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Cronicas-->ESTUPRO SONORO -- 12/11/2001 - 22:37 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Na Idade Média, a comunicação entre os soberanos do reino e o povo era feita através dos arautos do rei. Ou porta-vozes, que é a mesma coisa. Cabia a esses infelizes espalharem as notícias e decisões do monarca por todo o reino, gritando no meio das praças, como a gente vê nos filmes sobre a Idade Média.

Digo infelizes não à toa, mas porque não era raro o portador da notícia ser obrigado a dizer algo que o povo não desejava ouvir, como os tradicionais aumentos de impostos, cobrança de uma nova taxa e outras coisas desse tipo com as quais até hoje (não) estamos acostumados. Imagino que frequentemente a coisa ficava preta pro lado deles, e não duvido que os arautos do rei acabavam o dia cercados por camponeses irados e cobertos de pauladas. Aliás, com exceção daquela lei que o senhor feudal tinha o direito de desvirginar todas as noivas da sua propriedade antes do noivo (pelo menos todas as que ele julgava valer a pena, arrisco), as coisas não mudaram muito até hoje (agora o governo nos curra quando bem entende). Mas não é bem aí que eu quero chegar. Reclamar é bom, mas uma coisa de cada vez.

Bom, depois disso (da Idade Média, reis, arautos e tal), a coisa melhorou com a escrita, com relação ao barulho. Notícias podiam ser lidas, ao menos pra uma minoria que sabia ler e escrever em latim, e cada vez menos vezes se precisava gritar. A partir daí, tudo correu bem, e lá pelo meio do século passado, talvez, os arautos se tornaram mais comerciais e tomaram forma dos "carros de som", que nada mais eram do que veículos de passeio equipados com um singelo alto-falante.

Nosso mais ilustre representante dessa área, aqui em Paraguaçu, é o simpático Manoel Junqueira Rosa, uma voz desde 1953 se não me engano, com seu fusca azul da década de 60. Muitas notícias foram ouvidas através dos seus anúncios, e todos nos acostumamos a, ao ouvirmos sua voz característica passar pela rua, apurar o ouvido para ver se o que ele traz é de nosso interesse ou não.

Porém, eis que no final do último século, uma invasão de monstros sonoros vem acabando com o nosso sossego. Sim, eu me refiro a esses mamutes movidos a diesel, que carregam uma parafernália de bilhões de Watts de potência, berrando desmedidamente informações pra dentro de nossos ouvidos, sempre nos momentos mais inconvenientes.

Acho um absurdo, uma tremenda falta de respeito o jeito que esse pessoal anda usando esse tipo de anúncio. Você está no telefone, e passa aquela coisa gritando preço de arroz agulhinha, do almeirão, do popeline estampado (seja lá o que queira dizer isso). Olha, se eu quiser saber o preço da cebola, EU VOU ATÉ O SUPERMERCADO E PERGUNTO, ouviu? Não quero essa informação socada no meu ouvido. Isso um verdadeiro estupro sonoro!
Quantas vezes você teve que parar alguma atividade, uma conversa, ou pior ainda, uma piada, porque bem no momento do desfecho final, quando você revela "o médico era o macaco!!" e todo mundo cai na gargalhada, passa aquele veículo irritante gritando que "você não pode perder o show de ofertas de popeline estampado" (afinal, que diabos é popeline??) e ninguém ouve a sua piada, aí você tem que repeti-la e, logicamente, ela fica sem graça? Isso é horrível!
Esses dias eu estava no telefone quando um monstro sonoro desses passou em frente ao escritório berrando alguma coisa tão alto que não consegui distinguir bulhufas. Mas fui atrás pra tentar ouvir, pra saber do que se tratava o anúncio, porque fiz questão de não comparecer, de modo algum, ao evento que ele anunciava.

Sei que não estamos mais na Idade Média, apesar de existirem ainda esses e tantos outros instrumentos de tortura, mas vou te contar uma coisa, meu fiel leitor: a vontade que eu tenho, quando um carro desses passa na minha frente, é de descer o cacete naqueles autofalantes, pegar o responsável, amarra-lo numa cadeira e colocar um fone no seu ouvido com uma gravação de doze horas só de ofertas da Tanger de Assis, no volume máximo!

Claro, existem leis que regulamentam essa atividade, sei que há normas para serem obedecidas quanto ao nível de incómodo e irritação que podem ser legalmente aplicados a uma população, e existe até uma unidade física pra isso (os Decibéis, medida de intensidade sonora). Acredito que, infelizmente, isso não está sendo observado por aqui. Porém não cabe a mim julgar ou exigir esse tipo de coisa. E nem quero. Eu só gostaria era de aproveitar esse momento e pedir, humilde e silenciosamente: dá pra abaixar o volume um pouquinho, por favor?
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