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Artigos-->Matéria Urbana -- 02/10/2001 - 00:00 (eva braun) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ufa...dou por encerrado mais um dia de trabalho, desligo o computador e vou até a cozinha. No momento em que abro a geladeira, as luzes se acendem e um sushi desmilingüido começa a sapatear no prato para chamar minha atenção. Esqueça, meu filho. Eu não vou te comer nem que este prédio caia sobre a minha cabeça...oops...e se me passares varíola? Aliás, acabo de me lembrar de que hoje não fui uma vez sequer até a janela para ver se os aviões continuam cruzando os céus. Nestes últimos tempos esse tem sido o meu passatempo favorito. Não sou a única. Acho que os especialistas chamam isso de síndrome pós-traumática, ou algo parecido. Que tal pedir uma pizza, Eva? Ligo a TV e os repórteres de papelão da CNN com aquelas vozes de marionete me dão os últimos informes da "guerra contra o terrorismo". Hum,hum,o Taleban ou Talibã ou o que seja admite que bin Laden está sob sua proteção...dahn...é mesmo? esta CNN é tão elucidativa, que bit de informação. Chega. Atiro o controle remoto no sofá e resolvo sair para tomar uma cerveja no McSurly s, um barzinho irlandês que fica no East Village. Lá posso encontrar meus amigos do mundo inteiro acotovelados numa só mesinha de madeira, ingleses,alemães,porto-riquenhos,brasileiros,coreanos,árabes etc. Lá cada barman fala como um homem de Estado, principalmente depois da Terça-feira Negra. Lá a vida passa como se não vivêssemos absolutamente, a cerveja desce sem incidentes diplomáticos e no final da noite a conta só pode ser fruto da nossa imaginação. Hoje chegamos à conclusão de que depois do 11 de setembro retornar para casa com o corpo intacto virou uma questão de mérito pessoal. Com os nervos esticados ao máximo, um copo que cai no chão é motivo de pânico não declarado, basta ouvir o silêncio das vozes que se segue, os olhares buscando estilhaços no chão para confirmar se se trata mesmo de um copo e não de um coquetel bacteriológico. Após a terceira rodada de cerveja, o nervosismo dá lugar às análises mais catastróficas. "Se continuar assim, as empresas de aviação vão falir. Agências de turismo idem. Ninguém quer mais viajar.Só quem precisa. Nem de ônibus. E se tiver uma bomba armada debaixo do meu banco? Vá de carro. Sabiam que a Torre Eiffel foi evacuada? E o atentado no Parlamento da Índia? Você já comprou a sua máscara? Quanto custa? No mínimo 50 bucks. Vou comprar um sistema de videoconferência e não sair de casa nunca mais.Os EUA não podem atacar. Não devem. Bush está num beco sem saída. Motherfucker." Os mais otimistas dizem que é o começo do fim do capitalismo selvagem. Que o G-8 vai se transformar em G-16, G-32, numa progressão sem fim. Que só uma ação terrorista diversificada pode dar fim ao imperialismo. É, parece que os anos 60 estão de volta. Política e história contemporâneas voltaram a ser tema de conversa, deixando a era da informação de lado. Passamos horas especulando estratégias para os dois lados, comparando Bíblia e Alcorão, prevendo possíveis cenários do futuro. Do futuro quando não estivermos mais aqui, quando o mundo afinal se consumar no que Philip Dick vaticinou e o cinema glamourizou em Bladerunner. Fim de papo. Hora de ir para casa,pessoal. Na calçada um garoto me pára para oferecer o que ele chama de "relíquia de guerra", um pedaço de mármore de uma das torres gêmeas do WTC. Por 10 dólares. Eu declino. Ele insiste, dizendo que vou me arrepender porque dali a um tempo eu só vou poder ver aquela relíquia exposta no MoMa. Aconselho a ele que guarde então a peça bem guardada para ele leiloar no Sotheby s dali a uns anos. Além do que, eu só compraria aquele pedaço do WTC se ele viesse acompanhado de um naco do Muro de Berlim, para fazer par. O garoto ficou me olhando sério por alguns segundos e depois, desolado, me confessou:



- Sorry, ma am, vou ficar lhe devendo esta. Do Muro de Berlim eu não tenho. Eu nem era nascido na época.
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