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Artigos-->ABRA TEUS OLHOS -- 21/10/2004 - 10:51 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mocrécia Borges, naquela sexta-feira, depois das 18 horas, estacionou seu veículo defronte a casa da Luísa Fernanda. Esta ao ouvir o ruído do automóvel parando, apressou-se em abrir-lhe o portão. Elas haviam combinado o encontro antecipadamente pelo telefone.

Seria mais uma reunião informal, um bate-papo daqueles em que ambas saíam sempre aliviadas e satisfeitas.

Depois dos cumprimentos usuais, Luísa convidou a visitante a sentar-se. Ocupariam o sofá maior, branco asseado e cheiroso. A doméstica da anfitriã passou rápido pela sala, mirando a visita. Depois dela desaparecer por outra porta contígua, puseram-se as duas, a confabular.

Mocrécia disse: "Estou com muita pressa. Sabe, querida, não tenho dormido o suficiente. Ando muito preocupada. Minhas mãos e pés entorpecem, não sei o que seja isso". Ato contínuo, sacou da bolsa fina, um maço de cigarros. Luísa Fernanda, querendo se mostrar solícita, apressou-se em acender-lhe o pito. E tocada pelo sofrimento da amiga respondeu: "Ah, colega, nem me fale! Eu também ando tão esquisita. Logo pela manhã, já tenho dor de barriga. É aquela correria. Nossa! que dor de cabeça! É terrível".

A empregada, parecendo um pássaro sorumbático sobrevoando os futuros pitéus, adentrou sugerindo um café forte pra madame. Luisa não se tocou. Ai então Mocrécia despejou: "Meu marido está sofrendo muito. Lá no trabalho dizem ter ele enrustido mais de 450 fitas de vídeo. Tá um sururu dos infernos. Comentam que ele fazia compras driblando a licitação obrigatória. Para não ultrapassar os valores que obrigavam licitações, ele dividia as importâncias, a serem subtraídas, em vários pedidos. As apropriações do dinheiro foram conseguidas mediante apresentação duma centena de orçamentos falsos".

Luísa Fernanda não disse nada. Na verdade ela já sabia da roubalheira em que o marido da Mocrécia se via embrulhado. Para não perder o pique da prosa ela falou: "Ai, colega, odeio situação enrolada!"

A visitante continuou: "Estou com uma dificuldade tremenda de pensar, de trabalhar. Sabe, estou muito irritável. Faz 5 dias que não vou ao banheiro. Imagine que loucura: dizem que meu Jarbas autorizou o pagamento de R$1.100,00 pela moldura de um poster. Será que essa gente não sabe que, hoje em dia está tudo mesmo muito caro?"

Mocrécia compungida continuou "Marcaram o comparecimento do Jarbas, lá na delegacia, no dia 24 de novembro. Estou tão nervosa! As pessoas passam de carro na frente de casa e dizem: fique louco! Não é um horror?"

Luísa Fernanda acendeu um cigarro. Mocrécia levantou-se andou, parou, sentou-se e mudando sempre de lugar disse estar à beira de um ataque de nervos. Ela então arrematou: "Meu sistema está muito nervoso!"

O telefone tocou. Luísa atendeu e respondendo ao interlocutor disse: "Sim, a dona Mocrécia está aqui. Ah, pois não; um minuto e ela já fala com o senhor". Mocrécia então tomou o aparelho e confabulou por algum tempo. Ao desligar contou à Luísa Fernanda que era o motorista da Prefeitura (aquele que vinha sempre buscar o marido para o trabalho). Ele dissera que haviam colocado câmaras filmadoras nas casas vizinhas e que estavam, ela e o marido, sendo monitorados em todos os lugares; tudo o que fizessem passava a ser objeto de observação.

Mocrécia não conseguia compreender ou conceber a existência de contatos simpatéticos que não visse. Assim, por exemplo, quando lhe diziam que o professor da classe do seu filho era também funcionário da mesma Prefeitura onde seu marido trabalhava, e por isso mesmo as insinuações que a criança ouvisse sobre apropriações indébitas, pudessem ser intencionais, ela a ingênua Mocrécia preferia desacreditar ou reprimir tais idéias mudando logo de assunto. Ou seja, por não falar mal de ninguém, a boba não imaginava que falassem dela mal ou da sua família.

Ao sair Mocrécia Boges disse: "Logo agora que eu estava criando um processo revolucionário de tratamento de pele me acontece isso". Luísa Fernanda curiosa perguntou: "Tratamento de pele? O que vem a ser?" Mocrécia, caminhando até a porta de saída foi falando: "É uma forma bem moderna de cuidar da pele. É revolucionário. Já pensava até em patentear. Mas é assim: a pessoa entra numa sauna e fica ali dentro por mais ou menos 40 minutos, sob temperatura de 80C. Depois coloca máscara, luvas, meias, tamancos e ingressa numa câmara onde a temperatura é de 70 graus negativos. Eu garanto! Ela sai supimpa de lá. No mínimo sob os mesmos procedimentos da pasteurização."

As duas despediram-se alegres e felizes por terem conseguido transpor mais aqueles momentos tensos e angustiantes.







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