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Contos-->Asas quebradas - terceira parte -- 04/02/2002 - 06:51 (Alexandre da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
VII

Sempre procurei ficar longe daquelas pessoas que visitavam seus parentes nas manhãs de domingo. Sei lá, depois de tudo que passei, aqueles sorrisos, aqueles gestos simples de carinho de pessoas que se amavam, me atormentavam. Me irritavam mesmo. Inveja pura, talvez.
O que mais me irritava ainda eram aquelas senhoras gordas, cabelos engordurados, unhas sujas, que passavam aquelas três horas em contato com seus filhos debilóides, lamentando a falta de sorte.
"Ah, meu filho!!! Como isso foi acontecer???"
Sempre, sempre, a mesma história. Coitados do filhos malucos que vêm parar nesse lixão!! Coitados, o caralho!!! Esse lenga-lenga, como disse, me irritava, dava calafrios e dormiria feliz se enforcasse uma daquelas retardadas que tratavam seus filhos como pobrezinhos e abandonados por Deus. Só quebrar o dedo de uma delas já me deixaria mais aliviado. Eu, sim, tinha sido abandonado. E isso, ninguém notava.
Naquele domingo, um antes dos feriados de fim de ano, o diretor da instituição achou que deveria ser realizada uma grande festa de confraternização. Esse foi o termo ridículo que usou. Cara escroto. Idéia escrota. Reunir pessoas do lado de fora com assassinos perigosos e loucos varridos. Bom, o idiota do diretor achou que isso era possível, sem criar maiores problemas. Lembro que o canalha ainda comentou com um de seus funcionários.
"Os jornais vão adorar!!! Acho que o governador vai até pensar em me promover!!!! Prepare maiores doses de sossega-leão para deixar esses retardados bem mansinhos".
Não sei como eles conseguiram, mas a tal festa foi um sucesso de público. Homens, mulheres, crianças, que nunca haviam visitado seus entes queridos (queridos, o caralho, dementes é mais apropriado), estavam lá. Abraçando, chorando.
"Ohhh, meu filho, por que isso aconteceu contigo???"""
Eu via tudo de longe. Eram assustadoras as caras daquelas crianças. Tinham medo daquelas entidades drogadas, expostas ao mundo como curadas e que deveriam fazer do diretor o benfeitor do ano. Mesmo assim, aquelas infelizes beijavam os rostos sujos de seus parentes, impulsionadas pelas gordas gordurosas.
Em outros tempos, o cheiro do ar me indicava coisas que aconteceriam no futuro. Um poder eu tinha, como o Superman. Naquele dia, o cheiro não era bom. Calmantes, perfumes baratos, frango com farofa, hipocrisia, sensacionalismo, bosta, dor e piedade sem fim.
O ar fedia como há tempos eu não sentia. No meio do burburinho, Adanael puxou Catinha pelo braço com força. Catinha é sua filha. Devia ter seis anos, se tanto. Fiquei sabendo depois que um dos motivos da internação do tal Adanael era que ele molestava a tal menina. Acho que não preciso ser mais explícito. Preciso? A mãe sabia disso mas fazia que não via até que um vizinhos do casal resolveram agir e deram umas boas porradas no palhaço do Adanael. Depois, chamaram a polícia.
Catinha gritou mais uma vez mas ninguém ouviu. Sua mãe, uma retardada que também deveria estar presa, apenas disse calmamente.
"Põe a mão na boca dela senão chama a atenção dos outros".
Adanael ouviu a mulher. Arrastou a filha pelo pátio. Impressionante como ninguém viu, ninguém fez nada. Ninguém, nem eu. Já tenho problemas demais para resolver.
Finalmente, o debilóide do Adanael consumou aquilo que sempre quis. Li num jornal velho, que encontrei no escritório do diretor, que Catinha não havia resistido aos ferimentos. Morreu assim que chegara no hospital.
Fizeram uma porra de uma sindicância que apontou para a demissão do diretor. Afinal, diziam os pomposos argumentos, qualquer pessoa sabia que era muito perigoso realizar tal reunião sem tomar as devidas precauções com segurança. E blábláblá. O diretor se fudeu. Catinha se fudeu. Adanael apanhou tanto naquela noite que fuderam com ele. A estúpida da mãe sumiu do mapa. E os jornais tiveram belas manchetes até outra merda estourar em outro lugar.
E minha irritação naquelas manhãs de domingo só aumentava…
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