Por que sinto tristeza
Quando assim te vejo
E um magoado tormento me arrebata,
Sempre inexplicado, quando,
Mesmo a contragosto, te revejo?
Por que sinto em ti tanta revolta
E em tuas palavras, mesmo evasivas,
Fazes-me sentir eterna criança?
Desconfio já, e sem esperança,
De que nem mais te lembras
Dos momentos simples, ternos
Dos quais ainda guardo, sem o querer,
Da nossa empatia os fluxos eternos...
Ah! Tanto eu quisera
Que esta dúvida cessasse
E em teus sonhos sofridos
Me encontrasse a embalar
Tua tão doce forma de dizer
E de, na maturidade de teu tempo,
Incluir meu amor no renascer...
Mas percebo que navegas n outros mares
E que te deténs n outras vidas de primores
Onde afinal se confinam teus amores
E deixas-me ao relento, tão sozinha...
Aprendeste tanto pelo mundo a vagar
Mas se esqueceram do melhor, eu creio:
De te ensinar o dom de perdoar...
Sorvíamos as brisas no acalanto
De um sentir oculto pela noite,
Mas eis que o vendaval, em triste açoite,
Varreu de nós a ternura e o encanto...
Sei que segues caminhos adversos
E no castigo que mais te dilacera
Pões-me a andar por falsa trilha
Nesta tormenta fria de meus versos
Onde navego num barco sem quilha...
Mas por que aqui estou
A sofrer e analisar inclemente
Algo que não me é dado entender?
Creio que, mazoquista, ando
A tentar chorar contigo, a gemer,
Quando outros, e tantos motivos,
Tenho eu para sorrir e "VIVER"!
Milene Arder
"Sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos..."
(Camões)
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