DELÍRIO AMBULANTE
Aos vinte e poucos anos, que sede eu tinha de viver! Queria tudo ao mesmo tempo. Cinema, teatro, festas, faculdade, praia, sol e mar. Namorar. Estar com os amigos, até trabalhar. Viajar. E também ficar sozinha no meu canto para ler, ouvir música e sonhar...
A vida era um turbilhão. Lá em casa o telefone não parava de tocar. Entrava e saía gente, minhas amigas e amigos dos meus irmãos. Saía também bafafá, sempre por causa do fusquinha, mas a turma era grande, os jovens se amontoavam no Renozinho ou DKW dos vizinhos.O programa mais comum era cinema, depois comer sanduíche em algum lugar. Lanchonete da moda ou em boteco de uma esquina qualquer. Quando ia à festa, eu dançava até quase desabar. Voltava com os pés doloridos e no dia seguinte a ressaca era de matar!
Nas férias, praia o dia inteiro e a noite, para nós sempre criança, se consumia em andanças à beira-mar. Boatinhas meio inocentes, ou rodinhas em torno de um violão. No carnaval a folia só acabava ao raiar do dia, sentados na calçada da padaria, o pão quente saciando a fome de leão.
Com genuína alegria juvenil eu vivia intensamente isso tudo, entretanto ansiava por mais. Sonhava sofregamente em ir mais fundo, e para além da fronteira brasileira abraçar o mundo!
Beatriz Cruz
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