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Poesias-->FULIGEM -- 08/05/2000 - 03:38 (Luís Sérgio Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Muito cedo ainda

aberta a estreita porta de pinho

a menina

coloca os pés no país,

e sem perceber seus passos

cavam uma estrada,

de pisadas malacachetas

sobre capim e barro úmido.



De hora em hora

passa um ônibus mágico

cheio de faces indespertas.

São lavradores, balconistas, lavadeiras.

São pedreiros, são domésticas.

São muito mais malabaristas do tempo.

São olhos e outros olhos

guardando como podem o sol,

e nada é estranho à menina

que acordou cedo e viu que o rio era real,

entre o orvalho

a descer sobre telhados, muros, recantos de chão.



A menina

viu que cedo não era cedo

para coisa alguma.

E indagou em voz baixa,

se ivo viu a uva,

se o rato roeu a roupa do rei.



Em sua pasta de pano puído

um apontador,

um pedaço de borracha,

e alguns cadernos se abrindo

como indissolúveis flores de março.



Todo principiar

de dia

é ainda imaturo,

passa por ruas

que podem ser pintadas

à lapis de cor,

ruas que são poucas

no conhecimento da menina

onde o sol pode ser pintado

num caderno de desenhos.



Todo lugar de brinquedos é frágil,

como bicicletas de operários

rodando rodas tortas nos primeiros

ruídos da manhã.



A chamíné

a fumaça, o corpo da usina

é um grande braço no horizonte.

Há um apito das seis horas,

e a menina ainda não conhece o medo.



A menina

conquista a penumbra, vence as sombras,

feche os olhos de uma boneca

para que ela durma mais um ano.

Solta a coleção de gafanhotos vivos.

Levanta fios de cabelos a escorrer na testa.

Enxuga com o uniforme escolar

o canto da boca,

e rompe a porta do dia sem nada dizer

sobre a fuligem que cai com o sereno,

sem nada dizer por não saber

que vai descobrir o país

na aula de geografia.



A menina

nem diz do seu poder

de ter uma página em branco

dentro de uma manhã de luz.





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