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Artigos-->Racismo renitente e persistente -- 25/10/2004 - 10:18 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A estudante Maria Marlene de Souza, 36 anos, pretende processar por racismo sua professora e sua escola, em Fortaleza. Em agosto, a professora disse que seu grupo teria nota “zero’’ se ela, Maria Marlene, interpretasse, numa peça escolar, a Imperatriz Leopoldina, do Brasil oitocentista, pois não é branca e nem loura e não tem olhos azuis. No ano passado, Maria Marlene fez uma apresentação na escola, foi aplaudida e o grupo tirou a nota máxima.



Depois do episódio, a estudante teria sido chamada, na frente dos colegas, de “negra safada”, pela professora. A diretora da escola, Rosalva Falcão Torres, disse que a estudante ‘interpretou erroneamente o que a professora falou e criou essa confusão’’ e propôs a transferência da aluna de turma ou de escola. ‘‘Entendemos que não havia mais condições de mantê-la na mesma turma’’, explicou.



Maria Marlene não aceitou a proposta e procurou um advogado para processar por racismo a professora e o estabelecimento de ensino. Ela, que tem dois filhos pequenos, trabalha há seis anos como empregada doméstica em uma casa próxima à escola. Segundo o artigo 5º da Constituição Federal, o racismo é crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão nos termos da lei.



Nas representações teatrais e artísticas, crianças interpretam adultos; negros fazem personagens brancos ou asiáticos; homens, mulheres – e vice-versa. O branco Sérgio Cardoso já representou o escravo negro Thomaz, numa antiga novela; o negro e adulto Grande Otelo já se fez passar pelo recém-nascido e branco Macunaíma, no cinema... Pelos critérios que Maria Marlene denuncia terem sido adotados em sua escola, isso jamais teria acontecido. E o kabuki, teatro asiático onde só homens atuaram por mais de 200 anos, não teria contemplado a humanidade com a qualidade de suas produções, que incluem personagens femininas e de todas as idades.



Fatos como o da escola cearense não são raros no Brasil da “integração racial”. Pesquisas feitas pela USP, Unicamp e PUC apuraram que os negros têm um perfil de saúde mais perverso do que o dos brancos, mesmo pobres. A mortalidade infantil, entre 1980 e 2000, diminuiu nos dois grupos, mas a defasagem aumentou. Em 80, o percentual de crianças negras mortas era 21 pontos maior do que o de brancas. Em 2000, a taxa pulou para 40%. A negra tem um risco de mortalidade materna três vezes maior do que a branca. Negras têm 20% menos chance de ter consulta ginecológica completa e metade da chance de receber anestesia em parto normal. A médica Maria Inês da Silva Bandeira constatou, em sua tese de mestrado na USP, que 79,5% dos óbitos de homens negros ocorrem até 54 anos, contra 45,1% dos brancos.



Rafael Guerreiro Osorio, consultor da Diretoria de Estudos Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, apurou que o desenvolvimento econômico não elevou o negro na hierarquia social. Mesmo entre os pobres, continuam os menos favorecidos. O racismo impede a mobilidade social dos negros.



Osorio considera que, “quando são tomados dois pais, um negro e um branco, ambos com exatamente a mesma condição social, se esta for baixa, o filho do branco terá melhores chances de ascender na estrutura social; se for elevada, o filho do negro correrá mais risco de descender na hierarquia”.



Os números atestam a situação desfavorável de negros. De cada 100 brasileiros mais pobres, 65 são negros ou pardos. São negros apenas 24% da ínfima parcela de 1% mais ricos do país. Das 3.593.552 pessoas que vivem com menos da metade do salário mínimo por mês, 2.269.229 são pretas/pardas, enquanto 1.277.033 são brancas. Em 2002, a população branca com mais de 12 anos de estudo ganhava 40% a mais por hora do que a população negra ou parda com o mesmo nível de escolaridade.



Já no Rio Grande do Sul, o Tribunal de Justiça decidiu que o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, não deve ser feriado em Porto Alegre, conforme aprovado pela Câmara Municipal. Para justificar seu voto vitorioso na decisão, o desembargador Paulo Moacir Aguiar Vieira criticou, não os racistas, mas os marxistas (diga-se de passagem, teve a virtude de tirar a discussão do restrito âmbito das “raças” para colocá-la no eixo mais preciso, de classes), pois no Brasil a “história se diferencia do que ocorreu recentemente na África, por exemplo. Vejam a desgraça de Angola, a desgraça de Moçambique. As coisas não iam bem em Angola, não iam bem em Moçambique, todo mundo sabe, mas se tornaram terríveis no momento em que movimentos radicais lá assumiram o poder e enxotaram os brancos de lá, expulsaram os portugueses de Angola, massacraram os portugueses de Moçambique, invadiram fazendas, estupraram mulheres brancas, fizeram com que praticamente toda a população branca, que era importante, que contribuía economicamente para aqueles países fosse obrigada a fugir de Moçambique. Tudo isso foi insuflado por movimentos marxistas de fora, gente que não era de lá, mas que foi para lá insuflar, radicalizar. Isso representou a desgraça para aqueles povos, derramamento de sangue, uma revolução que durou de 1974 até quase os nossos dias em Angola e Moçambique. Hoje, aqueles países estão desgraçados, estão mergulhados na miséria, numa situação das mais dramáticas e das mais caóticas da face da terra”.



O douto desembargador gaúcho considera o Dia da Consciência Negra “feriado religioso de cunho racial” e, ao que tudo indica, seu viés de classe não lhe permite olhos para o Brasil, onde, mesmo com a ideologia da supremacia da raça branca – ou melhor, devido à supremacia do capital, que não tem cor (vide a tez do secretário de estado, Colin Powell, e da conselheira de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Condelezza Rice), mas cuja maior parte dos donos é branca –, continua imperando “uma situação das mais dramáticas e das mais caóticas da face da terra”!

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