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Artigos-->Células Tronco -- 06/11/2004 - 01:32 (Martha Rocha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PARA MINHA AMIGA CÁSSIA, que luta por regulamentação de leis que propiciariam a sua filha uma chance especial. E benefícios a tantos outros. Abraço amigo querida, com calor e amizade. Que DEUS te ilumine e nos ajude a te ajudar.







Eu como profissional da área da saúde, Fisioterapeuta e professora de Educação Física, tenho opinião formada sobre este assunto que se considera polêmico e para muitos um tabu.

As células tronco podem vir a ser um meio bem eficaz de se resolver problemas sérios relacionados a muitas áreas da reabilitação humana, proporcionando a pessoas portadoras de seqüelas na área motora a oportunidade de ter uma vida o mais próximo da normalidade e da autonomia que significa tanto para o ser humano.

Sei que serei criticada por alguns, apoiada por outros, ignorada por tantos, mas não posso me furtar a discussão porque vejo constantemente pessoas que poderiam estar produzindo para a sociedade, pessoas que poderiam estar executando suas atividades da vida diária sem auxílio de outros, totalmente dependentes por que lhes falta um importante movimento, ou mesmo possibilidade de locomover-se independente.

Lembro sempre de uma situação que vivi quando era professora de Educação Física numa escola municipal onde também era a vice-diretora.

Nesta escola, havia junto comigo uma colega da área que era tão ou mais maluca que eu, e que adorava também um bom desafio.

Resolvemos dar uma oportunidade para as meninas carentes da escola, que não tinham muitas opções naquela época (1980 mais ou menos), e abraçamos um projeto de dança, oportunizar às nossas alunas um sonho, um grupo de dança moderna, numa comunidade carente.

Bem, a coisa era mais ou menos assim, conseguimos um espaço na igreja próxima da escola, mas um espaço tão pequeno que tinhamos que cuidar para não sermos "abalroadas" pelas pernas e braços das meninas durante os ensaios, mas na verdade a coisa era bem pior pois tivemos que dividir em grupos de no máximo 5 de cada vez caso contrário alguém poderia se machucar, e nós tínhamos que sair da sala e orientar da janela pelo lado de fora toda vez que precisávamos corrigir um erro. Era na base do grito e desligar o som para ser ouvida, e conseguíamos isso divinamente.

Mas nosso pequeno projeto cresceu de tal forma que em 6 meses ou pouco mais, elaboramos um show com várias músicas, coreografadas por nós e pelas meninas, criamos gestos, movimentos, figurinos, e toda uma expectativa em cima desta coisa maravilhosa que se chama esperança, e perseverança que não faltava a elas. Nem a nós.

Conseguimos um espaço enorme no centro administrativo do município e fomos à luta, pois precisávamos elaborar, ensaiar e fazer figurinos junto com as mães, e todos que se dispuseram a colaborar.

Foi algo fantástico, estupendo como eu gosto de dizer, tudo que eu acho maravilhoso.

Juntamos muita gente para assistir, tinha gente de várias escolas, amigos, parentes, professores, e nós ali, tremendo de emoção, de medo, e ganhando coragem a cada quadro que apresentávamos.

Indescritível é o mínimo que poderia ser dito, e foi assim que se desenrolou o show, por 2 horas. Elas dançaram, rodopiaram, saltaram, esticaram-se, curvaram-se, de uma seriedade e competências inigualáveis mesmo. Pareciam bailarinas profissionais.

Tudo perfeito, tudo no tempo certo até a última música escolhida: Mrs. Robinson.

Elas entraram em totalidade no palco, roupas pretas imitando fraques, nas mãos bengalas e cartolas pretas nas cabeças.

Foram surpreendentes, pois giravam em um único movimento, elevavam as pernas, chutavam o ar, as sapatilhas pareciam ter vida própria e ser usadas por idênticos pés, absolutamente iguais nos movimentos.

No último giro da dança, elas ficaram nas pontas dos pés, com os braços elevados e as cartolas e bengalas uma em cada mão, para cima, para o alto como a querer tocar o teto. E finalizaram a apresentação todas juntas, sem um erro, numa reverência maravilhosa.

Foi um aplauso intenso, uma ovação incrível por parte de quem assistia, e o sorriso em cada uma era de uma estrela verdadeira. Um verdadeiro orgulho para nós que vimos aquilo nascer e acontecer assim.

Mas de repente na primeira fila uma criança se levanta e diz para a mãe: mãe, veja ali, a guria tem uma perna diferente da outra.

Foi um silêncio absurdo e imediato, todas as meninas correram para perto dela, e como em defesa viraram de frente para o público que assistia aquilo aturdido.

Nossa aluna era uma portadora de seqüelas de Paralisia Infantil, usava uma órtese de metal na perna, e se esforçava muito para executar todos os movimentos, tal sua dedicação que nem tínhamos preocupação com ela. Simplesmente nos era igualzinha a todas , e até muito mais talentosa que a maioria.

A mulher olhou para minha colega e disse muito séria: quero saber quem é a responsável por tudo isso.

Minha colega muito nervosa disse que era eu, a vice-diretora.

A mulher se virou para mim e disse muito emocionada: quero uma vaga para minha sobrinha nesta escola, ela é discriminada na sua porque tem o mesmo problema da sua aluna. Quero minha sobrinha com vocês, tenho certeza que ela será feliz ali.

