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Artigos-->O CORAÇÃO -- 29/11/2004 - 14:50 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O CORAÇÃO



Fernando Zocca



"Bem vezes revoltavam-lhe a alma as indignidades de que era vítima" (José de Alencar, Senhora, p. 227)





Em Tupinambica das Linhas, nos idos de 1975, havia um sujeito conhecido como Moacir Lellé que pensava ser possível ganhar a vida, com uma espécie de fábrica, onde pretendia fazer e reformar portas, e portões de ferro.

Ninguém duvidava das suas habilidades técnicas, manuais ou gênio criativo. Tanto é que a própria esposa, dona Célia Luíza Lellé, logo depois de receber uma soma vultuosa, proveniente da herança do seu pai, deu-a ao marido, como incentivo.

O Moacir Lellé então, que naquele tempo tinha já três filhas (Lalá, Lulu e Loló), numa rua bem movimentada, na cidadela, defronte uma velha escola técnica-estadual, instalou sua serralheria.

No princípio parecia que tudo transcorreria muito bem. As moças, suas filhas, estavam se tornando adolescentes, e com relativo sucesso, formavam-se no ginasial.

Até que um dia lá na oficina, dentre tornos, fresas e furadeiras, surgiu uma jovem sensual e voluptuosa; ela tinha um jeitinho da Leila Diniz. Era filha do conhecido professor Finnório que nas horas vagas, funcionava, nos bares da redondeza, entre uma cervejota e outra, como apontador do jogo do bicho.

Naquela tarde a moça vestia minissaia azul, e sua blusa preta, lhe destacava os seios opulentos. Carente, com voz chorosa, ela pediu emprego ao empresário.

A necessidade dos serviços da jovem era inexistente. Porém sua beleza e exuberância física mexeram, de fato, com as entranhas e os neurônios do fabricante Lellé.

Daquele dia em diante ele sofreu até congestões cerebrais; passou então a confundir as coisas e, dentre elas, não discernia mais a diferença existente entre, por exemplo, diz respeito e desrespeito.

Ele, que a priori, não via onde colocar a jovem, imaginou logo um departamento novo, encarregado da expedição de materiais inaproveitados, na oficina.

O reboliço, que a contratação intempestiva causou nos demais empregados, e sócios da empresa, sem tardança, contagiou a vizinhança. O bafafá foi logo parar nos ouvidos da matrona, dona Célia, residente perto da matriz.

Dias depois de incorporada a moça, aos quadros de funcionários, durante os almoços, na casa do patrão, as discussões passaram a ser freqüentes. A dona Célia Lellé, injuriada, achando que havia motivos libidinosos naquela contratação, tornava os horários das refeições extremamente angustiosos.

Moacir Lellé, em decorrência daquele tratamento (por ele considerado injusto) começou a sentir, após uns meses, muita irritabilidade e sensibilidade exagerada. Toda e qualquer parte do seu corpo, não podia ser tocada (nem de leve), sem causar-lhe desprazer.

A instabilidade emocional, depressão e fadiga, tornaram-se companheiros; não via ele outra saída que não fosse a da consolação nos braços da moça.

O trabalho na oficina perdia rendimento. As peças já não tinham bons acabamentos e o descontentamento dos consumidores se evidenciava no rareamento dos pedidos.

Se não havia trabalho, não tinha dinheiro; se não existia dinheiro, faltava razão aos fornecedores habituais, para a manutenção dos contratos de fornecimento.

Foi então nesse clima de pré-pindaíba que o Moacir Lellé resolveu romper com a pobre dona Célia, e morar de vez, no cafofo da gostosona, descendente do Finnório.

As filhas do casal, (Lalá, Lulu e Loló), depois que o pai se escafedeu, não suportavam mais ver a mãe, durante dias e dias inteiros, aos prantos, queixando-se da má sorte.

Acontece que um fato inusitado virou de vez a vida daquelas pessoas ao avesso. Moacir Lellé ganhou 8 milhões de reais num concurso da Megasena.

Com medo que Célia lhe tomasse a metade, por meio duma ação, em trâmite na justiça, ele abriu uma conta em nome da concubina.

Ocorre, meu amigo, minha amiga, e senhoras donas de casa, que a mocinha pensando logo em safar-se, daquela confusão homérica, instalada pela velhota e as três cajazeiras, deu no pé rapidinho, rapando antes, toda a grana depositada na poupança robusta.

Dizem, (não sei se é verdade) que o Moacir, infelizmente, não conseguiu o perdão da esposa. Derrotado na empresa, no lar, e no amor, foi pra rua. Sob má influência da seita maligna do pavão-louco, viciou-se na bebida e a última vez que o viram (coitado) caminhava, impregnado, feito indigente, pela rodovia do Açúcar.

Quando o encontraram e lhe perguntaram o que fazia ali, todo estropiado e desnorteado ele respondeu: "Eu sou gente compreendeu? Gente do verbo humano. Morou?"

As filhas da dona Célia quase foram parar nos consultórios psiquiátricos. Mas por sorte, e boa venturança conseguiram, logo depois de formadas, cargos bem fornidos de aspones, na Prefeitura Municipal de Tupinambica das Linhas. Segundo se depreende, hoje estão todas elas, as doutoras, em vias de obtenção das suas honrosas e dignificantes aposentadorias.

É significativo consignar que depois de formadas, as três pés-de-cana tiveram de aprender, com o fito de se garantirem nos empregos, tudo sobre a incidência da atormentação ao próximo na identificação entre os dígitos numéricos dos relógios, com os numerais correspondentes aos fatos funestos da vida das vitimas. Mas isso, meus amigos, já seria outra história, outros 500.



Fernando Zocca é escritor, advogado e jornalista

Leia também da série Finalmente Tupinambica das Linhas se Ferrou: TARJAS FÚNEBRES, TARJAS FÚNEBRES II, A PACHEQUICE, ABRE TEUS OLHOS, O COLARINHO BRANCO DO JARBAS, ZÉ TAPINHA, JARBAS,O NÓ CEGO
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