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Contos-->Sequestro -- 25/01/2002 - 14:19 (MIGUEL ANGEL FERNANDEZ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
  Negração e seus dois comparsas: Berrante (surdo-mudo) e Laiti (magro e comprido como poste de luz), depois de exaustivas análises, concluem que realizando um seqüestro, a longa penúria do bando será resolvida: ainda que eles nunca tenham passado por experiência semelhante - na verdade sempre no limite de golpes onde a ousadia nunca foi ponto de destaque do grupo.
Contam ainda com a cumplicidade de Gervásio, dono de modesto sítio, e a filha deste, Martírio – mortificante de corações imprudentes, apelido dado pelos tais imprudentes; na verdade, Maria - bela e ambiciosa mulata "ao seu dispor, moço".
Inúmeros alvos potenciais depois - cada um tentado e fracassado no seu nascedouro - a vítima escolhida se encontra com frágil anciã de aparência milionária, hóspede-moradora cativa de hotel cinco estrelas, cujos hábitos foram estudados no decorrer de vários dias: invariavelmente no mesmo horário, a velha senhora sai a passeio com esse seu único companheiro: um diminuto e gritante cão, que ela parece venerar.
Escolhido dia, local e hora, o bando, de prontidão em lugares estratégicos, aguarda. Ponto nuclear: estacionamento em frente ao hotel visado, onde aguarda possante Kombi (afetuosamente apelidada de "Kombigo-ninguém-pode", devido certamente à longevidade com que tem servido à gangue em diversos golpes, destacando-se na hora das fugas, técnica depurada pelo grupo graças aos constantes imprevistos). Ao volante, o proprietário e sempre alerta, "Berrante". Primeiro imprevisto: no horário costumeiro, a velha senhora ausente. Segundo imprevisto: grupo de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas se aglomeram na porta do hotel certamente aguardando presença de destaque. Terceiro imprevisto: estridente ambulância estaciona na porta do hotel; pouco depois a razão daquela emergência deixa pasmo o bando que a tudo vigia: nos braços de enfermeiro, o diminuto cão inerte é conduzido para o interior da ambulância, seguido de sua angustiada dona. Partem rapidamente abrindo caminho com sirene e velocidade, sob o olhar apenas curioso do grupo de jornalistas preocupados que parecem estar com outros interesses.
Lá se foi o alvo que consumiu tempo, estratégias, sacrificadas vigílias e planos perfeitos: o cão.
Desistindo temporariamente da missão, o bando frustrado prepara retirada de campo. É nesse ínterim de desânimo que o... Quarto imprevisto surge perto deles: o comportamento suspeito do ocupante de um carro que estaciona a poucos metros deles. No seu interior, o desconhecido cuida para não ser visto pelo grupo de jornalistas postados na porta do hotel. Ao sair do carro, aumenta o interesse da gangue ao perceber num dos pulsos, acorrentada, uma maleta tipo 007; isso tudo, mais sua aparência, provoca nos bandidos uma decisão unânime e instantânea: agarram o homem sem muita dificuldade e empurrando-o para dentro da Kombi partem imediatamente, fugindo em alegres solavancos."Kombigo-ninguém-pode" e o grupo, chegam ao sítio de Gervásio que os aguarda impaciente. Ele e sua filha Martírio - ou apenas Maria, para o grupo familiar - ficarão estarrecidos ao descobrirem o desconhecido encapuzado substituindo o aguardado cão. (Os pacotes de ração na despensa terão de ser revistos, quiçá consumidos, se depender de Laiti e sua crônica carência alimentar.)
Depois de trabalhosas tentativas conseguem tirar do pulso e abrir a pasta misteriosa. Dentro dela inúmeros documentos que nada significam para a turma. Com gestos e português rudimentar o seqüestrado consegue se identificar: Nome: Bob. Profissão: destacado membro do grupo que representa o FMI no Brasil!
Satisfeito com a descoberta, o grupo festeja a sorte de ter em mãos muito mais que o mero turista americano que suspeitavam. Ainda que aquela sigla não esclareça devidamente o peso da presa; (saberão mais tarde o preço da pressa.)
No dia seguinte, igreja, ONG, MST, imprensa e polícia, especulam sobre o desaparecimento do agente financeiro. Cresce a tensão no grupo ao perceber a magnitude do ato que, em dias, se torna um "affair" internacional. Martírio (i.é: Mariatopatu, codinome empregado durante os afazeres noturnos aos sábados. E sextas. Às vezes segundas e quintas. Já ouve terças e quartas. Nunca aos domingos!) e Bob se engraçam discretamente. Mas a turma, amedrontada, resolve se livrar da perigosa presa, "devolvendo-a" se necessário. Nas inúmeras e mirabolantes tentativas realizadas, uma onda ininterrupta de azar persegue o bando; a cada tentativa, por pura casualidade ou incompetência, a "diabólica" presa volta a suas mãos; (graças a secretas sabotagens, Martírio provocou alguns retornos”. Soubesse depois.)
NE: Os intentos, sete ao todo, formam arquivo à parte. Em construção.

