DESMORONAMENTO
Fez-se da vida um mistério.
Fez-se na noite o luar.
Um rosto risonho e sério
Numa alma para amar.
A saudade, a esperança,
Os sonhos que há na mente.
A incerteza nos alcança
E nos prende no presente.
Cavalgando estradas longas,
Suspirando a todo instante.
O cansaço as prolonga.
Nosso sofrer é constante.
Nossa dor se multiplica
A cada passo vencido.
O que ocorre não se explica,
Todo esforço está perdido.
Fez-se treva no meu dia.
Foi-se o sol no entardecer,
Me roubando a alegria
E a vontade de viver.
Fez-se a desilusão
Dentro de um peito sofrido,
Esmagando o coração
De um pobre ser consumido.
Sonhos falsos deu-me a vida.
Aspirações do futuro.
Idéias vãs e perdidas
Num alicerce inseguro.
Fez-se silêncio ao redor.
Já não sinto, já não ouço.
Se me perturba estar só,
Me faz mal o alvoroço.
Olho ao longe, o infinito.
Pressinto o mal que me espera.
Vejo em todos, inimigos.
Tudo enfim, me desespera.
Fiz-me discreta e sofri.
Errei, tentando acertar.
O mundo que construí
Quer sobre mim desabar.
As horas passam. Parada,
Vou morrendo e ninguém nota.
Morro só, sofro calada.
Aguardo o fim, a derrota.
Fez-me a vida, irreal.
Abundante em fantasia.
Sofredora sem igual,
Por amar em demasia.
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