Bem, depois do sufoco todo que passamos naqueles minutos infindáveis de choque, tivemos a grata surpresa de no ano seguinte termos duas meninas maravilhosas dividindo um espaço com as outras, integradas e saudáveis, não sem suas limitações, mas com oportunidade igual.

Soubemos mais tarde que esta jovem se tornaria professora, mas nunca mais tivemos contato com ela depois que deixou a escola exatos 3 anos depois.

O fato que relatei é significativo a partir do momento que naquela época, nem se cogitava algo semelhante a isso que vemos agora, o advento das células tronco, uma chance de cura ou pelo menos de melhoria de qualidade de vida para seres humanos que tem problemas, seqüelas graves que lhes impossibilitam ter uma vida independente, tão boa quanto a de qualquer outro.

As células tronco podem sim ser a solução para muitas doenças, principalmente as motoras, tomando por exemplo a luta de Cristopher Reeve, o mais famoso Super homem da história do cinema. Este morreu tentando fazer com que as pesquisas nesse sentido fossem permitidas, que se pudesse trabalhar em cima da possibilidade de criar uma forma eficaz para devolver a ele e a muitos como ele a qualidade real do ser humano: independência em suas atividades da vida diária.

Imagine-se num dia qualquer de sua vida agora, você não poder sair da cama sozinho, não conseguir ir até o banheiro sem ajuda, nem ter a menor possibilidade de escovar seus dentes, pentear seu cabelo, lavar seu rosto, tomar seu café, sair para trabalhar, dirigir, divertir-se sem ajuda. Imaginou?

Pois é terrível sim, e tem muita gente assim no mundo afora, gente que por motivos vários não só por doenças, ou por hereditariedade, ou acidentes, dependem fisicamente de outros. É uma sensação horrível de se ter, mas é real, olhe ao seu redor, tem tantos!

Quando vejo reportagens sobre o assunto, fico me perguntando sempre o mesmo: a quem interessa não permitir que as pesquisas avancem? Que se consiga curar, ou pelo menos melhorar a vida de outras pessoa incapacitadas? Não tenho resposta, nem conheço justificativa plausível para se proibir tal coisa.

Mas vamos mais longe, quero mesmo é convidar você que está lendo este artigo para engajar-se numa campanha de esclarecimentos sobre isso, temos que pressionar nossos vereadores, deputados, senadores, ministros, governadores, prefeitos, o presidente da República, a igreja, e nós que somos a sociedade também.

Afinal de contas, somos os contribuintes que elegem seus representantes, todos eles em qualquer nível. Somos nós a sociedade que paga seus salários, ano após ano. E o que fazemos para que eles acordem? Nada, ou muito pouco. O que exigimos verdadeiramente deles ano após ano? Muito menos ainda.

Somos aqueles que ao pagar seus impostos (que não são poucos e nem irrisórios) estamos financiando, literalmente falando, os salários deles para que legislem em benefício do povo. E o que eles fazem? Cabe-nos como sociedade fiscalizar, e fiscalizar muito de perto estas ações.

Precisamos pressionar e muito estes segmentos, precisamos nos organizar como sociedade ativa e não passiva, temos que acordar e exigir que algo seja feito.

As pesquisas sobre célula tronco, são uma realidade e como tal temos que enfrentar, e não enterrar a cabeça como avestruzes apavorados diante da catástrofe.

A sociedade organizada e participativa, muda a fisionomia de um país, esta é nossa verdade.

Sei que o assunto gera polêmica, e vai gerar manifestações de apoio ou de repúdio, mas quero esclarecer que nem tudo que parece mau é necessariamente maligno, muitas vezes precisamos tirar as vendas dos olhos para perceber que é o melhor.

Minha intenção hoje, ocupando este espaço maravilhoso, é um alerta mais que uma queixa, talvez até um lamento por aqueles que eu cuido, e tento reabilitar como muitos dos meus colegas, e dos médicos, e de todos os que tratam da recuperação na área da saúde, o quanto somos responsáveis por tudo que nos cerca.

A minha cruzada neste sentido tem uma justificativa antiga pois sempre fui favorável à pesquisa e acredito na integridade dos cientistas, a segunda justificativa é que se pudermos viver melhor, com qualidade de vida, porque não fazê-lo? Porque não curar as doenças, ou minimizar suas consequências?

Não entendo realmente quem pode pensar em se beneficiar de uma projeto desse, só para ganhar dinheiro, ou elevar-se por pura pretensão.

Eu não consigo acreditar nisso, eu não quero acreditar nisso.

Quero sim que todos nós brasileiros tentemos pelo menos entender o que significa na vida de pessoas com dificuldades, uma independência mesmo leve, sem que alguém tenha que ficar acompanhando, apoiando. Imaginou? Independência!!!

Além do que, as células tronco são objeto de estudo no mundo todo, simplesmente ainda não aconteceu de alguém descobrir realmente um meio eficaz de cultivá-las e assim aplicar em todos que precisam.

Na minha opinião, devemos estar atentos quanto a isso e cada vez mais perto do entendimento. Devemos exigir clareza quando se fala no assunto, para que possamos discuti-lo sem a menor chance de não mudar. Precisamos ficar atentos para tudo que se organiza sobre o assunto.

Ah, e também acreditar, isso é importante.









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