Bota pra fora essa dor, essa sensibilidade linda que tá presa aí dentro!..

Cons._ Meu mundo caiu, mestre... Eu sei que só o senhor é capaz de me dizer a verdade... [Mais silêncio. Ele respira fundo e pronuncia chorosamente, gemendo:] O homossexualismo... tem cura?

Dr._ Ora essa! que idéia! _ Gosto e cu, cada um tem o seu, homem de deus! Tu já viu limoeiro dar batata? Já viu gato botar ovo?

Cons._ Mas doutor... Ai, porca vida! já vi que tô é fudido, mesmo! Eu tinha tanta esperança que o senhor ia dichavar essa pra mim!.. Faz uma forçinha aí; não é possível que não haja uma maneira... Eu sei que o senhor é mais esperto dormindo que os otro acordado! Dá uma luz...

Dr._ O senhor já consultou o padre Quededo?

Cons._ Já, já! Já fui em tudo quanto é tipo de filho-da-puta, já rodei mais do que azeitona em boca de velho! E nada! É tudo uma cambada de bundão!

Dr._ Mas me diga, filho de Marte: você quer curar a viadice de quem, meu nego?

Cons._ Eu não ia falar, mas já que o senhor perguntou... [Ele vai se recompondo aos poucos.] É o meu filho... o Átila, de 18 anos... Eu desconfio seriamente que ele anda escorregando na boneca, doutor... Será que eu joguei pedra na cruz, meu Deus, pra merecer tanto castigo?! ... Mas me diz logo, qu’eu num güento mais! _ O negócio tem cura ou não tem? Diz que sim!!!

Dr._ Sinceramente? [com uma expressão irônica.] _ O senhor já tem mais de 30 anos de E.B. _ vai segurar o tranco numa boa! Antes de mais nada, você deve ficar a par de um fato científico inconteste: é que o gene da viadagem é um gene recessivo, ou seja, ele só se manifesta numa criança quando ela herda um cromossomo gay do lado do pai e outro do lado da mãe. Portanto, quando quiser ficar arrotando o belicismo da sua raça, baixa a crista e afina a voz, porque, queira ou não, você tem aí uns 25 porcento de sangue de bambi correndo nas veias, tá OK?.. Pega leve!.. Agora, se a munheca mole do seu menino pode ser curada... [ele abre os braços, com uma expressão de regozijo] ... é claro que pode! Mas só Deus, meu amigo... só Deus!

Já na década de 70, cientistas russos descobriram que a viadagem se deve a uma deficiência na produção de doralinasseptanalginafecnil, neurotransmissor que regula o funcionamento da estrutura metamórfica de Rimsk-Korsakov, parte do cérebro responsável por certas funções cognitivas primárias, como a consciência do dever, a noção de hierarquia e o senso de vergonha-na-cara. A bem da verdade, já existem medicamentos simples que resolvem este problema num piscar de olhos: um comprimido de manhã, outro à noite... Depois de uma semana, batata!, até o Gugu Liberado toma emenda. Só que você jamais vai encontrar este remédio em nenhuma farmácia, pois a fórmula foi comprada e sepultada por um cartel formado pela indústria de moda, cosméticos, saunas e outras mais. É o mesmo caso da cárie dentária: você acha que a ciência moderna _ capaz de mandar o homem a Marte e trazê-lo de volta _ é incapaz de fazer frente a um probleminha tão ridículo; de erradicá-lo de uma vez por todas? Só sendo muito otário pra acreditar nisso!.. O sarcoma de Malmströn, que tem a mesma etiologia da cárie _ a fermentação produzida pelo mesmo tipo de bactérias _, pode ser inibida com uma única dose anual de Leucozitan! Pessoas com lesão na medula, com nervos da coluna rompidos já tão começando a andar, graças aos novos frutos da pesquisa científica. Mas pra cárie não tem jeito!.. O desafio é tão assustador que eles nem tentam... Mistério, né? _ O mesmo se dá com o distúrbio cerebral causador da perversão homossexual: não interessa que se vulgarize a cura!

Imagine que um cientista corajoso, sem medo da morte, trouxesse a público a solução pra obesidade... Seria um revés muito chato pros laboratórios farmacêuticos, fabricantes de aparelhos de ginástica, pros donos de academias, endocrinologistas de merda, pra indústria de acessórios esportivos etc etc... É mais justo e ético por à venda umas escrotícies que arrebentam com o organismo do mané e o fazem definhar por uns tempos, como é o caso do Xenical, esse veneno purgante, que simula o efeito duma infecção intestinal braba. O otário paga um preço exorbitante pra ficar de caganeira, e depois de se esvair quase que inteiro, privada abaixo, torna a engordar o dobro. O bolso sim, emagreceu sem miséria, e a conta bancária de algum milionário sem rosto engordou e vicejou, graças a uns duzentos milhões de idiotas, ou melhor, de safados que gostam de ser enganados.

