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Cronicas-->Trem para as estrelas -- 13/11/2001 - 22:18 (Odir Ramos da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Trem para as estrelas


O Movimento Artístico Universitário - MAU - reunia músicos, cantores e compositores e fazia seus shows com muito sucesso, principalmente entre o público jovem.
A característica do MAU, além da promissora capacidade artística dos jovens integrantes, era a franca, total e desassombrada oposição ao regime militar. O país, mergulhado nas trevas, vivia os anos 70.
Certa noite, o MAU fora programado para se apresentar no Teatro Arthur Azevedo, em Campo Grande. Ingressos vendidos com antecedência, casa repleta, com gente apinhada pelos corredores da platéia, o grupo - sete rapazes e uma loura - viria numa kombi oficial arranjada juntos aos serviços de transportes do estado. O show começaria às nove.
Às nove e meia a impaciente platéia exigia, nada de chegar o MAU. Às dez e quinze, quando a devolução do dinheiro dos ingressos iria começar, chegou a kombi chapa branca. Apavorado, o MAU vinha com os nervos à flor da pele. Acabara de ser sequestrado o embaixador da Suíça, os órgãos de segurança atribuíam a ação aos opositores do regime. A polícia do Rio montara formidável aparato, fora em peso para as ruas. Não se andava um quilómetro sem esbarrar numa blitz. Logo, os noticiários divulgavam uma pista dos sequestradores - dos subversivos - como então se chamava a quem se opunha à ditadura: eram sete rapazes e uma loura. Igualzinho ao MAU.
Da Zona Sul a Campo Grande os artistas foram parados por dezenas de barreiras policiais. Eram postos para fora da kombi, revistados, ameaçados. Voltavam à condução xingando a ditadura e torcendo para que o outro grupo - o do sequestro - escapasse ao cerco. Escapou. Mas o MAU esbarrou mesmo foi na fúria do motorista da kombi oficial.
O pobre homem era funcionário, nada tinha a ver com sequestros, não entendia de política, nem de MPB, nunca fora a um teatro, nem gostava de shows. Fora escalado de surpresa para dirigir a kombi, estourara seu horário de trabalho, não ganhava hora extra, ainda teria que aguardar até o final do espetáculo. Teria que esperar?
O homem estava furioso, disse que iria embora. Foi.
O show, aplaudidíssimo, acabou por volta da meia-noite, hora em que também já não havia ónibus.
Ofereci minha kombi - já os tinha transportado anteriormente -. Dispensaram. Pediram-me, apenas, que providenciasse transporte para o retorno dos instrumentos, no dia seguinte. Depois de rápida assembléia, concluíram que o único lugar que a polícia não caçaria sequestradores seria nos trens.
Voltaram de trem, como bons operários suburbanos: a loura Lucinha Lins, o namorado Ivan Lins, Luís Gonzaga Junior, Aldir Blanc, Ruy Mauriti, César Costa Filho, todo o MAU.

Odir Ramos da Costa






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