No paralelo: Aumento das seqüelas pelo desaparecimento do norte-americano. 
Na gringolándia: 
* O FBI ameaça intervir nas investigações da Polícia Federal Brasileira. 
*Jornais (New York Times, Post etc.) comentam a falta de segurança oferecida para os agentes e representantes do primeiro mundo nos baldios terceiro-mundistas. Ou emergentes. 
* A INTERPOL é contatada. Secretamente. Na futebolándia:
* Figuras de destaque da política nacional e internacional especulam toda sorte de motivações políticas para o seqüestro: é uma ação de grupos ultranacionalistas de direita ou guerrilha light de esquerda? ONG em luta contra os excessos da globalização? Uma ação radical da sinistra CCT (Comando Caça aos Transgênicos)? Agentes infiltrados da CPI da privatização? Ou da pouco conhecida e bem aparelhada, DCCVCB (Dirigentes de Clubes C ontra a Venda de Craques Brasileiros)?
* Pela televisão, no horário nobre, i.é. entre duas novelas, o bando petrificado engole em seco as aparições do presidente da república comentando o caso com o delegado geral da PF. Deputados e senadores ressaltam a necessária soberania nas diligências para desbaratar trama, evidentemente engendrada pelos agentes pro-globalização, com o evidente intuito de abalar os alicerces da pátria e sua autonomia inegociável. Entremeado com vinte e quatro jogos de futebol, notícias, sete programas de auditório e treze novelas, o rosto de Bob e sua presumível agonia, tomam conta da mídia. Na proporção do pânico dos meliantes, cresce o romance entre Martírio (ou Mariazona, alcunha na escola primária, utilizada pelos colegas de classe, destacadamente os mais crescidinhos) e Bob. O envolvimento do casal, agora explícito, transforma o relacionamento de capturais e capturado. 
Os explícitos: os solavancos noturnos na "Kombigo-ninguém-pode", dilatam o coração de Berrante de ciúme. Pelas molas e os assentos. 
Ou: Laiti e Gervasio, expostos a trovões, raios e chuvas torrenciais no meio da noite. A noite inteira. Trancados. Do lado de fora da casa. 
Outros explícitos, formam arquivo à parte. Em construção.

Então, a iniciativa parte de Bob: forjariam sua fuga e facilitariam às autoridades "ser achado", com a promessa de, logo a seguir, dar cobertura ao grupo confundindo as pistas com narrativas fantasiosas de sua aventura.
Os trânsfugas não apenas topam a sugestão, como festejam durante duas noites, aliviados e agradecidos, livrar-se da pesada carga. Por fim: no quinto dia, Bob reaparece nas cercanias do hotel, são e salvo. Cumprindo promessa dada, enrola a polícia, confunde jornalistas, apazigua politicagem, acalma ONG’s etc.
No aeroporto: na hora de sua partida de volta aos EUA, Bob disfarça uma olhada em direção ao bando, onde a prudente distância se despede dele e de Martírio (ou Mariacangalha, apelido muito usado na sua curta passagem pela escola de samba, de onde foi expulsa, graças a obscuros melindres da mulher do baterista, mancomunada com todas as outras mulheres da escola) que, com elegância inédita, vai atrás dele, discretamente bem perto.
O avião decola, levando a bordo o amor sem fronteira, fruto da globalização. O grupo vai embora a bordo da "Kombigo-ninguém-pode", paparicando o desolado Gervásio com promessas de novos golpes que - garantem - vão se restringir ao mundo animal, canino, de preferência.
Sim , mas quem vai substituir a filha perdida?
Laiti: - Bom, tem aquela minha prima de Minas...
Negração: - Alembra daquela negona, lá na quebrada do morro da... no... do...
Berrante: - Agg....umm...um? glug! Miingf emmt! Há! (mudo, mas participante!)
Todos: Tá bom, tá bom, tá! Já entendimos!

©Miguel Angel Fernandez/Extraído de projeto para teledramaturgia.
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