Mas fica calmo, Faisão!.. isto não é motivo pra desespero não, meu compadre!.. Cabeça pra cima, bola pra frente! A única coisa que não tem jeito nessa vida é a morte; no resto a gente dá um jeito...

Cons._ Pô, essa foi forte, mestre! O senhor poderia repetir essas palavras, por favor. Vou anotar aqui no meu bloquinho.

Dr._ Escreve aí... A morte é o despertar para a verdadeira vida. A vida é como o vento lambendo meu corpo, desmanchando meus cabelos...

Cons._ Lindo, doutor! Maravilhoso, ma-ra-vi-lho-so!!!

Dr._ Já se encontra à venda nas boas livrarias o meu novo trabalho “Força Para Viver na Merda!”. [Ele mostra o livrinho, virando-se pra câmera. Capa: um sujeito desdentado e imundo, exultando, de braços abertos, no topo de uma montanha. Em torno dele, raios de luz formam uma auréola energética.] É uma coletânea de frases otimistas que irão reprogramar a seu inconsciente pra aceitar a desgraça numa boa. Adquira você também o seu “Força Pra Viver na Merda!, antes que se esgotem os estoques! ... Mas voltemos ao nosso problema, sargento...

Cons._ Co-ro-nel! Coronel do Octagésimo Oitavo Regimento de Tiro de Guerra da ...

Dr._ Tá bão, tá bão! Cruizimcredo! Mas me diz aí, marechal... o Juninho, digamos assim, requebra ao andar?

Cons._ Não, até que não... mas pra chutar uma bola, o senhor precisa ver! É todo desajeitadinho; parece uma moça. É uma pena! um rapagão tão vistoso!.. O desgraçado tem o corpo que todo homem queria ter. O senhor precisa ver quando ele chega na piscina do clube. A mulherada fica toda ouriçada! Parece uma escultura viva, o meu menino...

Dr._ É! Mas pode perceber: todo sujeito que tem muita vaidade com o corpo é adepto de uma injeçãozinha de pirocolina na via bostélica. É a vida... Ninguém é perfeito. Cada um tem a sua pereba...

Cons._ Sabe que é mesmo! O senhor é foda, hem!.. Mas deixa eu completar a cena da piscina. Depois daquele reboliço todo entre as gatinhas, ele marcha tranqüilamente em direção à piscina, altivo e imponente; parece um artista de Oliúdi... Aí ele cai na água e começa a dar aquelas braçadinhas delicadas, sacudindo a cabeça de um lado pro outro, que nem um retardado. O tesão da piranhada azeda na hora, e começam os risinhos e comentários. Ele neeeeem se toca. Nem é com ele! Até que tem personalidade, o filho-da-puta! Nisso ele me puxou... Pode até jogar pedra, que ele permanece, olímpico, indiferente às manifestações da plebe.

Dr._ Que personalidade que nada, Mirdingulo! É que ele acha que, por ser bicha, é superior ao restante dos mortais, sacô?! Pra ele somos todos uns bocós, entendeu?.. uns bregas!

Cons._ É. Faz sentido. Mas o quê que eu faço então? Diz alguma coisa! Tudo que ouvi até agora só fez aumentar ainda mais o meu sofrer!

Dr._ Que nada, Faisão! Sofrer num é isso. Sofrer foi a mãe do ouriço!..

Cons._ Ouvi dizer que existem umas escolas americanas especializadas na reeducação de adolescentes rebeldes. Tem uma que fica no meio do deserto do Colorado; uma outra numa ilha, perto do Alaska... Dizem que eles aplicam ali os princípios do reflexo condicionado de Pavlov, de maneira bem pragmática, sem frescuras...

Dr._ Sim, são as redes Family Foundation e a Teen Help Operations. Eles pegam o rapaz ou a moça recalcitrante no meio da rua, mesmo, na maior! Chegam dois gorilões de terno e gravata, óculos escuros, rabinho de cavalo, e arrebatam o camarada na frente de todo mundo; arrastam pra dentro de um furgão e caem no trecho, e pronto, tá feita a matrícula. Democrático, não?!

Cons._ Legal!

