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Artigos-->JARBAS, O NÓ CEGO -- 25/10/2004 - 13:31 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
JARBAS, O NÓ CEGO



Fernando Zocca





O mundo todo sabia ser Tupinambica das Linhas o lugar do universo que continha e concentrava a maior quantidade de loucos, bêbados, psicóticos canábicos e frigidas, do que qualquer outro local do Brasil.

Os cientistas explicavam o fenômeno pela composição tóxica da água do riacho que cortava a cidade. De fato, quando os Tupinambiquences captavam o líquido que lhes mitigava a sede, ele já havia passado por uma centena de outras paradas existentes à montante, onde lhes acresciam os dejetos de milhões de pessoas.

Um grupo diverso de estudiosos admitia ser o predomínio das idéias da seita maligna do pavão-louco, outro forte fator determinante da demência, facilmente notada nas feições boçais daquele povo subnutrido e subdesenvolvido.

A maior quantidade da população (mais de 2/3) era analfabeta funcional. Ou seja, não conseguia terminar a leitura de uma notícia simples de jornal. E se o fizesse, não poderia comenta-la, por absoluta insuficiência de aprendizado.

A grande maioria se comunicava observando a assonância das palavras, importando menos o sentido lógico que elas pudessem ter.

Uma questão que não queria calar era: quem daria emprego para as levas e levas de adolescentes ignaros, mal educados e estúpidos, que agora por absoluta falta de controle dos pais, vagavam pelas ruas, iguais aos cães sem dono? Seria Jarbas, o nó cego?

A seita maligna do pavão-louco obteve o apoio dos bíblias e juntos, elegeram um partido no qual vicejava outra centena de parentes dos membros da seita. Aquilo era um fenômeno muito raro.

Afinal, não deixava de ser bastante inusitado, uma política suicida até: um grupo adversário, esquecer as diferenças pragmáticas, colocando antagonistas no poder.

No partido havia prostitutas, boiolas mil, ladrões travestidos de procuradores municipais, assassinos alçados a cantores de música sertaneja, estupradores elevados a dirigentes de centros e bêbados notórios, proprietários de inúmeros imóveis na cidade.

Que a urbe era maldita, não restava dúvidas. Alguns mestres diziam que quando os portugueses por lá chegaram em meados do século 18, fizeram algumas promessas aos índios e, em não as cumprindo, receberam a sentença de morte proferida por um grupo de pajés insatisfeitos.

Tupinambica das Linhas era uma cidade especial. Governadores de estado, senadores e deputados federais sabiam que a saúde mental, dos habitantes daquele segmento do universo, carecia de tratamento diferenciado. Eram pessoas sensíveis, isoladas, que não gostavam de filmes, jornais, e revistas. A maioria da população masculina freqüentava bares e gostava de truco.

As mulheres não perdiam as novelas na TV, mas por substrato falho, eram tardas no compreender as idéias e conceitos passados pelos atores e atrizes.

Os professores, viviam sob tratamento psiquiátrico e talvez fosse essa ineficiência mental uma das causas da existência de tanta criança analfabeta.

As leis federais injustas (uma delas consistia em atribuir sustento vitalício às mulheres filhas de funcionários públicos mortos, desobrigando-as do trabalho e casamento), causavam tamanho senso de desequilíbrio que a iniqüidade manchava parcela cúmplice do funcionalismo.

A cidade era tão esquisita, mas tão esquisita que uma senhora nascida no sítio, e que fizera o curso universitário, depois de velha, colando de um e de outro, só obtivera o cargo de gerente geral da Previdência Providencial, sob a condição de elevar, ao funcionalismo, mais outra dúzia de seletas do centro que freqüentava.

Jarbas fora escolhido prefeito pela população. Ele obtivera quase 70 mil votos. O que fizera ter ele o respaldo dos eleitores foi a promessa velada de mandar matar todos aqueles insubordinados que tiravam o maior sarro das patacoadas escritas nos livros dos desconchavos deslavados usados, pelas seitas, na submissão dos tolos.

A população não queria nem saber se a consideravam conivente e cúmplice do partido, nos roubos, desfalques e desvios das verbas públicas. O que mais queria o populacho ver era o incêndio do circo, desejando sempre que, durante a ocorrência, o corpo de bombeiros todo estivesse na maior, absoluta, e justa greve por maiores e melhores salários.





Leia também, da série Tupinambica das Linhas finalmente se ferrou: TARJAS FÚNEBRES, TARJAS FÚNEBRES II e A PACHEQUICE.

Breve: MORTE NO ARAGUAIA.

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