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Artigos-->Ofensiva catequista -- 03/11/2004 - 12:07 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ofensiva catequista



Carlos Pompe



O Vaticano divulgou, dia 25, o "Compêndio da Doutrina Social da Igreja". Pediu que essa doutrina seja "conhecida, vivida e propagada". O documento, com mais de 500 páginas, levou seis anos para ser concluído e é tratado pelos papistas como uma "bíblia" de compromissos dos católicos. O aborto é condenado e à mulher é concedido o direito de trabalhar, “desde que isso não prejudique a família”. O cardeal Renato Raffaele Martino, do Pontifício Conselho Justiça e Paz, apresentando o texto, disse que é "um manual seguro" para realizar uma democracia. O documento reforça politicamente a postura de bispos estadunideneses, partidários de George W. Bush, que recomendam que não se vote em partidários do aborto (referência ao candidato do Partido Democrata, John Kerry).

A publicação faz parte da ofensiva do alto clero, que ganhou reforço com a nomeação do ativista anticomunista polonês Karol Józef Wojtyla como papa, em 16 de outubro de 1978, quando assumiu o nome de João Paulo II. Ao tempo em que deslocou de funções importantes na hierarquia da Igreja religiosos com maiores compromissos com mudanças sociais (como dom Pedro Casaldáliga e dom Evaristo Arns, no Brasil), o papa também proclamou, desde o início de seu pontificado, 1320 beatificações e canonizou 476 santos, inclusive atribuindo poderes milagrosos à madre Tereza de Calcutá. Integra essa ofensiva o livro "Memória e identidade", onde João Paulo II afirma que "o comunismo foi um mal necessário, permitido por Deus para render oportunidades para o bem".

A base dessa orientação remonta a mais de 100 anos. É a encíclica Rerum Novarum (Das inovações), do papa Leão XIII, de15 de maio de 1891. Ela é dedicada ao combate ao socialismo. Começa dizendo: “A sede de inovações, que há muito tempo se apoderou das sociedades e as tem numa agitação febril, devia, tarde ou cedo, passar das regiões da política para a esfera vizinha da economia social. Efetivamente, os progressos incessantes da indústria, os novos caminhos em que entraram as artes, a alteração das relações entre os operários e os patrões, a influência da riqueza nas mãos dum pequeno número ao lado da indigência da multidão, a opinião enfim mais avantajada que os operários formam de si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos costumes, deu em resultado final um temível conflito”. Escrita em latim, seu nome vem das primeiras palavras do texto (Rerum novarum semel excitatã cupidïne, quae diu quidem commóvert civitates ...).

Anos antes, em 28 de dezembro de 1878, Leão XIII havia atacado “a peste do socialismo” e seu “infausto germe” que atingia artesãos e trabalhadores. Num texto de 1885, afirmou serem a Igreja e o Estado os representantes de Deus. Considerava a liberdade de expressão e pensamento “a origem de todos os males”.

Na “História do Cristianismo”, Paulo Johnson diz que a Rerum Novarum "Aceitou os sindicatos, desde que autorizados pelo Estado; condenou o capital e o trabalho, em suas expressões radicais. Tanto o socialismo quanto a usura eram errados; a propriedade particular era essencial para a liberdade, e a sociedade sem classes era contrária à natureza humana. Os trabalhadores jamais deviam recorrer à violência. Os empregadores deveriam adotar uma atitude paternal para com seus funcionários, pagar-lhe salário justo, protegê-los das oportunidades de pecado, aplicar qualquer riqueza ‘que sobrasse da manutenção de sua posição social’ na promoção ‘do aperfeiçoamento de suas próprias naturezas’ e funcionar como administradores ‘da providência divina em benefício alheio’". E o juiz do Trabalho do TRT da 6ª Região, Gustavo Henrique Cisneiros Barbosa, considera o discurso do papa oitocentista “visivelmente favorável à filosofia capitalista, o que não surpreende, face à posição política ocupada pela Igreja”.

A postura de João Paulo II, neste século XXI, repete a de seu antecessor que, segundo Domenico de Mais, colocava-se “como defensor do status quo e inimigo da luta de classes, propondo o cristianismo como o melhor dos meios para garantir a paz social”.

Experiências socialistas ganharam vulto no século passado. Diferentemente do que insinua João Paulo II, não deixaram de existir – em verdade vos digo, China, Coréia do Norte, Cuba, Laos e Vietnã continuam se afirmando socialistas, mesmo neste século. Por outro lado, a paz social não está garantida por religião alguma. O que os socialistas Marx e Engels, desde antes de Leão XIII, advogavam é que ela só será alcançada com a construção de uma sociedade sem classes e este é o objetivo preconizado por eles para os proletários na vivência da luta de classes – que não é criada artificialmente, mas um dado objetivo da realidade, baldadas encíclicas em contrário. Os fundadores do socialismo científico apontavam a prática como critério da verdade. Ou, para ficar no latim, tão caro aos papistas: Rerum omnium magister usus (A experiência é a mestra de todas as coisas – Júlio Cesar, “A guerra civil”).

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