Entristeci.
Não aos poucos, mas de repente.
Não como quem adoece, mas como quem se envenena.
Nada sobrou da alegria.
Nem uma restiazinha de luz,
perdida ou vagabunda,
sobreviveu ao abraço da escuridão.
Entristeci.
Atirei-me no mar imóvel da mágoa.
Sem arrimo,
sem sequer me enredar
nas algas da dúvida.
Entristeci.
Não: converti-me em tristeza.
Fibra por fibra fui escurecendo,
até que não sobrasse
nem memória de sorriso no rosto
nem reflexo de brilho no olhar.
Entristeci.
Agora só resta o último passo:
a alegria de ser triste.
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