A INDIFERENÇA DA DIFERENÇA
Na noite fria e serena quando a lua plena
ilumina todo céu, aquele que vivia ao léu
cumprindo sua triste sina
com um tiro de fuzil, a sua vida termina.
Tão jovem, tão cheio de vida
de aparência tão forte
era mais um soldado
um portador da morte.
Quando criança, sem afeto, esquecido
pela mãe abandonado, pelo pai ignorado
cresceu como a planta agreste
que encontramos no caminho
sem amor, sem carinho, sem nada
tal qual flor por espinhos cercada.
Não lhe ensinaram nada sobre o valor da vida.
Só conheceu desamor, desprezo, incompreensão
e é tratado com indiferença pela sociedade
que busca em poder e posição, a saciedade
para preencher o vazio de seu próprio coração.
E, pra todas as suas mazelas
busca encontrar a droga
que cure, alivie, entorpeça
a vida, a dor, a cabeça.
Vivendo sempre à margem, como se fosse suplente
de alguém com mais direito à vida
ele copia o modelo da sociedade aflita
e vai na sua desdita, sempre em busca de poder
da emoção mais forte, em aventuras, desventuras
onde a vida, se confunde com a morte...
Trabalha no morro, "assistente" de traficante
como mais um soldado, sentindo-se valorizado
dentro da hierarquia do "crime organizado".
E a sociedade inconseqüente, no condomínio de luxo
segue ignorando o carente, como se não fosse gente
fosse apenas algo que cresce diante de sua janela
na triste e feia favela.
Favela, de onde a sociedade extrai
a droga que lhe dá prazer
ou que lhe proporciona
a falsa sensação de poder.
Tão falsa como a sensação de quem se acha superior
acima do bem e do mal, olhando com desdém e horror
quem inferior se sente, por ser de classe diferente...
Que diferença tão grande é esta afinal?
Se em toda classe social existe a dor
a doença e tudo que é causado
por descrença, desamor, indiferença?
Jane Dias
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