Dr._ Legal eu não sei... mas é eficaz, além de ter estilo... As teorias moderninhas são muito boas pra vender livro, mas estes métodos inspirados na velha-guarda têm alcançado resultados muito próximos dos 100 % de eficácia. O moleque pisou na bola, botam ele pelado no meio do gelo, de frente prum abismo; se andar pra trás, é terreno minado; pros lados, armadilha pra urso! _ ele tem que ficar paradinho lá, por doze horas seguidas, em pose de crucifixação, com um fone no ouvido, escutando sem parar aquela música do Ivan Lins: “Ô Dinorah! Ah, Dinorah, Dinorah, Dinorah!”

Cons._ Intão tá aí! Vô mandar o meu Átila pro Alaska! É isso!

Dr._ Fica frio, marechaaal! Pega leve! A realidade americana é outra. É melhor o seu moleque continuar como está do que virar um puritano otário, que é o perfil antropologicamente desejável do homem norte-americano, do pateta ‘winner’ _ objetivo final da reabilitação. Você já viu aquelas propagandas americanas na TV?.. aquele pessoal com cara de bobo, fazendo aquelas demonstrações idiotas? _ Você quer que o seu filho se transforme naquilo?.. Então! Deixa quieto! Um dia eu ainda vou criar uma escola dessas, mas que leve em conta o nosso jeito moreno e faceiro de ser. Enquanto isto, vamos analisar outras alternativas... Vem cá; sem querer insinuar nada _ longe disso! _ mas o Átila costuma colar posters de homem bonito nas paredes do quarto... na porta do guarda-roupa, em capas de caderno?..

Cons._ Não, mestre, ele não escracha não... Mas vasculhando seus pertences, eu achei um caderno de Matemática... Foi uma porrada!!

Dr._ Mas quê que há demais, Faisão querido? A Matemática é uma ciência belíssima, justa, decente, exata...

Cons._ É que não havia uma só equação naquele caderno, mestre, um numerozinho sequer... Da primeira à última página só havia poemas. Poemas e mais poemas! E o que é pior: todos inspirados e dedicados a um jovem de nome ‘Matteo’, a quem ele se refere repetidas vezes como “meu Apolo”, “minha perdição”, “meu tigrão sarado”. Tinha cada declaração ali que o senhor nem pode imaginar! E tudo bordadinho com desenhos de coração, bichinhos sorridentes e outros mimos. Quase tive um infarto com aquilo! Olha só isso aqui... [ele tira do bolso uma página de caderno rasgada e a passa pro Doutor. Vê-se um fragmento dum poema, e no espaço livre da folha, a frase: “ADOLO OCHÊ!”, onde a segunda e a terceira letras “O” são dois olhinhos bichosos e, embaixo, completando, uma boquinha mandando um beijo, “SMACK!”]

Dr._ Pô, que ridículo! Isso é que é ser bicha, hem! [Engrossando a voz, simulando um machão indignado:] Ma-ri-co-na nojeeenta, rapá!! Mas Deus é maior, Faisão. [Agora, o tom se torna sobranceiro:] “E aconteceu que, andando Jesus por entre os gentios, um homem cheio de lepra surgiu, e abriu caminho por entre a turba, e se arrojou a seus pés, e lhe rogou dizendo: ‘Ó Senhor, se for de vossa vontade, dizei uma palavra e estarei limpo.’ E Jesus estendeu a mão, e lhe tocou, e disse: ‘Assim seja.’ E a lepra logo desapareceu dele.”

Cons._ Acho que entendi doutor... Lepra moral, né?.. O senhor quer dizer que meu filho pode ser limpo em Cristo Jesus... Eeé! não deixa de ser uma ironia: eu que sempre achei que religião era coisa de bicha, agora me vejo na dependência dela pra ver se o meu garoto larga mão de ser fresco... Eu gostaria de pedir então que o senhor se valesse do seu prestígio e conseguisse pra mim uma prece pessoal do Papa... Eu não sei se tenho fé suficiente... já sou burro velho, sabe cumé quié...

Dr._ Não diga mais nada, filho. Ajoelhe-se. O mar vai se abrir diante de ti agora... [De pé, doutor Pelópodas ergue uma mão para o céu e pousa a outra sobre a cabeça do homem, que se ajoelhou, mãos juntas, cabeça baixa. As luzes vão se apagando lentamente enquanto ele ora, cantarolando com voz trêmula, como um velho padre adoentado:] Veni Creator Spiritus, / Mentes tuorum visita, / Impe superna gratia, / Quae tu creasti pectora... [Ele interrompe, ralhando:] O senhor poderia parar de se mexer, pr’eu terminar a benzeção?! Parece que tem formiga no cu, porra!

Cons._ [Escuridão total. Ouve-se um falsete.] Ai, ai, boba!.. Já tô boa que nem água de côco!

Dr._ Tira a mão daí, maluco!

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