Seis horas da tarde... Celeremente as trevas se aproximam... O Astro-Rei, em seus últimos lampejos, desce lànguido a escada do horizonte, para fazer renascer no outro hemisfério do planeta a aurora radiante. Para nós a noite chegará em breve como uma esponja imensa, apagando as cores vivas das paisagens. Esse breve período de transição que antecede a noite densa é o crepúsculo da tarde.
Para separar a noite do dia ou o dia da noite, o Criador fez os crepúsculos, uma espécie de trégua na luta diária entre a luz e as trevas. É um momento de serenidade, em que a própria natureza descansa. Esse é um instante sublime, porque todos nós sentiremos algo acontecer na Terra; que a Mão Suprema de Alguém move as alavancas potentes do universo, para lembrar aos homens da sua presença indelével e da sua onipotência.
Nesse momento grave há uma transcendência mística, quer seja no sussurrar da brisa, no crepitar do mar, no cessar do vóo dos insetos laboriosos, no derradeiro cantar da juriti, nos corações dos homens.
Existe um marcante significado em tudo isso, mais amplo e profundo do que imaginamos. Esse místico instante crepuscular nos dá cotidianamente o grato ensejo à meditação, à revisão de tudo que fizemos no transcorrer do dia; há o ensejo para o agradecimento a Deus por todas as graças que por ventura temos recebido, é também hora do dever fraterno de pedirmos uma melhor vida para os desfavorecidos da sorte.
Assim crêem os homens de boa vontade, seguros das suas metas, certos de que serão ouvidos em suas súplicas pelo Senhor.
Tudo isso, faz parte da nossa gratidão ao Criador do universo. O mundo seria bem melhor se assim pensassem os homens.
Ao fim do pór-do-sol, a noite se aproxima pesada e longa para o repouso de toda a natureza, até que o esplendor de outra alvorada venha colocar em nossos corações mais esperanças, e em nosso olhar a luz de um novo dia, Ã s vezes, por alguma razão tão aguardada por nós!
Mas, enquanto no aveludado céu noturno as estrelas brilham, e no doce aconchego do nosso lar adormecemos, há no recóncavo da noite, o dolorido eco dos gemidos de dor, dos que vagam ao relento, famintos, sem teto, sem rumo, sem abrigo, sem paz, tentando sobreviver a este mundo violento, insensível, desigual, onde a justiça social tristemente cambaleia, e a Fraternidade, tão sublime e bela, parece ser um sonho que a humanidade já perdeu... |